segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

O Negrume da noite está de volta

Em meio a um sentimento inexplicável - ou nem tanto - de uma sombriedade beirando a sordidez, não tive como resistir e fiz um retrocesso aos meus pensamentos que há tempos tinha afastado.
Sim, são essas coisas medonhas, noturnas, sorumbáticas, sempre depressivas e tristes que costumavam ser o meu reduto, durante praticamente toda a minha adolescência.
Se eu dormia pouco, eu tava aprontando, se eu dormia muito, tava me drogando...Dentre outras pressões e suspeitas, pensei - e por vezes tentei até - me matar.Mas no último instante pensava com a razão e com o resto de fé que me sobrava que abreviar vidas não é uma tarefa pra um ser humano executar.
Não vou discutir eutanásia, coma induzido, estado de inércia neuro-vegetativo ou qualquer coisa do gênero.Só vim relatar um trecho do meu passado não tão distante assim, pois consegui esticar a mão e os dedos e peguei seu último que brotava em meu peito ainda agora.Não resisti, fui puxando e dele saiu esse desabafo em um poema pra um coração muito - e há muito - abafado, preso, acorrentado.
O motivo ao certo não posso me dizer, só posso contar meus lamentos e meu esforço pra me livrar dos mesmos.
Ao contrário do que possa parecer...Eu simplismente detesto este estado deplorável de miserável da alma, como se os meus sentimentos tivessem sido derramados no esgoto e eu visse ratos corroendo as minhas visceras.
Numa tentativa de abrir minha mente, em um despejo sobre o "papel" escrevi uma forte poesia.
Tão forte que fede a dor, arde e queima como ácido e tem gosto de sangue.
Não apreciem este meu lado negro.Ele pode voltar.
Só posso garantir que não é uma das minhas facetas mais belas ou divertidas.


Navalhas

Aquilo que foge da realidade
Contido nos sonhos alheios guardados dentro da mente
Liberta o horror mantido em prisão por tanto tempo
Pelo medo, uma perda.
Corre selvagem pela brisa perdida no além.

Após o azul do crepúsculo
Sonhar livremente pela última vez
Adiante, uma pedra afiada como navalha.
Faz-me reviver este horror
Na tumba de tapete de ossos quebrados.

Como um coração em tempos jogados,
Envenenados pelas sombras que carregam suas lágrimas
Por tempos e tempos sem parar, em um prelúdio de morte.
Sempre atentos aqueles a quem um dia a navalha cortou.
Envelhecidos talvez por aquilo que mais amavam
Talvez um novato de uma guerra.
Genocídio em guerras santas...

Doce vitória,
Doce vingança,
Doce perda,
Doce chama de uma destruição
Longa data,
Fogo que queima sem arder.

O pranto derramado sobre o túmulo
Daquele que chegou a tocar o infinito
Por um sonho nascido do que jamais teria vida.
O medo estampado no olhar de uma criança
Que um dia perdeu para o ódio.
Ninguém além dela saberá o sentido disso,
Seu coração mais uma vez foi partido.

Nunca achei meu caminho
Na alvorada morta pela esperança
Que um dia abraçou os desejos da fera.

Talvez pela flor que renasce na pedra fria
À luz de uma nova aurora,
Quem sabe pela água do rio sem vida que deságua no mar.
Talvez pelo canto longínquo
Os sonhos pensados pelos prisioneiros dela.

Sem saber os motivos,
Aqueles que correram ilógicos
Sentem aquilo que foi perdido.
O veneno que escorre pelas línguas bifurcadas
Revela a caça e o caçador.

Quando a luz dentro da esfera brilhar,
Insanidade em seu interior,
Mostrará as cicatrizes escondidas
Decaindo eternamente
A roleta da sorte girará outra vez
Mostrando aquilo que está por vir.

Numa vida, eu sei.
Sentindo liberdade em devaneios.
Dance comigo
E entenderá o sentido disto!

sábado, 27 de dezembro de 2008

Todos somos Fênix.

Melhor do que qualquer reflexão de final de ano são os planos pro ano seguinte.

A gente fica reconhendo os cacos do que já quebrou, tentando consertar as coisas que quebraram, procurando falhas, erros, arrependimentos que só pesam a nossa bagagem de memórias e não adiantam de nada pra melhorar a gente.

Legal é fazer planos...Mesmo que sejam vazios, ou distantes, ou aqueles que sabemos que dificilmente cumpriremos.Todo tipo de plano nos permite sonhar, imaginar uma situação, nos faz ficar mais leves.

Não estou cogitando a hipótese de se viver em ilusão, fazendo planos em cima de planos, prometendo promessas impossíveis que jamais se cumprirão.Mas é gostoso, divertido e até certo ponto estimulante ter um desejo de mudança, querer trabalhar por aquilo, pelo menos um dos enúmeros planos que temos em mente.

Bom mesmo é o sentimento de busca.Seja como for.É essa busca incessante que nos faz rumar ao progresso, tanto pessoal quanto profissional, afetivo, espiritual, etc...Essa sensação de que existe algo a ser feito é tão boa quanto a sensação de crescimento que acaba se apossando da gente quando chega o final de ano.

É o momento de retrospectivas sim, mas só se forem de coisas boas.
Digo e repito, catar cacos nunca fez ninguém melhor e não é agora que vai fazer.
Não, não estou querendo dar uma de autora de livro de auto-ajuda.

Minhas expectativas pro ano de 2009 são pocas, na verdade.Se as coisas continuarem como estão vai ser bom, mas sei que preciso fazer alguns reparos, aparar algumas arestas.
Afinal, não existe ser humano que seja estático.Tudo muda, tudo se transforma, a vida é repleta de ciclos e metamorfoses, não tem porquê imaginar que vai ser tudo um inferno sempre ou um mar de rosas sem horizonte pra seguir.

Odeio a perfeição.Perfeito vem do grego, onde o prefixo "per" significa terminado e "feito" todos sabemos o que significa.
Agora me digam qual é a graça de uma coisa que já está feita, terminada, acabada, algo que não precisa mais de mudanças é inútil pro ser humano.
O que nos movimenta, nos faz viver e querer continuar nessa montanha russa de situações, emoções e sensações é justamente a busca.Essa eterna busca, estúpida ou não, pela felicidade plena.
Se o ser humano fosse feliz como ele tanto quer, se tivesse tudo que ele precisa ter e que ele quer ter, seria perfeito, certo?
E por isso mesmo seria um saco.Uma droga de vida, sem objetivos, sem sonhos, sem pretenções, sem expectativas.
Eu não saberia viver assim, e acredito que nenhum de nós.
Iríamos aproveitar poquíssimo da nossa própria felicidade, que logo daria lugar a uma trsiteza e angústia profundas, por não ter - literalmente - nada pra se fazer na vida ou da vida.
Viver é muito mais do que isso.
Viver é mais do que esperar acontecer.Isso é vegetar.
Pra viver - e aprender a viver - tem que cair, se machucar, quase morrer, esperar um tempo, ficar "out" ou hibernar mesmo pras pessoas, pros sentimentos, até passar o dolorido e então renascer de novo.
Todos somos Fênix, todos somos Ursos.

Por isso defendo os planos.
Vamos fazer planos, gente!Escrevamos uma lista com 10 itens pelo menos pro ano novo que se aproxima e tentemos realizar uma coisa, umazinha só, dessa lista.

E vocês se perguntam...E se não der?
Concerteza ao final de um ano, nem que seja uma coisinha pequena, aparentemente insignificante, teremos construído ou modificado.
A cada ano amadurescemos mais, e isso já é bom, pra início de conversa.
É como diz uma amiga minha, Claudinha: "Eu vou ser uma pessoa melhor."
Eu já zoei muito ela pela frase, mas no fundo ela está certa.O mínimo de esforço que se faz pra atingir qualquer coisa, que seja passar direto nas matérias da faculdade ou permanecer no emprego sem deixar acumular trabalho, passar no vestibular, comprar alguma coisa que precise, encontrar alguém especial, tudo isso e qualquer coisa dentre esses itens nos faz um "up grade", sem que percebamos.

Bem, agora vou fazer minha lista.
Se me derem licença...

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

À Lara...Laríssima.

E, prestando homenagens, novamente, estou eu aqui, dedicando meus próximos devaneios - sim, porque são apenas tentativas de poesia, assim como eu sou tentativa de poeta - a uma pessoa unicamente especial pra mim: Lara.
Que me chegaste como quem chega do nada, que me cativaste como quem quer se isolar, que me tornaste amiga como quem quer ser só solidão...e assim foi que eu me apaixonei a segunda vista, porque a minha primeira impressão foi a mais distante, respeitosa e esquisita: "Ó...A filha do Danton!"
E como as saudades eram muitas e de tanto me incomodarem...Vim por impulso lhe escrever uma coisinha.Não é ouro, nem prata, mas são versos simples, que saíram de uma vez só, sem maiores esforços ou trabalhos com a chata da métrica.Valem um abraço e um beijo na testa e outro no pulso.
E assim, nessa meiguice humilde, espero que deleite-se com o poemeco que te fiz.
Não é qualquer um que tem um desses não, viu?

“Os olhos que te observam ao longe choram porque ouvem o teu silêncio ao tocar a tua ausência.” - Tati Soares.

Azularazul

Sinto em ter que ir agora
Mas assim me ordenaram os olhos
O corpo se recusa a obedecer, eu sei...
E aqueles diálogos de perder se acham
Nas minhas memórias tão esquisitas
Tão distantes
Uns verdadeiros, outros que nunca aconteceram,
E alguns mais que foram cuidadosamente modificados
E assim vou viajando, tentando reconstituir cada pergunta
Uma mais embaraçosa do que a outra,
Como no poema:
- E você? Por que desvia o olhar?
- ... (Porque eu tenho medo de altura. Tenho medo de cair para dentro de você. Há nos seus olhos castanhos certos desenhos que me lembram montanhas, cordilheiras vistas do alto, em miniatura. Então, eu desvio os meus olhos para amarrá-los em qualquer pedra no chão e me salvar do amor. Mas, hoje, não encontraram pedra. Encontraram flor. E eu me agarrei às pétalas o mais que pude, sem sequer perceber que estava plantada num desses abismos, dentro dos seus olhos)...
- Ah, porque sou tímida.

E foram nessas conversas,
Absorvendo as palavras com aroma de jasmim
Que saíam de uma boca de lábios fortes e voluptuosos,
Que descobri a razão de escrever
E reescrever
E re-reescrever...
Até achei que ia cansar disso um dia
Mas o pensamento se cansou de cansar.
Descobri no seu cabelo assimétrico
Um balanço manso de ventar gostoso
Todas as vezes que sentia mexer perto do meu rosto.
E nas ruas roupas pretas com detalhes de metal
Um cadeado ao peito que não tinha chave
Um convite implícito a tentar a sorte.
E depois de alguns meses – os primeiros
As máscaras caem...
E as suas perguntas continuaram, me torturando e me instigando
Naquele mundo limitado, que tinha hora pra nossa despedida
E era pra mim o paraíso poder sentir o som da sua voz.

Nasceu a Musa...
Aquela que não deu pra recusar
Nem evitar de chegar perto
Aquela que tentou os olhares, e eu piscava
Tentou as mãos, e eu apertava
Tentou o beijo, e eu...fugi.
Acovardada...
A última chance,
A única desperdiçada.

Veio a distância e eu aprendi a olhar o céu
Aprendi a mergulhar no azul
A admirar os tons tristes de cinza
A me apaixonar pelos tons rosados
E a desejar os tons negros da noite.
Mas o meu favorito mesmo era o Azul...
O simples Azul...
O Azul do Céu, do Mar, das Lembranças.
A brisa e os cabelos que eu queria ver balançar
O ar que eu queria respirar
No tom que eu queria ver:
Azularazul.

Só por isso és muito.
Muito Musa,
Muito bela,
Muito poesia,
Muito música,
Muito Lara...Laríssima!

Mas, mesmo com o muito nesse tanto...
Tudo é nada se não tiver nele pintado
Aquela cor que eu queria ver
E que secasse com o ar
Que eu queria respirar:

AZULARAZUL.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Gracinhas e Romancismos

Na falta de melhores palavras que pudessem talvez representar, por um instante, a saudade que sinto e o momento amável e intenso pelo qual vejo-me agora, nada melhor do que um poema.
Mas sinto-me no dever de lembrar a todos os que possam ler essas poucas e não tão boas palavras jogadas descompromissadamente nesta tela que eu não sou poeta não...Não há nada nesta composição além de suspiros e soluços do meu tão velado coração.Não passei dias trabalhando nessa construção, nem me preocupei em contruir figuras de linguagem, nem com assonâncias ou dissonâncias, não liguei pro jogo de palavras até mesmo porque acredito que elas que me jogam.É, como já disse, um desabafo.
Concordo que possa servir como declaração, mas quanto a esta interpretação, deixo-a aos cuidados da dona do poema e das tão atrapalhadas confissões desta malabarista de palavras, que tenta equilibrar todas elas em linhas, e ainda com a audácia de fazer alguma graça com as homófonas ou as homógrafas, gêmeas quase inconfundíveis.
Sou apenas um sujeito que espera ter todos os predicados necessários para que ela faça de mim seu objeto, direto, indireto, pra mim tanto faz, mas eu aposto que o aposto sopra em seu ouvido o oposto do que meu coração pulsa.Só queria estar perto, acompanhar o seu núcleo, bem adjunto, seja nominal, seja verbal, contudo, garanto que serei transitiva e bem direta quando me referir à crase que vem antes do substantivo feminino que a define quase adjetivando. Um dia, quem sabe, sua regência não mude e me permita ser seu complemento nominal?
Amo-te, Princesa.
Compromisso

Queria ser tudo o que te completa,
O que te faz falta,
O que te faz sentir viva.

Queria ter tudo que você precisa,
Tudo o que você deseja,
Tudo o que você sonha.

Queria ser do tamanho da sua imaginação,
Queria poder pintar o céu da cor dos seus olhos,
Queria poder te oferecer as nuvens pra você fazer de travesseiro.

Queria poder te dar as águas dos rios pra você se banhar,
Queria poder substituir as suas lágrimas por gotas de chuva
E qualquer sofrimento seu por raios e trovões.

Queria colocar o sol dentro do seu sorriso,
Queria colocar a paz dentro do seu abraço,
Queria fazer se cada dia um infinito prazer.

Queria fazer da sua vida um Universo,
Só pra eu ficar girando na sua órbita.
Queria poder te fazer lua,
Pra inspirar tantos poetas, sonhadores, amantes...

Queria poder te consagrar uma Deusa
Com os poderes de me fazer de capacho,
Mandar e desmandar,
Criar, destruir e recriar.

Mas...a única coisa que eu posso te oferecer é o meu amor.
Meus braços, meu carinho, meus olhos
E um pedido: casas comigo?

domingo, 7 de dezembro de 2008

Ensaios da Loucura

Como boa Arlequina que sou, jamais me permitiria tal devaneio de deixar de lado as discussões que me fazem ser aquilo que sou, ou que aparento ser: louca!
Porém, cabe a mim entremear os limiares da loucura e da sanidade humanas.
Para que melhor possa ser observado o meu jeito de viver - e que fiquei bem claro que trata-se de uma escolha que transformou-se em condição, e não vice-versa - lanço aqui alguns poucos e pobres pensamentos rápidos que dão forma à minha tão humilde condição de loucura escolhida a partir de células coloridas de DNA mal transcrito e tópicos frasais mal selecionados.
Bem-vindos à minha mente insana!!
  • Se a vida fosse um livro, não teria índice e nem páginas contadas.Você poderia queimá-lo, rasgá-lo, danificá-lo como bem entendesse.Isso faz sentido?Provavelmente as pessoas temem a morte, um acidente, doenças, os sado-mazoquistas...O que é o medo?Só uma repulsa ou há algo mais além disso?O pânico é o medo elevado.Como se pode dimensionar isso?As pessoas temem perder o que acham que sempre tiveram: memórias, consciência.Existem, no mínimo, três de você aí dentro e ainda consegue acreditar que é consciente?Aquilo que você considera ser sua vontade...não é.Nunca foi.Ou são instintos, como fome, sede e sexo; ou são impressões externas, como comprar, trabalhar e estudar.Ninguém disse que todos devem seguir esse modelo.Por que você segue?Tem medo de romper com a sociedade, certo.Mas romper o que?O que te prende a um bando de pessoas que não te conhecem e não fazem idéia que você existe?Tradições são legais, mas não é necessário seguí-las.Você tem medo do que pode se tornar para os outros ou para você?
  • Liderança é a loucura dos sãos ou a Loucura é a sanidade dos líderes?A mentira incomoda e a verdade dói, isso faz da dúvida um privilégio.Orgulhe-se da não-certeza dos fatos.Somente os ébrios conseguem admirar, bela e simplismente, a graça e a loucura de ser sóbrio.Você tem certeza que é você?Tem certeza de que isso é real?Pode provar?Lembre-se: a dádiva da dúvida.Será que Capitu traiu Bentinho ou Bentinho é apenas um ciumento possessivo?Se não entendes o que eu digo, leia Dom Casmurro, de Machado de Assis.É um grande Tratado da Dúvida.
  • A Loucura é uma fuga da realidade ou a Realidade é a degeneração da loucura? Se a loucura parece insanidade desregrada, realidade é uma seqüência de fatos cotidianos e rotineiros que acabam sem função.Porque temos que nos convencionar a fazer o que a maioria acha aceitável? E o que seria aceitável? Existe linha divisória entre o certo e errado? E o que define isso é bom senso, moral ou ética? Como se pode afirmar que estamos saindo dos padrões? Quem impõs esses padrões e por que eu sou obrigada a seguir? A VERDADE VEM DE DENTRO PRA FORA OU DE FORA PRA DENTRO? Não sei, mas em cada um de nós existe uma resposta diferente pra cada pergunta...Respire fundo, tome coragem, e pergunte a si mesmo...Vá em frente e sinta-se livre, ou melhor, liberte-se!
  • A loucura prende o indivíduo por deixá-lo afastado do convívio social, ou liberta o indivíduo para uma visão que só ele pode ter e/ou enxergar? Os "loucos" têm culpa de querer passar adiante aquilo que só a eles compete? Claro que não...É como ler jornal e comentar no trabalho. O universo cabe em nossas cabeças, nós humanos já somos complexos por excelência, e diante de toda essa vastidão de conhecimentos, comportamentos, pensamentos, como se pode afirmar que alguém tem "problemas mentais" a ponto de sair da realidade? Será que ninguém percebe que a realidade é aquilo que cada um vê? Se eu achar que o vermelho é amarelo, convencer toda a minha cidade, e assim por diante, todos também vão achar que vermelho é amarelo.E louco será aquele que disser o contrário. Loucura é acreditar nos fluxos. Sou louca sim, mas porque esse mundo não merece minha sanidade.

sábado, 29 de novembro de 2008

Homenagem à Carioquice!

Samba do Alívio – Tati Soares


Se o samba não sambasse com meu coração,
Não saberia como tocar meu pandeiro
E afastar dos meus ombros a minha triste solidão.
O cavaquinho dá o compasso
E desafia o banjo a ser tão atrevido quanto ele.
A cuíca geme a minha dor
Que no peito trago, tão mal guardada.
O choro mal começa e já emociona
O meu tão transtornado tan tan
Que bate, bate, mas não cala
O bumbo grave que insiste
Em me lembrar das batidas
Mal marcadas do meu peito.
O surdo de minha dor se compadece
Pára e escuta com atenção
Cada lágrima que cai de pesar
Pela falta que me faz sobrar
E que já não se cabe dentro de mim.
O vazio que se estende
Pelo infinito dos meus amores passarinheiros
Que crescem, criam asas e voam pra outros ninhos.

O tamborim me chama pra roda de samba
E o repique me repreende a cada lamento.
Mas não é samba de roda que quero cantar...
Não é samba pras moças se apressarem a dançar
É samba pra uma moça só.
Aquela que não quis sentir o abandono
Nos seus passos.
Aquela que não quis tocar o meu amor com as mãos
Mas com os pés.
Uma mulher que não teve olhos
Pra encarar os meus, vermelhos e cansados
De todo esse choro,
De todas essas notas,
De toda essa desilusão...
E o que me resta desta tão dolorosa separação
É sentar no bar,
Procurar no fundo do copo
O motivo do meu soluçar
E a rainha do meu desamor.
A musa do meu carnaval,
A harmonia da minha canção,
A veludez da minha voz,
Foi embora e calou meu violão.

Mas um dia o poeta vai de novo amar
E toda a bateria vai cadenciar na nova batida
Do meu mais novo samba de alívio
Que vai ecoar em toda Madureira e Lapa
A beleza e amplitude do verbo amar.
E o sol vai raiar, com toda certeza
Quando os companheiros estiverem na mesa
Toda a alegria regada em boa cerveja
E a melodia que pulsar em nossas veias
For uma declaração de amor
À nossa jóia rara:
A boemia na noite carioca.
E todos os sorrisos vão ressoar
Um uníssono de felicidade
E a dor vai entrar em desalinho
Com a voracidade veloz da paixão
Desse meu coração vagabundo
Desesperado por carinho
Que só se alimenta disso:

Boemia, malandragem, tristeza e canção.

sábado, 1 de novembro de 2008

Boemia...

Bamba

Ah, essa vida vadia que levo...
Levo aparências que não posso perder
Mil máscaras que quis usar
Fantasias pra sobreviver
E aprender que viver
É muito menos do que aquilo que se reclama
E que as pessoas que nos rodeiam
São muito mais do que aquilo que vemos...
Ou esperamos.

Meu coração vagabundo
Que tenta amores impossíveis
Desbrava e inventa contos de fada
Compõe e descompõe musas intocáveis
Que se extasia em ver desabrochar flores e amores
Que se arrasta aos cacos e prantos
Até o próximo amor
Com trilhas sonoras que jamais serão usadas
E faz cada novo amor parecer o último
E talvez, com sorte, o único.
Até chegar outro...
Esperando não chegar.

Uma vida de sonhos, paixões...
Sorrisos e decepções
Que só se descobrem
Quando se espera aquilo que não deveria
De algumas estruturas com falsos alicerces.

E assim se esvai a vida
A cada dia menos expectativa
E a cada sonho um novo mundo
Pronto pra ser desvendado
E revelado
Pra se descobrir que os sonhos que se tem
Não são um mundo que construído
E que se quer atingir
E sim aquilo que está tão perto
Que tropeçamos sem querer enxergar
Na correria pra alcançar
Algo que já se tem.

O tempo é sábio
Como dizem por aí
Mas só se entende essa frase
Quando se tem tempo demais na vida
Ou dor demais
Pra se repetir isso aos quatro ventos.
Mas ninguém acredita.

Meu coração
Mal vivido, mal trapilho, maltratado,
Mal visto e malandro
Com amores acorda
Com amores dorme
E mais amores cria em sonho
Me faz vagar entre caminhos cegos
E saltar de ilusões em ilusões
Só pra sentir o gosto
De mais outra desilusão.

Meu vagabundo coração
Que é criança
Por querer brincar comigo,
Com a vida que passa
E muitas vezes repassa
Em seu redor.

Meu vagabundo coração
Que bêbado caminha
Trôpego e soluçante
Passo a passo
E perde o passo
Mas nunca o compasso
Da boa e velha
Cadência de um samba.

sábado, 25 de outubro de 2008

Homenagem à Pablo Neruda

Navegando na Internet, encontrei com um poema incrível de um escritor igualmente grandioso e incrível.

Lembrei de Pablo Neruda, ou Ricardo Eliecer Neftalí Reyes Basoalto, poeta chileno.Seu pseudônimo foi escolhido para homenagear o poeta tcheco Jan Neruda. Sua obra é lírica, plena de emoção e marcada por um acentuado humanismo. Em seu livro de estréia, com apenas 20 anos, Crepusculário (1923), já se assinou Pablo Neruda que, em 1946, passou a usar legalmente. Sua fama tornou-se maior com a publicação de vinte poemas de amor e uma canção desesperada (1924).

Alternando a vida literária com a diplomática, Pablo Neruda era o embaixador chileno na França quando ocorreu o golpe de Estado que depôs o presidente Salvador Allende. De volta ao Chile, sofreu perseguições políticas e morreu pouco depois, sendo enterrado em sua casa de Isla Negra, ao sul do Chile. Em sua obra destacam-se Residência na Terra (1933), España en el corazón (1937, inspirado na Guerra Civil Espanhola), Canto Geral (1950), Cem sonetos de amor (1959), Memorial de Isla Negra (1964), A espada incendiada (1970) e a autobiografia póstuma, Confesso que vivi (1974), um emocionante testemunho do tempo e das emoções de uma grande poeta.

Em 1971, Neruda recebeu o Prêmio Nobel de Literatura e o Prêmio Lênin da Paz. Antes havia sido agraciado com o Prêmio Nacional de Literatura (1945). Morre em 1973.

E, para homenagear este escritor de talento e personalidades tão marcantes - históricas, na verdade - deixo aqui um dos seus poemas favoritos para que todos possam sentir-se igualmente agraciados com sua plenitude e impressionante precisão literária.

É Proibido

É proibido chorar sem aprender,
Levantar-se um dia sem saber o que fazer
Ter medo de suas lembranças.

É proibido não rir dos problemas
Não lutar pelo que se quer,
Abandonar tudo por medo,
Não transformar sonhos em realidade.

É proibido não demonstrar amor
Fazer com que alguém pague por tuas dúvidas e mau-humor.
É proibido deixar os amigos
Não tentar compreender o que viveram juntos
Chamá-los somente quando necessita deles.

É proibido não ser você mesmo diante das pessoas,
Fingir que elas não te importam,
Ser gentil só para que se lembrem de você,
Esquecer aqueles que gostam de você.

É proibido não fazer as coisas por si mesmo,
Não crer em Deus e fazer seu destino,
Ter medo da vida e de seus compromissos,
Não viver cada dia como se fosse um último suspiro.

É proibido sentir saudades de alguém sem se alegrar,
Esquecer seus olhos, seu sorriso, só porque seus caminhos sedesencontraram,
Esquecer seu passado e pagá-lo com seu presente.

É proibido não tentar compreender as pessoas,
Pensar que as vidas deles valem mais que a sua,
Não saber que cada um tem seu caminho e sua sorte.
É proibido não criar sua história,
Deixar de dar graças a Deus por sua vida,
Não ter um momento para quem necessita de você,
Não compreender que o que a vida te dá, também te tira.

É proibido não buscar a felicidade,
Não viver sua vida com uma atitude positiva,
Não pensar que podemos ser melhores,
Não sentir que sem você este mundo não seria igual.

Pablo Neruda

domingo, 19 de outubro de 2008

VIVA LA BOSSA!!!

TODA BOSSA - Tati Soares

Bossa nova e novamente solitária.
Solidária com a solidão.
Só você pra me curar dessa tristeza,
Pra me salvar do amargo do meu coração,
Pra revitalizar meu cansaço,
Pra por um fim nessa invenção.

Bossa atual, bossa arrojada.
Perdida pelo horizonte,
Sempre querendo chegar
E nunca vendo muito do monte
Que as curvas dos teus olhares
Remontam, só por remontar.

Bossa velha, esquecida.
Na memória grava um último suspiro,
Lamentoso e frio,
Como a mulher que em si encontra seu retiro,
E em si se perde sem o encontrar.
Passa o tempo, perde o brio
E o brilho, que jamais esteve em seu olhar.

Bossa anacrônica, atemporal.
Pertence a todos e a tempo algum.
Um sorriso solto, dois corpos ao léu.
É o bailado do samba, o cheiro desse Carnaval,
A mulher que os veste em seu corpo, como véu
E, sendo de noiva, ter um fruto tão incomum.

Bossa minha, Bossa sua, Bossa nossa...
Ah, Santa Bossa!

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Amizades são jóias preciosas

Depois de muito tempo, amores perdidos, corações partidos, muitos risos, comemorações, algumas lágrimas e brigas (nossas e de fora), o único que ainda consegue ter disposição pra me acompanhar nessa minha estrada sinuosa e tão cheia de percausos parece ser o Yann.
Um menino que conheci, sem a pretensão de ser amiga, só querendo ajudá-lo a sair de uma fase muito negra, onde a luz no final do túnel parecia não haver mais.Este mesmo menino hoje se tornou o meu amigo inseparável.
Deixou que eu entrasse na vida dele, coisa que na época em que o conheci parecia impossível pra qualquer ser humano que ainda respirase sob a face da Terra.Depositou uma confiança em mim que nem mesmo meus familiares se atreveriam a depositar.Se mostrou sempre carinhoso, compreensivo, complascente, afetuoso, sem nem mesmo porisso deixar de ser enérgico e me dar uns puxõeszinhos de orelha quando necessário.
Um pessoa repleta de luz, por dentro e por fora.
Um cara muito especial que sempre me ajudou muito, só me ouvindo, me dando um simples abraço, me dando conselhos ou financeiramente.
Nada que eu faça pode retribuir tudo aquilo que ele aturou, atura e vai aturar de mim nessa vida.Acho q vou ter que voltar umas 5 vezes só pra "quitar" minha dívida imensa de gratidão com esse cara.
Ele me ensinou muitas coisas, e ainda tem muitas outras pra me ensinar.Ele me conhece só pelo olhar ou pelo meu tom de voz, consegue ler minha alma como ninguém talvez conseguiria.E diante desses fatos eu só posso me considerar uma mulher de sorte por ter uma pessoa tão amável na minha vida.
Meu amor por ele é infinito.Passem dias, meses, anos, décadas, séculos, milênios...Ele será sempre o meu amigo, meu eterno Pinguim.Sempre terá espaço pra ele em minha vida tão confusa e em meu coração tão bagunçado.
Yann é uma pessoa maravilhosa, que soube me respeitar em todas a vírgulas e pontos de nossas discussões e diálogos que pareciam não ter mais fim.Ele sabe o quanto essa palavra tem significado na minha vida.E além de me respeitar, me aceita como eu sou, com todos os prós e contras, defeitos e qualidades, sem nunca reclamar.
Nos divertimos horrores juntos, e choramos a cada despedida, mas sempre com a certeza de que ele sempre vai estar ao meu lado, assim como eu estarei ao lado dele, custe o que custar, esteja onde estiver.
Não tenho receio de dizer que eu o amo, nem preciso pensar muito e avaliar o que sinto, porque duas almas quando se encontram dessa forma, não pode ser por acaso.Ele é meu anjo da guarda, meu "tudinho", e eu não tenho palavras pra expressar o que é a nossa amizade.
Vivemos uma vida inteira juntos, e jamais nos separamos, por pior que fosse a situação.Tivemos um momento de êxtase total quando eu descobri que tinha passado nos vestibulares que prestei, mas depois tivemos que encarar a separação forçada na minha vinda pra Nova Friburgo.E nem assim nem sequer pensamos em nos separar.Deu um medo enorme de isso ter que acontecer, nos sentimos mal, inseguros, mas conseguimos superar até essa falta de contato e essa distância infernal da Serra.
Atualmente, quando páro e penso em tudo que já aconteceu com a gente, percebo claramente que a nossa amizade cresce e se fortalece cada dia mais, e isso nem o tempo pode apagar.
Só pra reforçar mais uma vez: YANN, EU TE AMO.

E, como uma mostra de carinho, um poeminha pra você:


Yann

Se seus olhos claros
Podem ver através da minha máscara
Devo isso à perfeita completude
Que sua alma trás à minha.

Se teu sorriso
Pode alimentar minha alma
É porque contigo caminho
Passo a passo, no mesmo passo.

E passa o tempo...
Passatempo darmos as mãos
E olhar aquele lindo pôr-do-sol
Que se estende a nossa frente.

E passa tudo,
Mas não passam as lembranças
E os sonhos, tão presentes
Que, por certeza e sorte, não se acabarão.

Fazer nada, queimar as horas,
Dormir sentado, esperar, atrasar,
Brigar, teimar, pedir desculpas,
Distanciar, chorar, saudades...

Um abraço com um calor diferente
Que aquece a minha vida.
Ouvidos tão cansados e tão atentos
Pra qualquer arranhão nos meus sentimentos.

Uma pessoa inigualável,
Um amigo, em toda sua extensão.
Um anjo que me vela
E preenche minha tão eterna solidão.

domingo, 27 de julho de 2008

UM POEMA E ALGUMAS PALAVRAS


Na verdade fiz uma adaptação de uma música onde a poesia me comoveu, e automaticamente me remete à você, minha amada, minha menina: Letícia.





Alma Gêmea



São teus lábios
Se abrem e se alegram em sorrisos
Faz parte das manhãs mais coloridas
A musa que me inspira a sonhar.


Minha flor,
Desabrocha e perfuma o meu viver
Com aromas impossíveis de esquecer
Me desperta o sonho, faz imaginar.


Meu amor,
Que transforma o mundo inteiro em um jardim
Que me faz acreditar que é pra mim
Que a lua se derrama pelo mar.


Minha flor,
Não consigo mais me ver sem ter você
Definharia pouco a pouco até morrer
Na sua ausência, bem melhor nem acordar.


São teus planos
Que movem céus e terras, o infinito
Faz das dificuldades aventuras
E me dão forças até para voar.


Meu amor,
Que anda sem se importar com os que virão
Com a segurança presa em minha mão
Com esses passos que nos levam ao altar.


Meu amor,
Que me acorda e me vela ao dormir
Que me abraça e motiva a sorrir
E provoca arrepios pelo seu tocar.


Meu amor,
Se às noites me conduz até o torpor
Com seu corpo, onde encontro meu calor
É a certeza de onde fica meu lugar.

São teus olhos
A luz de mil estrelas são teus olhos.
Você que acendeu a minha vida.
Não deixe nunca o brilho se apagar.


Minha flor,
Nossas vidas se completam por si só
E o Destino as enlaça em um nó
Tão unidas, jamais vão se separar.


Meu amor,
Eu sabia antes de te conhecer
Que meus sonhos me guardavam pra você
Esperando a hora de te encontrar.


Meu amor,
No silêncio dos teus braços eu já sei
Que no teu abraço eu já encontrei
O lugar perfeito pro amor viver.


E, para complementar a minha declaração de amor, algumas coisas muito importantes:


Como a única dona do meu amor, é obviamente uma mulher incrivelmente especial pra mim.
E desde que estivemos juntas pela primeira vez, senti que era você que guardava a minha felicidade, que eu tanto procurei e em tanta gente, sem sucesso algum.
E agora, mais do que nunca, é importante que tenha dimensão do tamanho do meu imensurável amor.
E, talvez seja por isso que eu gostaria de dizer, publicamente, algumas palavras...


Prometo ser fiel, amar e respeitar; na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza, até que a morte nos separe. Prometo ter olhos e ouvidos bem abertos pra você em tempo integral. Prometo ser compreensiva, na medida do possível (e algumas vezes impossível também). E também prometo ouví-la e prestar atenção em cada palavra, mesmo que esteja em silêncio. Prometo respeitar a sua individualidade, quando quiser ficar sozinha. Prometo cuidar de você sempre que você deixar. Prometo me deitar ao seu lado todos os dias e continuar admirando sua beleza, mesmo quando você estiver bem velhinha. Prometo dizer todos os dias o que eu sinto por você, pra que você em hipótese alguma se esqueça. Prometo que após cada briga haverá uma reconciliação e um recomeço. Prometo tentar fazer a convivência não ser tediosa. E prometo tentar fazer você a mulher mais feliz do mundo, e se eu falhar, prometo tentar novamente, incansavelmente, até conseguir.



EU TE AMO.



Aceita se casar comigo?

sábado, 26 de julho de 2008

ISSO SE CHAMA SOLIDÃO.

Quando se chega a ponto de passar um dia como uma “couch potato”, mas sentada de frente a um laptop, é de fato uma hora bem apropriada pra se começar a pensar nessa tão temida palavra.
Uma vez ouvi que a vida não é o quanto você respira, mas os momentos que te fazem perder o fôlego. E, pensando nestas palavras meigas, mas neste momento duras, e nem por isso menos verdadeiras, olhei pra mim. Tentei imaginar o que exatamente eu estou fazendo com a minha vida. E o pior de todas as alternativas que me vieram à cabeça, nenhuma delas pareceu tão ridícula quanto chegar a conclusão de não saber.

Não é apenas não saber o que eu faço morando em um lugar tão irritantemente frio, com falsos ares de uma repugnante herança européia. Afinal a resposta é óbvia: eu faço faculdade aqui. E o motivo por eu ter optado por essa faculdade nesse lugar também é óbvio: queria uma independência, mesmo que fosse pela metade, com alguma dose de liberdade, como uma enorme margueritta – onde eu planejava me embriagar. Acontece que assim como a margueritta, o leve gosto açucarado da independência na borda da taça onde eu tomei a minha liberdade me trouxe uma perigosa azeitona que quase me engasgou, chamada responsabilidade. Depois de tomar o fatídico drink, pude sentir o amargo gosto da maturidade, até então desconhecido.
São dois pesos que agora eu carrego, mas não posso negar minha satisfação...
O maior dilema, e o mais idiota também, seria este mesmo: o de ter tudo como eu antes imaginava, como se eu tivesse atingido meus objetivos a médio prazo, mas me sentindo nesse vazio existencial enorme.

No início me sentia uma verdadeira heroína, porque consegui assolar a desconfiança e a falta de credibilidade que toda uma torcida depositava em mim. Provei o que eu não gostaria de ter provado, na verdade, e pude provar o gosto inigualavelmente marcante de uma vingancinha. Muito particular e interna, mas ainda sim uma vingança tola.
Antes eu tivesse esperado um pouco mais. Parece que o Círculo Polar Ártico sofre um desvio e passa bem no meio desse lugar. Sem falar da falta de amigos, falta de dinheiro, falta de vontade de levantar, falta de ânimo, no geral. Tanto de dentro pra fora quanto de fora pra dentro.

Antes eu tinha momentos que me tiravam o fôlego... E até demais, diga-se de passagem. Mas apesar de todas as brigas e confusões, eu tinha amigos – todos loucos, tinha também alegria, ânimo, podia sentir o prazer e o calor abafado da minha cidade, a CIDADE MAIS MARAVILHOSA DO MUNDO INTEIRO.
Me lembro que uma vez eu ouvi de um professor meu, Álvaro, que a gente só cresce, evolui, quando sai da zona de conforto. Ou seja, pra toda evolução há uma dor, um sentimento de incômodo, geralmente proporcional ao grau de crescimento.
No momento, sinto que estou crescendo porque sinto um incômodo constante, uma angústia e uma melancolia constantes. Mas também sinto um sentimento repleto de vazios e faltas de significado. E não sei ao certo o que isso significa.
A única coisa que posso presumir que seja é solidão. A velha solidão, a cruel, a rude, atroz, ríspida e brutal sensação de vazio existencial. Aquele ponto da estrada onde você se dá conta de que está em meio a um deserto e que tudo que você precisava está a quilômetros de distância de qualquer um dos seus sonhos mais gigantes.
E é assim que tenho passado meus dias.

Como se antes eu não enxergasse corretamente o que me cercava, os tipos de pessoas que andam comigo, os lugares aonde vou, as coisas que eu faço, as coisas que eu gosto e as que eu detesto. Parece que eu finalmente vejo as coisas turvas, como se só agora eu percebesse o tamanho da minha embriaguez.


E, como todo bêbado que se preza, acabei assim: sozinha.

domingo, 6 de julho de 2008

A VIAGEM - AVENTURA EM BUSCA DA FELICIDADE.

Dia 19/06, Quinta-Feira - Vassouras

Saí de Nova Friburgo lá pelas 16:00, feliz da vida.
Peguei o ônibus e fui em direção ao Rio de Janeiro, a minha Cidade Maravilhosa, e por um instante - um breve instante - me deu uma vontade louca de ficar por lá mesmo.Que culpa eu tenho de ser completamente APAIXONADA pelo Rio?
Mas não podia me esquecer de onde e por que estava indo: Vassouras.
Chegando na rodoviária, ainda de branco (roupa da faculdade), fui correndo comprar a passagem pro meu segundo ônibus, do Rio pra Vassouras, e dei uma sorte danada de achar horário próximo.Peguei a última poltrona disponível do ônibus, número 24.
A viagem até que foi boa, tirando o fato de eu ter pegado o ônibus de 18:45 (que só saiu de lá 19:00) e o percurso todo estar escuro, u seja, não vi nada da paisagem.
Pasei pelas cidades de Paracambi, Mendes e mais umas outras que eu sinceramente esqueci o nome, mas segundo uma menina do ônibus, que apesar de não estar falando comigo, falava bastante alto, tinha a "primeira cidade da Serra e a segunda cidade da Serra".Não me perguntem nem qual cidade e nem o que ela queria ter dito com aquilo, eu só sabia que estava chegando erto.
Passei todo o percurso calada, sem dormir, porque estava morrendo de medo de perder o ponto onde eu deveria desembarcar do ônibus.A moça que foi na poltrona 23 não parecia muito amigável e nem bem humorada, o que contribuiu muito pro meu silêncio.Já não tinha dormido de quarta-feira pra quinta-feira, imaginem minhas condições de stress...

Cheguei, finalmente, em Vassouras, onde Letícia me esperava com um sorrisão enorme, fazendo parecer que tinha um sol ali guardado.Depois de quase 3 horas de viagem e inquietação silenciosa, pude finalmente abrir a boca e os braços pra abraçar o motivo da minha viagem secreta.
Digo secreta porque a fiz sem conhecimento de minha família, já que eles jamais entenderiam o meu motivo e muito menos concordariam com ele, sabendo que na outra semana eu teria prova.E várias.

Fiquei num quartinho, ali no centro mesmo.Era pequeno, mas me senti bem, aconchegante.E com a minha companhia, nada poderia ser ruim.
Conheci Eva e Paulinha, as meninas que estudam com Letícia, moram em cima do quartinho dela.Uns amores, muito simpáticas e hospitaleiras.Como Lela não podia ficar comigo aquela noite, me levou até onde elas estavam, ou seja, no BAR!
E ali fiquei até a madrugada fria chegar e todos irmos pra casa.Conheci também outros amigos dela, como o Thiago e o Darlei (é assim que escreve?).
Chegando em casa, procurei estudar. juro que tinha conseguido, mas por pouco tempo.Estava cansada da viagem, e como não tinha dormido muito antes, nada mais natural do que sentir um sono absurdo.

Dia 20/06, Sexta-feira - Vassouras

Procurei acordar cedo, mas o sono foi maior, e não consegui.
Levantei lá pelas 10:30 e comecei a estudar alguma coisa.
Paulinha bateu lá e me chamou pra almoçar com elas.
O almoço estava bom, embora nem elas mesmas tenham acreditado quando eu o disse...E ainda tive sorvete de chocolate de sobremesa!Poderia querer alguma coisa a mais?

Desci novamente e fiquei no quarto, tentando estudar um pouco mais.
De repente, recebo a notícia de que eu teria que ir pra faculdade da Lela, porque seus queridos pais iriam levá-la e além disso, fazer uma vista ao local onde ela mora.Vejam que coincidência: EU ESTAVA LÁ.

Peguei todas as minhas coisinhas, enfiei no armário, coloquei minha roupinha branca e fui pra USS (Universidade Severino Sombra), a tal faculdade da Lela, onde ela faz Fisioterapia.
Lá chegando, com Paulinha e Eva, encontrei-me com ela, e fui pra sala de aula.Assisti a uma aula de Pneumo alguma coisa (não me peçam pra lembrar o nome da matéria).Aprendi que respirar é importante naquela tarde.Conheci o pessoal da Turma da Lela.Todos muito divertidos, receptivos e unidos.Deu até gosto de ver.
Um pouco diferente da minha turma na faculdade, mas isso é um outro assunto.

Saindo da aula, lanchamos rapidamente, eu e Lela.Depois fomos à biblioteca, peguei um livro de Genética pra estudar (Thompson, muito bom).Fomos pra casa.

Vamos pular o que fizemos em casa.Garanto que não estudei naquela noite.

Bem, lá pelas 22:00, fomos chamadas por Eva e Paulinha pra sairmos juntos.Eu e Lela, Paulinha e Darlei e Eva.Lá encontramos com Thiago.
Fomos ao Summer, jogamos sinuca, bebemos (óbvio) e dançamos um pouco.

Voltamos pra casa.E aí, sou obrigada a pular novamente o que aconteceu.Só posso dizer que, segundo Paulinha, naquela noite faríamos um campeonato...Melhor parar com os detalhes por aqui.

Dia 21/06, sábado – Vassouras/Valença

Bem, acordamos um pouco tarde.E levantamos mais tarde ainda.Acho que um dos maiores dilemas da humanidade é esse: acordar é fácil, já levantar...
Bem, era em torno de 15:oo quando tomamos coragem de sair de Vassouras com destino à Valença, cidade da Lela, pra onde ela tinha que voltar naquele sábado.

Pegamos um ônibus pra Barra do Piraí primeiramente, já que não tem ônibus direto pra Valença de Vassouras.
Não conheci a cidade, não tínhamos tempo pra isso, e acredito que nem muita vontade, mas pelo pouco que eu vi, fiquei maravilhada.Uma cidade rústica, com gente alegre.O som que mais se ouvia por ali era o tão famigerado pagode, além das enumeras risadas e mulheres dançando, com seus homens gritando, provavelmente comentando algumas coisas sobre futebol.Todos de olho em todas elas, e nas outras.E elas de olho em todos eles...e mais alguns também.
Parecia um carnaval, mas fora de época.
Gostei mesmo das pontes que têm por lá.São simples, não são maravilhas arquitetônicas, mas me causaram uma impressão boa.

Bem, chegando lá, compramos a passagem de 16:30, se não me engano.
A Lela ia tocar naquela noite em uma apresentação do Emaús, muito bonita por sinal.
Mas, enfim...Chegamos lá em Valença nem me lembro o horário, mas sei que já estava escuro.E eu novamente me senti perdida, mas não me senti com medo porque tinha a mulher com o sorriso mais lindo do mundo do meu lado, e ela mora ali, faz esse percurso todo dia, então...Não tinha o que temer.O único chato foi não poder ter visto a paisagem direito.

Depois de chegar lá, fomos pra casa da Martinha.Um amor de pessoinha!Como diz a Lela, “uma pequena grande mulher”.Adorei tê-la conhecido e em pouco tempo já conquistou um cantinho no meu coração.
Fiquei em um quarto, que não foi o dela, infelizmente, porque eu podia jurar que aquela cama de casal maravilhosa estava chamando pelo meu nome (brincadeira), mas foi bem agradável.Martinha é uma pessoa doce, se você reparar no olhar.Meiga, se você reparar no sorriso.Forte, se você prestar bastante atenção no que ela diz.Determinada e madura se você perceber suas atitudes, seus gestos.E olha que eu a conheci muito pouco e rapidamente.Também é uma ótima anfitriã, já que a Lela não pôde ficar comigo naquela noite depois de sua apresentação.

Ficamos num bar, do lado do que o pessoal chamou lá de Jardim de cima, inclusive a apresentação da Lela foi nesse tal Jardim, num palco montado pra isso.
Impressionante ver como as pessoas lá são católicas e assíduas.
Antes da apresentação da Lela, encontramos com algumas amigas dela: Ellen, Ludmila, Stela e Clayre.Depois elas tiveram que sair, acho que foram pra um lugar chamado Pesqueiro.
Depois da apresentação da Lela, conheci seu irmão, o Mino (Hermínio).E infelizmente a gente não pôde ficar mais tempo juntas, ela teve que ir.Mas fiquei em boníssimas mãos, na companhia de Martinha e aí eu pude conhecer o resto da galera: Ondina, Marcelinha, Bruna, Tia Lu, João Paulo (acho que só conversamos por 5 minutos) e Rafa.
Passamos uma noite beirando o agradável.Só não o foi completamente devido a certas opiniões conflitantes dentro do grupo, mas isso é o que menos importa, afinal de contas, em todo grupo isso acontece.Quando não acontece é que é estranho.
Voltamos pra casa, Martinha e eu, lá pelas 03:00.
E aí, eu ainda fui tentar estudar.Sem muito sucesso, porque estava cansada, com sono e sem concentração nenhuma.
Tive uma bela noite de sono.

Dia 22/06, Domingo – Valença

Acordei tarde, com a Lela entrando no quarto.Nem reparei as horas, mas sabia que já estava tarde.Tinha mandado uma mensagem pra ela umas 7:00, quando acordei assustada, depois de um sonho não muito bom.
E, aparentemente, ela veio em meu chamado!

É vergonhoso confessar isso, ainda mais publicamente, mas eu não resisti acordar e vê-la ali, em frente a mim, enquanto estávamos sozinhas no quarto.Eu sabia que a casa não é minha, também sabia que tinha gente lá, e era de meu conhecimento que a cama também não era minha...Mas eu não pude resistir.Desculpem-me...Estou sem graça agora, publicamente.

Depois de algum tempo, Lela teve que ir pra Igreja, eu acho.

Acompanhei-a até a porta e fui comer alguma coisa.Martinha me fez a especialidade da casa, um café da manhã divino.Não tenho palavras pra descrever a não ser QUEIJO.
Depois de um bom café-da-manhã, fui arrumar minhas coisas, tomar um banho e me arrumar.Já estava chegando a hora de ir embora, infelizmente.

Lela passou pra me buscar, me despedi da Martinha e conheci uma outra pessoa igualmente incrível, a Fê, delicada e carinhosamente chamada de Madrinha pela Lela.
Uma menina bonita, com uma mente ágil e muito bem humorada.Adorei tê-la conhecido.

Tentamos jogar sinuca: eu, Lela e Fê.Mas num domigo nada abre, muito menos os
lugares onde tem sinuca.Então fomos dar uma volta no tal do Jardim de cima.Daí
sentamos em um daqueles banquinhos de praça, quando notamos as meninas da noite passada reunidas em um bar logo na esquina, bebendo.
Nos juntamos à galera e eu fiquei esperando dar a hora de ir embora definitivamente.

Prefiro esquecer dos últimos momentos na rodoviária de Valença, porque de lá só me lembro dois pares de olhos marejados, se olhando e tentando se agarrar e ficar juntos de qualquer forma.Com aqueles olhos eu deixei uma parte de mim, uma grande parte da minha força e toda a minha felicidade.

Peguei um ônibus de Valença pro Rio, acho que era 16:00.Peguei também um engarrafamento na Dutra que quase me deixou sem ônibus do Rio pra Nova Friburgo.Consegui o último horário, por sorte.E por coincidência, vim com o Alex.



O que posso concluir dessa viagem é que às vezes loucuras valem à pena, ainda mais se forem feitas por amor.
E essa viagem eu nunca vou esquecer.Mesmo que tudo mude.Não importa.Essa experiência foi única, incrível e vai fazer parte da minha memória pra sempre (principalmente o sofá-cama).
Foi uma combinação de inconsequência com irresponsabilidade, mas foi perfeito.
A adrenalina mais gostosa que eu já experimentei.
Depois do amor, é claro.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Valença...é tão longe!

Todas as noites são a mesma agonia insône.Penso em você, lembro dos bons momentos, imagino se está bem, com quem está...Não por ciúmes, mas por querer me integrar de alguma forma a essa realidade, que a essa distância faz parecer ainda mais impossível.
Passam-se horas durante a noite, o frio vem, faço força pra dormir e se consigo acabo sonhando com você de novo.Nem sempre coisas boas...Mas ainda sim, é você.
Como é estranho amar sem tocar, sem sentir o calor das suas mãos, sem sentir o gosto dos seus lábios!Ultimamente minhas concentrações teem me traído um pouco...E quando menos espero me pego pensando em você, normalmente quando não deveria estar fazendo isso.
Tenho pensado tanto, tanto...Dá vontade de te roubar pra mim.Já deu vontade de desistir de você, de fugir de tudo e de todos, de viajar sem saber pra onde, de sair na rua andando à procura de alguma coisa que eu não quero encontar.
A vida acaba sendo engraçada, às vezes.
É boa ao me dar um novo horizonte pra seguir, uma nova fase pra prosseguir, um novo estágio de amadurescimento.É cruel ao me tirar de perto da cidade que tanto amo, dos lugares que adoro frequentar, das pessoas que me são caras.
E além de ser obrigada a reconstruir amigos, lugares, fases, modos, ainda sou obrigada a conviver com essa solidão, mesmo no meio de uma multidão.
E acredito que o pior fato de todos é o de você não estar por perto.
Acho que preciso de um colo.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Uma breve biografia de um escritor magnífico:

Marcel Proust

10/07/1871, Paris (França)
18/11/1922, Paris (França)

*Do Banco de Dados da Folha

Marcel Proust nasceu em Auteuil, subúrbio de Paris, em 1871. De saúde frágil, teve uma infância cheia de cuidados. Durante a adolescência, viveu nos Champs-Élysées, em Paris, onde o ar saudável lhe ajudava a diminuir os efeitos da asma. Em 1891, ingressou na Faculdade de Direito da Sorbonne; preparou-se para seguir a carreira diplomática, da qual desistiu para dedicar-se à literatura. Seus primeiros escritos datam de 1892, quando, com alguns amigos, fundou a revista Le Banquet. A seguir, passou a colaborar em La Revue Blanche, freqüentando ao mesmo tempo os salões aristocráticos parisienses, cujos costumes forneceram material para sua obra literária, iniciada com Os Prazeres e os Dias (1896). A morte da mãe, em 1905, fez dele herdeiro de uma fortuna razoável. Com a saúde cada vez mais debilitada, Proust acaba isolando-se dos meios sociais para dedicar-se exclusivamente à criação de Em Busca do Tempo Perdido, publicado entre 1913 e 1927, em oito volumes: No Caminho de Swann, À Sombra das Raparigas em Flor, O Caminho de Guermantes (1 e 2), Sodoma e Gomorra, A Prisioneira, A Fugitiva e O Tempo Redescoberto. Seu romance é tido por consenso como um dos maiores não apenas do século passado, mas de toda a história da literatura. Proust morreu em Paris, em 1922.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Gregório de Matos

Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.

Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se formosa a Luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?

Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.

Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Poemas e outra predileções.

Como ficar livre?

Anos passam, pessoas também.Sempre se repetem as mesmas situações.São pais não acreditando que seus filhos cresceram, casais que não se divorciam, namorados que nunca terminam sob promessas renovadas.E ao final de uma verdadeira maratona moral, o que sobram são causas infestas com conseqüências inócuas.
Um assunto bastante puído, mas que parece nunca cansar a ninguém – o que depende diretamente da abordagem feita.Nada muito cansativo ou com raízes Freudianas, mas apenas sendo direta: não há respeito mútuo todo o tempo e as pessoas são egoístas, por mais que evitem.
Um pai se apóia na tese da proteção para literalmente impedir seus filhos de fazer certas coisas.Na maior parte das vezes é proteção nua e crua; cuidado mesmo.Mas ninguém pode ser racional em “cem por cento” das vezes.E são em brechas como essas que os filhos encontram forças argumentativas para lutar contra essas proibições.O que raramente surte efeito, mas sempre tende a parecer uma boa alternativa.
Casais não se divorciam por diversos motivos: comodidade, insegurança, ou finanças.Não importa, sempre empurram mais pra frente decisões até óbvias, mas que não gostariam de tomar.Torna-se pior se eles têm filhos ou se uma das partes não concorda.Casamentos desgastados são extremamente individualistas e egocêntricos.Ambas as partes entram em uma disputa infinita, testando se são melhores ou piores do que o outro.
Talvez casais de namorados não tenham os mesmos tão agravantes problemas, mas com certeza se deixam levar pelo lado emocional.Deixam de ser racionais e entram em sofrimento interno, ou experimentam um sentimento pungente de vingança.
Nada têm de obedecer a esta frieza lógica com a qual escrevo, mas por trivialidades é o que acaba ocorrendo.O que também não significa que eu esteja certa sobre estas questões.Pessoas não conseguem deixar aquilo que tanto prezam debaixo de suas vistas, a menos que seja algo iminente e que não apresente a possibilidade de ser controlado.Por orgulho, egoísmo, medo...Quem sabe a resposta certa?
O fato é que o respeito mútuo é tão irreal quanto a felicidade completa e inabalável. É humanamente impossível levar uma vida equilibrada o tempo inteiro.Mas o que se pode fazer, ao invés de obter controle total sob as mãos – o que pode ser ainda mais pernicioso – é a possibilidade de empatia.Isso resolveria muito, se o ser humano não fosse tão focado em seus próprios objetivos.
Mas, na verdade, não há nada que um bom analista não ajude a resolver.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Início - O MITO DE ER

Em momento inaugural deste blog, que, usando as palavras de um amigo meu, "pretende não ficar pretendendo nada", apenas reproduzo uma lenda da Antigüidade Clássica, como forma de celebração ao primeiro post.E aqui vai ela:

O MITO DE ER.
O mito de Er é uma história que Platão conta no livro "A República".Trata-se de um relato, transmitido oralmente, de alguém que retornou do Hades.No mito de Er, o essencial é que fossem quais fossem as injustiças cometidas e as pessoas prejudicadas, as almas injustas pagavam a pena de quanto houvessem feito em vida, a fim de purificarem a alma. Uma tal escatologia desvela um logos cósmico, fundamentalmente moral, na ordem de uma teleologia vinculativa para o humano.
Platão, discípulo de Sócrates, dizia que o poder da virtude era tal que teria repercussões para além da própria e limitada vida de um individuo, ou seja, depois da morte. É assim que retoma o tema da imortalidade e relata um mito, figura literária muito usada na Grécia antiga. Este mito é vulgarmente conhecido como O Purgatório, pois representa, para alguns interpretadores, um nível intermédio entre o Inferno e o Céu.
Como era comum na comunicação oral helénica, Platão conta o que outro relatou, o sucedido a um habitante arménio, Panfílio de nascimento, propriamente um guerreiro, que fora morto em batalha. Dias depois o seu corpo estava ainda incorrupto, e ressuscitaria ao décimo segundo dia na sua pira funerária, para contar o que vira depois da morte. Assim, Platão conta o que outro supostamente observou e comunicou a outros.
Conta Platão que após a sua alma sair do corpo viajou com outras almas até chegar a um lugar divino com duas aberturas contíguas na terra e duas no céu frente a estas. No espaço entre elas presidiam juízes que, depois de se pronunciarem, decidiam para onde se encaminhariam as almas. Os justos seguiam para a abertura da direita, que subia ao céu, os injustos seguiam para a da esquerda, que descia. Todas levavam uma nota com o julgamento e com tudo o que haviam feito. A Er foi dito que seria o mensageiro junto dos homens das coisas daquele lugar.
As almas que ali chegavam vindo da terra pareciam vir de uma longa travessia, estavam impuras e imundas, enquanto que as que vinham do céu chegavam puras e limpas cantando experiências deliciosas e visões de indiscritível beleza. As que chegavam de baixo gemiam e choravam, recordavam sofrimentos e dores da viagem de mil anos por debaixo da terra.
O funcionamento habitual era o de que cada alma pagasse sucessivamente todas as injustiças cometidas, fosse contra quem fosse. A pena de cada injustiça era paga dez vezes. Os actos justos seriam também recompensados deste modo. As interpretações referentes ao número de anos são díspares entre os interpretadores, mas é mais ou menos concensual que cada pena era paga em cem anos, resultando, portanto, nos mil anos totais (dez vezes cem).
As excepções existiam relativamente a crimes de homicídio ou de impiedade, quer em relação aos deuses, quer em relação aos pais, em que as penas eram ainda maiores. Note-se ainda que apenas eram dispensadas da viagem por debaixo da terra, em sofrimento, quando finalmente se curassem da sua maldade e expiassem totalmente a pena. Só reunindo estas duas condições a abertura permitia que subissem. Platão descreve alguns dos castigos infligidos, nos quais se inclui o ser-se esfolado.
Er observou então que os que já tinham pago os seus pecados regressavam à vida, passando por um lugar onde estavam as três filhas da Necessidade,as Parcas: Láquesis (o Passado), Cloto (o Presente) e Átropos (o Futuro), que teciam o destino dos humanos.
Então, um mensageiro dos deuses pegou em lotes e modelos de vida e dispô-los para as almas escolherem, pois iria começar outro período portador de morte (tempo de vida humana). Havia destinos para todas as espécies, mas destas escolhas resultavam imensas armadilhas. O essencial era escolher a fim de não cair na ganância da tirania e da riqueza, evitar os excessos na vida mundana e optar sempre com muita prudência. Só assim um humano alcançaria a felicidade suprema, não esquecendo que a escolha deveria ser dirigida pela procura da virtude, pois a responsabilidade pesaria apenas sobre quem escolhe.
Depois as almas foram conduzidas para a planura do rio Lete e, junto do rio Amelas, todas foram forçadas a beber uma certa quantidade de água, esquecendo tudo, umas mais que as outras, conforme bebiam mais ou menos. As que irreflectidamente bebiam mais, esqueciam demais.
Troa o trovão e um tremor de terra, era a hora das almas irem ao encontro dos seus destinos a fim de nascerem cintilando como estrelas, e Er impedido de beber acordou divinamente na pira funerária.
Este é um resumo possível do mito de Er, não dispensando a leitura integral, não só do mito, mas também d'A República. O Mito de Er deve ser lido em permanente intertextualidade com os demais mitos e/ou contos platónicos, sobretudo com a
Alegoria da Caverna.