domingo, 5 de dezembro de 2010

Carta de uma homossexual para outra.

Gostaria muitíssimo que o texto fosse meu, mas não é.
Mas achei muito tocante e acho que todas as meninas que estão em dúvida com sua sexualidade deveriam lê-lo, assim como as que já estão certas dela, as assumidas, as hetero também, pra que possam entender um pouco o outro lado da moeda, os meninos - por que não?
O nome da autora do texto é Helena Paix. Ela inclusive está fazendo um livro, precisa de depoimentos de homossexuais, tanto meninas quanto meninos, falando sobre família. Ela é colunista do site paradalesbica.com.br, e esse texto que vos apresento encontra-se na coluna dela, inclusive.
Vale a pena conferir, quem estiver interessado (a).

Boa leitura.

Para você, com todo o carinho do mundo.

É que eu sei quem você é. Eu sei de que matéria você é feita. Eu sei dos seus conflitos. Eu sei do seu choro. Do seu sorriso escondido: trancafiado como um tesouro proibido.

Eu sei da sua beleza e sei do seu medo.

Entenda: eu também sou você.

Por isso, quando você está aí, como agora, em busca de uma palavra amiga, em busca de uma luz, de um colo, de alguém que lhe abrace apertado e lhe diga “Não se preocupe, tudo vai dar certo, você vai ver!”, eu sei exatamente o que você sente.

Eu sei dos dias solitários.
Eu sei da sua divisão em duas pessoas: a pessoa que você tem que ser; e a pessoa que você gostaria de ser.

Eu sei dos dias em que você acorda querendo mandar o mundo ao inferno.
Eu sei o que você sente quando você vê na rua um homem e uma mulher de mãos dadas a se beijarem.
Eu sei o que você sente quando falam para você sobre casamento e filhos.
Eu sei o que acontece por dentro contigo quando tua família quer saber por que você não namora faz tempo.
Eu sei até da vontade amarga que você sente às vezes de que você fosse igual a todos.

Eu sei do medo da rejeição. Eu sei do pavor de perder aqueles que você mais ama.
Eu sei do abismo que existe, agora, entre você e seus pais.

Eu sei o tanto de tempo que leva para que você consiga olhar no espelho e sorrir por ser como você é.
Eu dos tantos e tantos curativos internos que você que você teve que fazer sem que ninguém te ajudasse.

Eu sei das lágrimas escondidas.
Do choro abafado.
Dos gritos internos.

Eu sei sobre o desespero.

Eu sei sobre a raiva.

Eu sei sobre a vontade mais simples do mundo: de encontrar alguém que te ame como você é; que te permita amar e ser amada; que te deixe ser quem você é. Que te dê forças para enfrentar o mundo; que te dê guarida dessa sociedade assustadora que não entende nada.

Eu sei das tuas dúvidas. Das tantas e tantas perguntas que habitam dentro de ti.
E que também muitas vezes não há ninguém para quem perguntá-las.

É: não é fácil, eu sei.

Mas eu por saber tudo isso, é que eu também sei que você é forte.
Que você pode sim agüentar tudo isso.
Que você, diferente dos ditos ‘normais’, cresce de dentro para fora.

Por isso, se deixe crescer.

Acredite: Haverá um dia em que você será maior do que tudo isso.
E nada disso poderá mais te causar dor.

Se não há um colo agora, se não há uma palavra amiga, se o medo é maior do que tudo: querida, eu te peço, seja absolutamente incrível com você mesma.
Seja a sua melhor amiga.
Encontre bons livros que te façam companhia.
Escute músicas que te acalentam a alma.
Assista filmes que te façam ver sempre as belezas da vida.

ACREDITE NA SUA FORÇA.

Não deixe que a incompreensão da sua família e do mundo te amargure.
Não deixe que o medo e o pavor te façam esquecer-se de quem você é.

Não cale nunca a sua voz interna: ela é teu abraço constante: ela é teu sorriso escondido.

E quando você se olhar no espelho, saiba que você está olhando para uma guerreira.
Saiba que você carrega um fardo que muitos dos ditos ‘normais’ não agüentariam.
Se orgulhe de você: porque você consegue enxergar o amor em todas as formas que ele existe.

E se lembre sempre que existem tantos outros no mundo como você, como eu: sentindo as mesmas dores e conflitos. Desejando apenas que lhe permitam ser quem são.

Você não está sozinha querida.

E o que eu te peço agora, é que você se sinta abraçada.
É que você saiba que existem pessoas-anjos por aí que vão nos ajudando ao longo do caminho.

Que você acredite que vamos encontrando pessoas que são um pouco pais, um pouco irmãos, um pouco amigos e que suprem o que muitas vezes não conseguimos encontrar em casa.

Lembra da sua voz interna? Aquela que você não pode calar nunca?
Ela tem uma tarefa: a de se tornar cada vez mais forte e mais alta.
A de ser, um dia, tão forte, que comece a falar mais alto do que os seus medos.

Acredite: eu sei quem você é.
E por isso mesmo, acredito em você.
E lhe digo: você consegue sim.

Ache a sua paz. Você a merece.
E deixe que o seu sorriso visite sempre os seus lábios.
Você é linda exatamente como é.
E não há nada de errado com você.

Eu estou do seu lado.
E sou um pouco você.
E juntas, mesmo que você esteja aí e eu aqui, conseguiremos sim vencer o mundo.

Só preciso que você saiba que você não está lutando essa guerra sozinha.
Por isso seja forte e erga sua cabeça.
Preciso de você lutando por você mesma.
Quando uma de nós sorri, a vitória é de todas.

Você ainda tem uma vida pela frente.
Por isso sonhe os seus sonhos e alimente-se inteiramente de quem você é.

Seja feliz: você deve isso a você mesma.

Clarissa e Roberta

Por alguns instantes Clarissa quis se sentir grande, maior do que seu ego, como se sentisse sua força brotando de algum lugar por dentro. Queria sorrir, explodir, gargalhar e apontar, como criança. Mas como confiar em uma pessoa que te abandona no momento de maior latência do seu amor por ela? Não, ela não podia se deixar abalar por aquele velho sentimento.
- Então é isso... Você vem me procurar porque ficou carente?
- Não, linda... Se fosse só carência teria me casado, ou buscado qualquer outra pessoa, não acha? - era a primeira vez que Clarissa tinha sido agressiva e tão séria com Roberta, e isso a perturbou.
- Não consigo confiar em você. - respondeu secamente Clarissa.
- Naturalmente. Já imaginava isso, mas gostaria de te fazer uma proposta, mesmo assim.
- Hã...
- É simples: não me proíba na sua vida, esteja aberta, deixa eu me aproximar de novo. Você não tem que estar comigo, mas pode estar comigo também. Entende?
- Tá. Você me propõe que nos reconheçamos novamente, é isso?
- É. Sem juízo de valores, ok? - e Roberta finalizou a frase com um lindo sorriso.
- Impossível. - Clarissa respondeu entrando na brincadeira, com um sorriso que antecipava sua resposta.
- Ah, mas tenta...
- Tudo bem. Vamos ver no que isso vai dar.
Clarissa tinha medo, mas a possibilidade de estar com Roberta novamente era irresistível, não podia negar o frio na barriga, aquela sensação de borboletas no estômago de novo. Tinha o dia todo de folga, e Roberta parecia não ter mais nada pra fazer também.
- Tá com fome, Beta?
- É...agora eu tô.
- Vamos naquele japonês aqui perto?
- Como a gente fazia quando você se mudou pra cá! A gente comia yakissoba todo dia...Lembra? - e Roberta soltou uma leve risada.
- É. - Clarissa também riu.
Os olhos das duas se cruzaram mais uma vez, os risos se ouviram, se tocaram. Elas sabiam perfeitamente o que aquilo representava. E nenhuma das duas quis afastar aquilo que estava renascendo ali, se readaptando a uma nova realidade.
Alguns meses atrás, quando Clarissa tinha conseguido sair da república onde morava, foi morar ali, naquele apartamento pequeno que parecia não conter sua felicidade de se ver gerindo sua própria vida, com maior privacidade pra ela, mais espaço para os seus sonhos. Roberta também tinha adorado a ideia, pensava em ir morar com ela um dia, se empolgou com a decoração, ajudou a pintar, ajudou na mudança, e, na época, o fato de estar ali presente, esboçando alguma espécie de futuro, parecia encantador.
Ficaram em silêncio, por um breve instante, se perdendo uma nos olhos da outra, quando Roberta acariciou de leve o rosto de Clarissa. Elas sabiam que estavam com seus pensamentos em um mesmo lugar, na mesma lembrança, na mesma felicidade remota.
- Quem vai levantar primeiro?
- Quem tiver mais coragem.
- Isso mesmo...Levanta aí! - e Clarissa começou a fazer cócegas em Roberta, fazendo-a levantar.
Definitivamente aquela tarde estava parecendo um comercial de margarina no intervalo de uma feliz história de novela das 20h.
Depois de muito romance e gracejos, levantaram-se, vestiram-se e foram no japonês, já que não tinha a menor condição de cozinhar qualquer coisa na casa de Clarissa. Vida de solteira, sozinha a maior parte do tempo, possivelmente explicaria a desarrumação e a falta de prática com o fogão e as panelas. Comer sozinha é chato, cozinhar pra si própria é chato.
Saíram do apartamento, passaram pelo porteiro fofoqueiro, mas dessa vez Roberta deu mãos com Clarissa, numa atitude que surpreendeu ambas. Andavam com tranqüilidade, esperando encontrar um cenário digno de Disney nas ruas, com pássaros cantarolando em volta das princesas, em copas frondosas de árvores imponentes, mas só tinha barulho de carros e buzinas e um sol que sempre faz lembrar aos cariocas o porquê da música “Rio 40º”. Andaram por quase 10 minutos, chegaram no japonês, onde podiam pedir milhões de coisas, mas pediram o mesmo yakissoba de camarão que pediram tantas vezes antes. Era um bom momento, estavam felizes, e relembrar coisas agradáveis era ideal.
Na hora do pedido, uma nova surpresa:
- Pra viagem, e rápido.
- Roberta, que isso... Pára pra comer! – disse Clarissa assim que o atendente se afastou.
- Tenho o dia livre pra você, e quero aproveitá-lo da melhor maneira possível. – respondeu Roberta com intenções pouco puritanas.
Iniciaram um papo descontraído sobre suas lembranças e algumas intimidades, até que o yakissoba chegasse, depois de algum tempo. O atendente ouviu um trecho da conversa das meninas quando foi levar o tal prato a elas e enquanto pagavam, não pode deixar de soltar um sorrisinho, que foi percebido por elas, mas Clarissa não se importava, já Roberta percebeu as claras – e más – intenções do rapaz. Não satisfeita, decidiu proporcionar um espetáculo completo: beijou em pleno restaurante aquela menina ruivinha e tímida que tanto desejava.
O espanto foi geral, mais o maior e mais saboroso foi o de Clarissa. Nunca, em todo o tempo que estiveram juntas antes, Roberta tinha tomado tal atitude. Nem de mãos dadas costumavam andar, e agora, nesse reencontro, beijos em público em plena luz do dia, num restaurante. É...Roberta mudou.
O atendente não sabia o que fazer, o beijo foi ficando mais quente, mais envolvente e Roberta estava adorando aquele desconforto, aquele constrangimento que causara no ambiente, descobriu então que a felicidade dela não podia ser paga ou trocada pelo seu silêncio e inércia. Se descobriu capaz de tomar essa realidade em suas mãos e enfrentar o que tivesse por vir. Sabia que não seriam flores o que estaria esperando por ela, mas teve a certeza que a partir daquele momento sua forma de ver o mundo, de se ver tinha começado a se transformar e ela estava adorando.
Clarissa, mesmo sem entender, também gostou do beijo e da atitude. Preferiu não falar nada, só dançar conforme a música, sabia que seria complicado e difícil pra família conservadora de Roberta e julgou inapropriado trazer questionamentos tão densos e pesados à tona naquele momento.
O beijo se deu, e foi interrompido por Clarissa, antes que entrassem as duas em combustão.
- Beta, seu troco tá te esperando e a comida tá ficando fria. E agora quem quer voltar logo pra casa sou eu.
- Ah... Cê tá com pressa? Por que? - disse Roberta, quase sussurrando, com um tom um pouco rouco, sugando o lábio inferior de Clarissa.
- Em casa eu te digo. - respondeu mais maliciosamente ainda Clarissa.
Pegaram o troco, a comida e abandonaram aquele restaurante com a sensação de que implodiram o lugar. Era tão pequeno, tão aconchegante, com suas cadeirinhas e mesinhas de madeira, espaço altamente simétrico, geométrico e seus frequentadores e trabalhadores exalando aquela impressão de regularidade, formalidade, seria comparável a um mosteiro se não fosse tão ocidentalizado. Definitivamente, naquele espaço a felicidade delas não ia caber. Nas ruas, no percurso de volta, não queriam mais se sentir como em um mundo encantado da Disney, queriam sentir aquele calor, de 40º, de dentro pra fora e de fora pra dentro. Se apressaram, quase correram pelo caminho de volta pra casa. Entraram no prédio afoitas, Clarissa abraçou Roberta por trás e foram andando assim, grudadas. Lógico que o porteiro viu, mas dessa vez elas riram dele, não ligavam, qualquer coisa parecia menor do que aquele momento e tudo era menos importante. Clarissa tinha medo de estar sendo usada em um momento de carência de Roberta, tinha receio de nunca mais vê-la, sabia que as promessas que foram feitas antes não foram cumpridas, o que mudaria agora? Não tinham o menor compromisso mesmo... Mas deixaria pra pensar nisso em outra hora, aquela hora era de agir, e aproveitar.
Roberta estava descobrindo a delícia de ser desejada e desejar tão violentamente e tão publicamente, estava excitada com a possibilidade de descoberta desse novo mundo. Queria mais, queria gritar. Estava começando a entender o “sair do armário”.
No elevador, entraram mas não apertaram o 4, Clarissa colocou Roberta de frente pra parede do elevador, beijava sua nuca, afastava seus cabelos bem levemente, provocava mais, mordia o pescoço, as mãos desciam e subiam pelas costas, acariciava os braços, decidiu abrir as pernas de Roberta e encaixar uma das suas naquele vão ali. Roberta ria, com ar de Noelle Vavoom, totalmente extasiada, realizada. Aquela provocação quase inocente a deixava com ainda mais vontade. Deixou o yakissoba no chão quando Clarissa desceu suas mãos pelos braços dela, entrelaçando seus dedos e colocando-as contra a parede. Tudo o que Roberta podia fazer era suspirar e gemer, mas não o fazia, estava se segurando pra quando subissem pro apartamento. Enquanto isso, Clarissa ia se arrastando no bumbum de Roberta, fazendo um leve rebolado, com a sua perna no meio das dela, e com suas mãos prendendo as dela. Sentia tesão, e sentia crescendo dentro dela, o calor aumentava, a vontade crescia, os movimentos se intensificavam, a vontade crescia mais, a medida em que aquela situação de dominação se intensificava, os movimentos dos quadris das duas tornavam-se mais forte um contra o outro, Roberta rebolava mais, parecia uma dança, um pedido com o corpo do que queria que fosse feito.
Clarissa largou Roberta e apertou o 4. Esperou o elevador começar a subir, encostou as costas na outra parede, Roberta abaixou pra pegar o yakissoba de forma provocante: desceu sem dobrar os joelhos, manteve o bumbum empinado e se virou pra Clarissa, antes de se levantar. Então se encostou de frente pra ela, na outra parede e ali ficaram se olhando, esperando o elevador subir.
Clarissa enfiou a mão no bolso, procurando a chave, pra evitar perder tempo procurando por ela no corredor. O elevador subia e parecia lento demais pra fome delas. Uma olhava a outra e sabiam que assim que entrassem no apartamento todas as expectativas seriam superadas, todo o enorme prazer seria satisfeito. Roberta nunca foi tão fogosa quanto agora, e Clarissa nunca se sentiu tão à vontade.
O elevador parou, quarto andar, abriu a porta, as duas saíram, caminhando leves pelo corredor, como se estivessem preparando uma armadilha, uma pra outra. Clarissa pegou a chave, abriu a porta, Roberta entrou no pequeno apartamento levemente bagunçado pelo rompante sexual anterior.
Roberta colocou o futuro almoço sob a mesinha da cozinha americana, abriu a geladeira pra tomar um copo d’água bem gelado, estava quente por dentro e por fora. Enquanto isso Clarissa fechava a porta, tirava a roupa e ligava um ventilador pequeno próximo ao pé da cama, no quarto minúsculo que só cabia a cama de casal e o armário.
Roberta olhou o relógio, viu que dali a uma ou duas horas o sol ia começar a baixar para se pôr, não sabia se devia dormir ali, nem o que diria a sua mãe quando a procurasse, mas ia ficar, porque sabia o que ia acontecer, sabia que era bom e sabia que ia gostar. Foi se indo para o quarto, onde Clarissa já estava a esperando.
- Vem, Beta. – disse Clarissa, só de calcinha e sutiã na cama desarrumada.
- Não quer beber água, comer, nada? – Roberta foi andando na direção de Clarissa, abrindo o zíper do vestidinho.
- Depois. – respondeu Clarissa, já sentando-se na cama.

(continua)

Ela sabe que é verdade.

Nós terminamos, mas porque não nos desligamos ainda?
Aonde está o problema?
Por que não conseguimos conversar? Só gritar, brigar, e nas horas vagas, uma ou duas palavras de carinho nos intervalos. Isso é muito ruim...Ruim demais!
Você me diz que a gente vai casar, ter filhos. Eu juro que eu queria acreditar nisso como antes, queria mesmo sentir o meu coração batendo forte, descompassado como foi nos últimos anos.
Não dá pra voltar no tempo...
Eu queria te amar como eu te amava no início, queria rir das suas gracinhas, saber o limite entre brincadeira e humilhação, te proteger, te olhar dormindo, brincar na sua barriga, andar de mãos dadas com você na praia, olhar o céu, ver o sol nascendo, se pondo. Queria ter feito aquela viagem que não saiu, e você não sabe como isso me incomoda. Queria sentir aquele desejão, quando vc beijava minha nuca, me deixava alucinada.
Tudo foi se acabando, a gente foi deixando o tempo passar, estávamos ocupadas demais nos exigindo o mundo, brigando, nos ofendendo. E eu te amava tanto, tanto...que só de pensar chega a doer.
A gente terminou, nos falamos pouco, quase nada. Meus amigos, cadê? Eu me pego tendo inveja, raiva e às vezes ciúme de você. A gente se distanciou, mas a gente não quer isso, é torturante. A vida tá muito ruim sem você, pelo menos fica do meu lado.
Fico aqui, fazendo de conta que tá tudo uma maravilha, quando na verdade só quero desabar e chorar no seu ombro, quero - como hoje - um abraço demorado, um ouvido pra eu poder desabafar, um ombro pra eu desabar. Vejo você feliz, tendo sucesso em tudo, conquistando amizades novas, fazendo coisas novas, falando coisas que nmunca disse antes, valorizando seus bons momentos. Você tá linda, tá com um ar mais jovem, alegre, tá magrinha, seu cabelo tá perfeito. Eu estava assim também quando você tava mal, assim que a gente terminou. Me sentia uma criança, livre. Agora esse furor de liberdade passou. Agora eu vivo me contendo, querendo sumir, ligando pra vc quando a paciência está por um fio, ou quando o meu coração tá explodindo de tristeza, pedindo ajuda pra coisas que nem fazem sentido, usando qualquer coisa como desculpa pra te ouvir, pra estar perto da pessoa que mais me deu valor, atenção, carinho, que foi fiel o tempo todo, que me deu uma chance, que me permitiu ser quem eu sou de verdade, e que não tem vergonha de mim por nada, nem vergonha de si própria. Como você mesma disse "eu gosto de estar com quem eu amo, gosto, e eu gosto de que as pessoas saibam quem é essa pessoa, e que vejam como essa pessoa me traz felicidade".
Eu realmente te amo, e você pode considerar esse post uma declaração de amor (ou quase isso), e é por te amar que faço qualquer coisa pra ver esse sorrisão enorme no seu rosto. Você sorri com o coração, com os olhos, com a pele, até com o fígado se bobear.
Você aprendeu a viver, depois de anos te dando esporro pra você ser mais séria, responsável, organizada...
O fato é que a gente faz tanto parte uma da vida da outra que não conseguimos mais ficar sem esses momentos.
Isso leva sempre a uma idéia de volta, de que a gente precisa dar a vigésima sétima chance pro nosso relacinamento amoroso reacender aquela chama veeeeeeeeeelha.
Mas não dá, simplismente não dá. E você sabe disso.
A gente não se ama como mulher mais, talvez tenha um pouco de atração, uma saudade de fazer sexo, de sentir a pele-na-pele. E isso se mistura com todo o carinho e respeito que permeia a nossa tentativa de amizade, com rompantes de ira, e tudo mais.
Mas acho que não vai passar disso. Não posso falar pelo dia de amanhã, não posso dizer que nunca mais teremos nada, se tiver que ser, um dia, será. Mas acho que a gente tinha que trabalhar isso de outra forma.
A nossa probabilidade de dar errado é tão grande ainda, na verdade, a cada passo que ficamos mais distantes uma da outra eu percebo como a chance de erro é grande, infinitamente maior do que a possibilidade de sucesso. Pelo menos agora.
Não dá pra pensar em voltar...Senão vamos viver eternamente o pandemônio que vivíamos nos últimos meses de namoro:

"E se admitirmos que nosso relacionamento está acabado?
E nos mantivermos nele, mesmo assim?
Nós o aceitamos.
Nós brigamos muito.
Quase não transamos mais.
Mas não queremos deixar um ao outro.
Assim poderíamos passar a vida juntas.
Miseráveis.
Mas felizes de não estarmos separadas."

Não quero morar com você, nem namorar, nem ficar divagando como seria nossa vida de comercial de margarina se tentássemos novamente, para sermos infelizes para que possamos ser felizes.
Merecemos mais do que ficarmos juntas pelo comodismo, pelo medo de sermos destruídas se não ficarmos.

Se a gente tiver que ultrapassar os limites da amizade, de novo, pra tentar de novo, não vai ser agora, nem dessa forma. E muito menos vai depender dos outros.
Vai acontecer, se acontecer, na hora certa, da forma certa.
Enquanto a gente não tem a resposta, vamos nos manter na civilidade amistosa com que nos tratamos pra não ter chance de colocar até a amizade a perder, que é uma coisa que nem gostaria de pensar, porque eu te amo muito pra deixar vc sair de pertinho de mim de novo.
Some não, hein?