sexta-feira, 29 de abril de 2011

Carta apaixonada

Bambina,

Acordei hoje sentindo seu cheiro, ouvindo a sua voz, e tocando sua boca com meus labios molhados de desejo de te ter.

Acordei hoje sentindo sua ausência, lembrando do seu rosto, querendo mais uma vez ter você perto de mim.

Será? Que essa necessidade de te ver, de te sentir e de te tocar vai, a cada dia que passa, continuará me embreagando com esse desejo louco de te amar de novo?

Será que nunca vai passar? Dizem que o tempo cura, e que a distância faz com que tudo se torne parte do passado.

Dizem que um amor cura o outro, mas se este amor ainda não foi vivido por completo, será que tem cura?

Cura para um momento infinito que me faz pensar que serei escrava desse sentimento que ainda não pude sentir por completo?

Será que eu posso esperar o tempo passar? Ou será muito tarde? A minha juventude se foi, o tempo é meu inimigo.

O que sei é que gostaria hoje de ter preparado cafe da manhã, e fazeito amor com você apaixonadamente de novo.

Saudades suas...

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Angelica

Se eu te cantar

As contas do seu colar

E as luzes do seu olhar

A boca macia sua

Juntar-se-á a minha

Doce sutileza

De menina-anjo

De tanto anjear

Purifica

Conquista

E acalma

O meu coração de bate-bater

Por amor, paixão ou sei-que-lá-mais

Bate asas anjo lindo

Deixa saudade e um sonho

E uma Lua pra tentar tocar

E um crepúsculo pra admirar

Toca harpa e faz arpejos

Que no acordear vai me preencher

De som, de fúria e contentamento

E a constante inconstância

Desse meu vão pensamento

É uma visão, um deslumbre

Que no meu sorriso se encontra

E no horizonte se perde

E na imaginação

Não passa de um fulgás

Alumbramento.

Escrito aos 16

Habitantes das sombras,
Espíritos das trevas se alimentando do corpo e sangue humanos,
Livres, circulando por todo o interior destes,
Ratos, se aproveitando das boas horas
Onde os humanos se demonstram serem mais imbecis
Não sabem nada a respeito de si próprios
São todos uns assassinos egocêntricos
Seres humanos se acham supremos
Acham mesmo que podem tudo contra todos
Contra seus iguais, inclusive
Para saciar seus desejos
Por mais promíscuos ou lúdicos que sejam
Querem ser deuses, gigantes...
Também sou parte da contrução "homem"
E não me orgulho disso.
Meio monstro, meio anjo
Minha função é a destruição
Dos diferentes, dos iguais e do desconhecido.
Estes monstros não são os que procuro.
Estes são escravos.
A verdade ameaça e está contida dentro desses escravos.
Trindade obscura, que ninguém se atreve a desvendar por completo:
Alma, Razão e Emoção.
Conflitam entre si
Juntas movem universos, tranformam, criam, obliteram...
Uma arma, imbatível.
O único ponto fraco dessa tríade é o medo.
Todos temos.
Em diferentes intensidades,
Com diferentes focos,
Mas temos.
Não há o que fazer, não tem como combater, impedir ou estagnar.
Não se perde o medo.
No máximo nos apoiamos nele para justificar uma série de atos falhos,
Repressão, timidez, depressão, fragilidade, violência, revolta, ódio, arrependimento...
Se pudesse fazer uma escolha, uma que fosse
Mudaria minha condição humana
Pra inanimada.
Quem muito pensa, sente menos, aumenta a intensidade do mundo ao seu redor,
E consequentemente não pode ser feliz.
E que vida é essa de infelicidade em que somos jogados sem escolha ao nascer?
Momentos felizes é tudo o que se pode esperar da breve existência humana.
O resto é falha e desilusão,
Pra gerar uma pretensa necessidade de amor, volta por cima e estabilidade.
A felicidade da busca, o equilíbrio...
É uma grande mentira.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Picante

Quero queimar no seu toque
Sentir prazer incendiar minha mente,
Embaçando as vidraças,
Arranhando minha voz,
Sufocando minha respiração,
Derretendo meu corpo,
Me sentir transpirando, quente.
Me deixa arder no seu fogo
Virar cinzas depois do prazer.
Me deixa consumir todo seu ar
Pra depois me apagar.
É nessa fogueira que quero queimar
Pelo crime de te desejar
Desse jeito tão carnal,
Sujo e visceral.
Não há depois, não há poesia.
Existe o agora, e o que eu quero.
Quero colocar lenha na fogueira,
Ver o circo pegar fogo,
Quero deitar na cama e mergulhar na fama.
Quero ser sua.
Quero te amar, mas não tanto além desse quadrado acolchoado.
No chão, nas paredes...
Todos os cômodos
Tudo o que o fogo pode - e vai - lamber
Mais que minha língua de pimenta
Branca, Preta, Malagueta, Rabañero, Chilli...
Todas não ardem mais do que meu beijo.
Como um vulcão,
Espalhando magma por todos os lados
Em forma de lava e braços
Por todo o quarto.
E só deixar a temperatura subir
E permitir nossos sentidos entrarem em ebulição
Como absinto com laudênio derretido.
O veneno que queima e consome, como o fogo.
E hoje, quero sentir queimar,
Quero ser pimenta, quero ser ardor, quero ser calor
Quero desvanescer, desidratar, queimar
Quero erupcionar, quero explodir
Quero você.
Mais quente impossível.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Lá pelos anos 30...

Entrei pela porta velha, depois de descer as escadas que levavam ao porão, onde a diversão realmente começava.
O cheiro de álcool misturava-se com o aroma de cada cigarro e charuto entre os dedos de alguns. Tinha um cheiro maior que isso. Era doce, era luxúria. Uma boemia que não deixava nenhuma mulher deixar de sorrir com lascívia e nenhum homem olhar sem malícia.
No bar Ed fazia o combustível da noite, em forma de vários drinks, e com uma habilidade espantosa.
- Ei, boneca! Seu vestido diminui a cada vez que te vejo.
- Quando eu estiver sem ele pra você, me avise para que eu tire o resto.
Algumas risadas, e meu whisky já estava na minha frente, com pouco gelo. Na medida certa, como só o Ed sabe.
- Vai cantar o que hoje, boneca?
- O que meu coração mandar e meu ventre desejar.
- Então vai ser delicioso, não?
- Como sempre, Ed... Como sempre será.
Tiro minhas luvas, acendo meu cigarro. O aroma lembra canela, assim como o gosto.
A ruiva chega, e senta-se na mesa já separada pra ela. Nenhuma de nós éramos importunadas, por mais que o ambiente fosse essencialmente masculino, e machista. A ruiva era muito respeitada, até por ser uma autêntica contraventora. Ela usava calças constantemente, aliás, acho que nunca a vi de vestido. Seu cabelo não era loiro, como o da maioria das mulheres. Ela não era desse país, provavelmente França, ou Inglaterra?
Ela me instigava, confesso. Poderia me desconcentrar completamente se ela me olhasse com aqueles olhos verdes.
- Chegou minha hora, Ed.
- Vai lá, boneca, divirta-nos.
E subi no palco, mais uma vez, levando meu cigarro e meu whisky. Ela sempre ia me ver cantar, sempre me olhava fixamente, e eu me sentia como uma presa de animal carnívoro, mas não tinha medo de ser devorada. Aliás, esse sentimento era o que mais me confundia.
Fui anunciada pelo meu pianista querido. E logo comecei a cantar... Nessa época, o que mais se ouvia às escuras era a música de negro, o jazz e o blues. Eu não gostava muito desse rótulo, mas era assim que as pessoas se referiam ao ritmo.
Gostava de ser uma branca que cantava como negra, isso me envaidecia, e os homens sempre me elogiavam muito. Ganhava todo tipo de presentes, convites, propostas e admiradores. Mas não me satisfazia com nada disso. Pra mim era um jogo. Meu único amigo era mesmo o Ed.
Aquela ruiva, da qual nem sabia o nome, era o meu mistério, o que eu queria desvendar. Era o que me mantinha ainda cantando nessa espelunca clandestina no sul de New Orleans.
Começo a música... Todos sentem o grave do contra-baixo, o piano sofrendo, o saxofone chorando e a minha voz...doendo. Provocando uma dor bela e macia. Nos tons mais graves, nos mais altos, ela sempre me olha, e me sorri. Praticamente me cobiça o tempo todo.
Depois de duas músicas, começo a andar pelas mesas, enquanto canto. Passo pela mesa dela, não tenho a menor coragem de lhe tocar as mãos, nem sentar no colo, nem flertar, porque sei que posso perder o fôlego, desafinar. Acho melhor só beber sua bebida.... E depois sair com um olhar escorregadio por cima dos ombros. Ela adora.
Deve ser a décima noite que ela vem aqui, pra me ver cantar. Ela senta no mesmo lugar, pede a mesma bebida, fuma o mesmo cigarro, os mesmos gestos...Parece querer me testar, esperando alguma reação minha, e eu esperando algum sinal dela.
Volto pro palco, canto mais meia dúzia de músicas até o meu primeiro descanso. Desço de lá ovacionada, sorrio como retribuição, mas não vejo a ruiva, isso me deixa um pouco decepcionada.
- Ed, o que achou de hoje?
- Que a cada noite sua voz fica melhor.
- Eu não esperava menos de você.
- Eu também não.
Nesse momento, me viro pra saber quem disse isso. Encontro os olhos verdes da ruiva encarando os meus em uma distancia que me deixa nervosa, e bem atrás de mim. Não tive reação, mas sabia que deveria dizer alguma coisa.
- Obrigada. Até onde eu saiba nunca tinha recebido um elogio seu. A que devo a lisonja?
- Ao gim. Se não fosse por ele, ia continuar sem coragem de te elogiar pessoalmente e de tão perto.
- Então façamos um brinde ao gim! Ed, dois desses pra nós!
Em segundos estávamos virando os copos... E era a hora de saber o nome daquela ruiva misteriosa.
- Brindamos e eu sequer sei seu nome. Que falta de educação a minha, não? Eu sou Barbara, Barbara Edmond, mas todos, assim como você, só me conhecem por Billie.
- Bem, eu não subo no palco todas as noites, então prezumo que nunca tenha ouvido falar de mim. Sou Evelyn Jamison, mas costumam me chamar de Ninny.
- Muito prazer, desconhecida.
A partir daquele momento meus pensamentos confusos já tinham nome, sobrenome e apelido. Ela vinha ali pra me olhar e eu vinha reparando isso há tempos. O que importava se eu estava com medo? Eu estava com vontade de estar ali, e descobrir que tipo de sensação era essa. Minha vida era muito desequilibrada, completamente notívaga e boêmia. Os homens que me viam e me desejavam eram ricos, mas nenhum deles deixaria essa vida por um casamento. Nenhum deles queria casar comigo por me amar, mas pra me ter, pra me transformar em propriedade e empregada. Muitas mulheres aceitariam viver dessa forma, mas eu era diferente nesse ponto.
Talvez fosse por isso que estava tão intrigada com essa nova sensação. E não tinha medo, apesar de tudo me dizer que era aparentemente ruim, não fazia sentido fugir disso.

Depois voltei a cantar, Ninny voltou pra mesa. No final da noite, recebi algumas flores, propostas e insinuações de alguns homens, o que era normal.
- Ed, se livre dessas flores e cartões pra mim, ok?
- Não sei como você consegue ser assim e eles continuarem se arrastando por você, boneca.
- É o segredo: ignorar.
- Jamais conseguiria ignorar uma mulher linda e que canta tão bem.
- Por isso sempre está ao meu lado, seja inteligente e preserve minha companhia, e não deseje meu sexo como todos os outros, tudo bem, Ed?
- Claro... Posso dar as flores pra uma moça?
- Desde que ela não saiba de onde elas vêm... Por que não?
Ed estava saindo com uma menina que raramente aparecia no porão. Ela era camareira em um hotel ali perto, era uma mesmo menina ainda, muito pura pra ser maculada por aquele ambiente. E apesar de tudo, Ed servia pra ela. Era um bom rapaz, com todas as brincadeiras e indiretas, era o único que tinha a consideração de me ouvir, e me entendia pelo olhar. Era um rapaz digno.
Me despedi de Ed, peguei minhas luvas e meu trench coat, e fui subindo as escadas. Ninny tinha desaparecido enquanto falava com Ed. Não entendi porque, mas senti um aperto, como quem sente falta e lamenta, por não ter saído dali com ela.
Depois de subir as escadas, agradecer e receber meu pagamento, fui pra casa, e assim que atravesso a rua, uma surpresa.
- Achei que já tinha ido, Ninny.
- Na verdade eu só vim oferecer uma carona pra você.
- Não sabia que você dririgia.
- Nada oficial, mas até dirijo bem. Então, aceita?
- Moro perto, mas aceito. Pelo menos não me acusa de não ser educada.
Pude ouvir sua risada, e como esse som mexeu comigo. Me deu satisfação instantânea.
Não demorou muito e chegamos na minha casa. Modesta, pequena, um pouco desorganizada e quase sem móveis ou alimento dentro da geladeira. Mas tinha algumas bebidas.
- Bem, já que me trouxe até aqui, por que não entra e me acompanha em mais um brinde?
- Vou aceitar logo, antes que você mude de idéia.
Entramos, e pedi desculpas pela bagunça, e estava mesmo de doer. Não sabia o que queria com ela ali, na minha casa, bebendo comigo, mas queria que ela estivesse ali, de qualquer maneira. Aquelas calças, as mãos no volante do carro enquanto dirigia...era tudo tão novo, e excitante!
Achei um restinho de gim numa garrafa perdida em um canto da cozinha, enchi dois copos pela metade e levei pra sala, onde ela me esperava encostada na poltrona, de pernas cruzadas, parecia estar a vontade, apesar da desarrumação. Pegamos os copos, ela levantou e brindamos.
- Um brinde a quê?
Nesse momento o sorriso dela ficou sério. Os olhos dela pareciam penetrar em mim e eu senti um magnetismo fora do normal me puxando pra dentro daqueles olhos, minha boca estava quente, queria tocar os lábios dela. Queria sentir o toque, a língua. Fomos nos aproximando lentamente. eu fechei os olhos, a minha respiração estava arfante.
Os copos caíram, os olhos fechados, os lábios se massageando, as línguas dançavam, era tudo perfeito. Por um momento me senti estranha, mas depois tudo parecia ser normal, tudo me pareceu normal, eu não pensava como os outros, eu só sentia.
Ela foi se apossando do meu corpo, e quando percebi, meu vestido estava no chão, minha meia calça com fios repuxados, e tudo que eu queria era sentir a minha nudez na nudez dela. Queria ouvir a conversa entre os nossos corpos, queria sentir meu corpo vibrando e queimando como já estava.
Essa noite nos entregamos uma a outra, e eu permiti que ela fizesse de mim o que quisesse, porque a minha curiosidade e vontade eram maiores do que meu instinto de preservação.
Não me arrependo... Porque nessa noite foi onde eu conheci o sentido de apaixonar-se, quando me senti tomada por algo maior que qualquer sentimento passageiro. A impressão era que isso não ia passar. E não passou. Mesmo depois de tanto tempo, ainda posso vê-la enquanto canto, ainda posso dormir com ela em minha cama e sentí-la em toda a sua completude. E sei que quando amanhecer ela vai estar lá, e no entardecer vou poder olhá-la.
O tempo passou, desde então... E todos os dias de Ninny e Billie são tão bons e intensos quanto o primeiro. Uns mais fortes, outros nem tanto, mas sempre intensos e repletos... Repletos de tudo.

Reconhecimento

Conversa despojada em casa:

-Filha, você vai pra rua hoje?
-Não sei pai, tô com preguiça...
-Ah, ia pedir pra você passar na padaria e trazer pão...
-Até parece que ela volta a tempo de encontrar a padaria aberta! [mãe, começando um esporro]
-Ué, vai que ela volta na hora que estiver abrindo?

BOOOOOOA PAI!
Agora sim posso dizer que vc começou a pegar o jeito da coisa.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Regra, controle...

Citando e recitando um escrito que encontrei no blog da Drix, sempre querida.

Assim como não há paraíso que não seja um pouco monótono, não há inferno que seja um pouco excitante. Ou muito excitante. O diabo tenta, o diabo incomoda, o diabo perturba, o diabo veste Prada. Os bonzinhos são ótimos mas tem um guarda roupa neutro demais.

Martha Medeiros

E é por isso que a gente vive fugindo das tentações: contrato social.
Não que estabelecer uma relação de confiança, respeito e responsabilidade não seja bom, muito pelo contrário. Mas precisa ser algo certo, justo, e algo de que não vamos no arrepender. Ainda assim será um sacrifício, mas concerteza vai valer a pena.
Mas é muito bizarro pensar que em virtude de um comportamento social aceitável somos obrigados a recolher nossos desejos a nós mesmos e evitar a nossa própria liberdade. E quando não conseguimos nos aguentar, sucumbimos às nossas vontades, é melhor esconder, se furtar da liberdade de sermos o que somos, pra não gerar comoções externas.
Me pergunto até onde vai a capacidade humana de se enganar.
Pra que viver assim?
Seria muito bom se todos tivéssemos o mesmo nível de bom senso, e que esse nível fosse bem alto. Que todos fossemos minimamente críticos, e não massa em sua grande maioria.
Mas se isso acontecesse...Eu ia trabalhar em que?

A única explicação para não vivermos a nossa liberdade é que não sabemos como lidar com ela, não temos uma boa relação com a ausência de regras coletivas. Porque seja pra brasileiros ou japoneses, ou qualquer outro povo, liberdade demais, sempre se degenera em libertinagem, em "anarquia", na acepção mais errônea do termo (como sinônimo de bagunça).
As regras sociais são necessárias pra se ter controle...
São sempre as mesmas perguntas que me faço: por que controle e para que controle?
Não consigo responder, só divagar. Bem devagar.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Dois Dias

Sinto falta das meninas
Do barulho, dos risos
Do silêncio quando se estuda
Saudades do bater de teclas
Os olhares, os segredos
As confissões, as brigas
Os empréstimos, os abraços
As implicâncias, as fofocas
Todos os miojos, em todas as modalidades
Todas as dietas super rigorosas
Todas as gírias e sotaques diversos
São minha família e minha casa
Na maior parte do tempo
Não conheço todas,
Nem sei se precisa.
A casa está incrustada em minha memória
A ausência de privacidade, de espaço na geladeira
Os cachorros, a goiabeira na janela da sala de estudos
Cada mínimo detalhe
Dessa vida universitária comum
E demorou apenas um final de semana
Pra que eu me desse conta disso.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Espero...

Vai
Sem duvidar
Mas
Se ainda
Faz sentido
Vem
Até se for
Bem no final
Será mais lindo
Como a canção
Que um dia fiz
Pra te brindar.

Pra dizer que nunca falei de flores, de canções, de amores.
Pra você não reclamar que não te conto meu dia
Ou que não ligo, não apareço, não te procuro.
Pra não se sentir esquecida ou menos importante.
Pra olhar nos meus olhos e não dizer que não vê brilho
Nem amor, nem calor.
Pra não me esquecer
Nem por outra em meu lugar.

Hoje sinto mais intensamente seu desprezo, seu silêncio, sua preocupação.
Seu descaso, seu carinho, sua atenção.
Percebo mais seu humor e sua dor.
Seu sorriso fala comigo agora.
Seu toque, seus olhares...
Até mesmo as palavras que escolhe e o espaço de tempo entre elas
O silêncio que produz...
Em tudo vejo você.
E não sei mais te amar menos.
E quando penso que é impossível amar mais,
Fecho os olhos e descubro que nem comecei ainda.

Ah, mas sempre fica uma vontade...
Quem me dera ouvir isso de você!

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Escrito aos 15

Quase real, querida Raekel...

Faz frio agora.
Escrevo pela força de minha saudade.
Nada mais me motiva a não ser a esperança de uma dia ter você ao alcance das minhas mãos.
Eu matei você, não me arrependo.
Mas não posso me acostumar com essa idéia de ter te perdido pra sempre.
Você está viva dentro da minha mente, impressa em minhas retinas.
Não sei mais a quem matar...Você já se foi. E, se te consola, você foi a minha predileta, a mais desejada, e a mais prazerosa morte.
O frio continua.
Estou na escrivaninha, em frente a janela de madeira onde você adorava ver as rosas do seu jardim, tão lindas e cheirosas quanto você. E os eucaliptos valsando a cada brisa que os tocava, e o vento que vinha com cheiro de pinho bagunçar o seu cabelo.
Estou vendo o mundo da forma como você sempre me pediu para que visse.
A cada hora mergulho mais na noite, e o vento traz um frio cada vez mais cortante e cruel.
Sinto falta da sua risada irritante, mais parecia um ganido de cadela. Minha cadela no cio.
Eu te batia quando você ria, os ganidos aumentavam e você achava lindo cada movimento brusco e a força.
Vinha a vontade de trepar. Ouvir seus gemidos, seus gritos, sentir seus arranhões, seu choro...Era tudo intenso demais. Minha cadela no cio. Minha melhor coisa no mundo.
Era assim sempre: bater e trepar.
Quando eu conseguia me satisfazer, você me abraçava, dizia que não queria me deixar nunca, e sempre me cortava, depois de todos os arranhões. Só você pra aumentar meu prazer, como se fosse possível.
Lembro que você preferia as costas e as pernas.
Vou pegar um casado, o frio está cada vez pior.
Eu amava você, mas você é insuportável.
Ainda tenho um pouco d seu sangue guardado comigo. Tive vontade de beber com vinho, mas coloquei na seringa. Sei que vou morrer como você... Soro-positivo.
O que sobra do seu sangue está correndo em minhas veias, e é para sua irmã hoje, a suave Trezah. Brindarei a esse momento com seu sangue.
O momento em que sua conservada virgindade será tirada, por mim, da pior maneira possível.
Ela não gosta de nenhum homem, mas gosta de mim, sempre gostou, desde antes de você.
Como pode ela ser tão mais velha que você, tão mais nova que eu e tão diferente de nós, Raekel?
Sou atraente, pelo menos, não acha?
A mim ela há de querer, e querer como se fosse o último, porque serei. O primeiro e o último.
Terei seu corpo, seu calor, seu espírito, seu sangue e sua preciosa juventude em minhas mãos.
Ela fenecerá por mim, e mais ninguém.
o brinde...Isso é irrecusável.
Marquei com ela meianoite...ela está atrasada.
Será que ela vem mesmo, Raekel?
Assim que ela chegar, vou realizar todos os meus pensamentos.
Sua família acabou, só sobrou ela e o Aznar. Ele deve estar morto agora, sem dúvidas, se o que mandei foi executado com precisão. Ela vai partir daqui a pouco, assim que chegar.
Minha diversão acaba, e meu amor não encontrará mais nenhuma a quem defenestrar. Não terei o que fazer mais em vida.
Espero te encontrar no inferno, querida.
Eu te amei um dia, queria que todos soubessem, dos anjos aos capetas.
Te amei através, apesar e além da vida...E da morte, e de todo e qualquer tipo de amor, ódio, ou qualquer outro sentimento.
Está frio demais, hora de fechar a janela e deixar a lareira aquecer o quarto.
Alguém bate a porta.
Sua irmã chegou.

Do seu eterno amante.
Ftás.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Pressão

Por que escolher? Pra que protocolar?
Minha vontade é de pegar esses contratos, sociais ou não, e rasgá-los, queimá-los pra que se dizimem e não possam ser refeitos na minha vida.
O que é que eu sou, afinal, por onde eu estou me vendo? Pelos meus olhos ou pelos olhos dos outros?
De tanto olhar de fora pra dentro começa a refletir no que vejo de dentro pra fora.
Sou o problema.
Sou?
Problema?

Por que preciso declarar minhas vontades, fazer todas as escolhas, objetivamente?
Que porra de rumo é esse que eu devo tomar e não consigo enchergar?
Não quero perder o último segundo da minha vida me desdobrando em descobertas de um caminho que não sei se deveria trilhar.Meu último é sempre o próximo segundo.
Busco conhecimento, e isso não basta.
Trabalhar, não basta.
Falar, não adianta.
Gritar, muito menos.
Faço planos, eles mudam, tenho objetivos, eles também mudam, a cada momento, a cada novo passo da minha vida. É uma vida, não um projeto. Fazemos projetos na vida e não da vida um projeto.
Sempre quis essa liberdade intelectual e factual do dia-a-dia, liberdade de ações.Tenho isso, vivo isso e gosto disso. É onde fica minha casa fora de mim. Um dia isso acaba, e preciso aproveitar enquanto posso.
Por que querem me prender, de novo? Por que querem me convencionar?
Eu é quem deveria achar conveniente, ou não. Necessário, ou não.

Ouço a mesma determinação de vida de pessoas diferentes, que por vezes não se conhecem, ou se odeiam. De tanto me apontarem um direção pra seguir e colocarem uma pintura que fazem de mim, começo a achar que estou olhando prum espelho e que estou no caminho errado, só porque esse caminho é meu.
Acho que ninguém olha pra mim, mas através, como se fosse transpassável, transparente. Me sinto um fantasma, que assombra as vidas alheias, causa desconfiança e medo, e que ninguém consegue ver.

Tod@s temos defeitos. Só que nem sempre o que localizam como defeito meu necessariamente o é pra mim. Existem coisas que adoro em mim, como meu temperamento intenso, tempestuoso por vezes, minha voz que fica alta quando eu me empolgo, gosto da minha boemia, do meu cigarro, das militâncias, das discussões e debates, gosto de ouvir Tim Maia e depois Mozart e depois Jongo, por exemplo. Gosto da minha inconstância e da minha inquietude.
E nada disso significa que eu não tenho metas, nem planos e muito menos que não luto pra realizá-los.
Não quero fazer nada forçado mais. Me deixa ser eu um pouquinho. Isso é novo pra mim.
Primeiro tinha que ser como minha família queria, depois tinha que ser como a galerinha da escola queria porque ninguém me respeitava, tinha que me integrar em algum grupo, ou em todos. Depois veio a pressão de ser como o chefe queria que fosse, pra não atrapalhar o rendimento. Agora é professor orientador. Mudou a pessoa, mas a pressão é a mesma.
Sei que a vida não é fácil, que é muita pressão, por conta de diversas responsabilidades que se avolumam vida afora, proporcionalmente com a nossa idade, sei também que a sociedade de forma geral espera uma postura nossa e que temos que corresponder, etc... Mas eu me reservo o direito de viver a minha vida do meu jeito.
É insuportável ser cobrado, saber que sua figura não inspira confiança ou que não remete a responsabilidade. O que esperam de mim? Já fiz tantas mudanças...Não sei se posso mudar mais.Não sei se quero, se preciso.

Ás vezes dá uma revolta, ás vezes não dá nada... E o que tem predominado bastante é a vontade de ficar calada. Falar pra que? Ninguém vai ouvir, mesmo que eu grite. As coisas são como são e eu só sigo o fluxo. Mas queria tanto que esse momento meu, de coletividade, de entrega, de não ter hora pra te governar, de intensidade, de risos, de conversa fora, de samba, de jongo, de dança, fosse respeitado. Esse momento é importante pra mim, e sempre é mal visto.
Se sou alcoólatra, viciada, prostituta, maconheira, ou qualquer outro tipo de estereótipo associado a imagem de vagabunda que não quer nada com a vida, é por conta do pensamento alheio. Fiz coisas impublicáveis e condenáveis no passado, errei muito, penei abessa pela minha falta de maturidade, minha insistência em ser sozinha e minhas escolhas...Não gosto de escolher ser, eu sou, apenas. Aprendi muito com os tropeços, como diz em qualquer papo de ex-alguma-coisa-condenável-pela-sociedade. Tô aqui, disposta e exposta, como todo mundo, sujeita a errar, como todo mundo...Mas quero ser livre pra isso. Será que nunca vou conseguir ser feliz, ou estar tranquila ao menos?
Eu me cobro pelo meu melhor, da minha maneira.
Não preciso de mais ninguém pra isso.
Um conselho, um toque, é bom de dar. Cobrança é pressão e eu não preciso de mais disso na minha vida. Nem eu e nem ninguém, creio.

Como diz naquela propaganda: por uma vida sem frescura!