sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Chinelos

Ela encontrou comigo, ou eu encontrei com ela... já não sei bem mais a ordem.
Eu não tremi, eu não sonhei, eu não gelei. Eu sorri. E ela sorriu de volta. Ela desviou o olhar e ajeitou o cabelo preso num rabo de cavalo algumas vezes.
Era a segunda vez.
A primeira não foi emocionante, não foi incrível, não foi inesquecível. Ela só saiu da área de fumantes e foi comigo tomar uma cerveja e nos beijamos.
Até o segundo encontro foram milhares de palavras, centenas de vírgulas,
Antes estávamos descontraídas, agora era tão comum que achei razoável ela não saber onde colocar as mãos.
Eu tenho medo do esperado às vezes. E acho que ela também.
Da segunda vez foi natural demais, foi bar, cerveja, conversa, 2 ou 3 beijos inocentes, levar na porta de casa, depois tocar meu rumo. Seria bobo, se não fosse pela naturalidade das coisas.
Era como se eu estivesse em casa, de chinelo, na sala, com um short velho e uma camiseta manchada, tomando uma long neck, fumando um, e rindo enquanto via alguma coisa absurda na TV.
E era como se ela estivesse ali também.
Não é nada forçado. Não era só uma questão de se sentir em casa, mas estar em casa, e não com ela apenas, mas dentro dela. Nela.
E foi aí que eu relaxei.
Não tem nada melhor que poder calçar chinelos todos os dias, o dia todo.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Agonia

Eu só queria estar perto
dentro
na sala, nas paredes, dentro do seu espelho, na lágrima que escorre do seu bocejar, na vibração do seu tímpano quando ouve o celular tocar, nos milésimos de segundos que a sua ansiedade te faz perder o ar, nos livros empilhados que você nunca leu na prateleira e nos textos da faculdade que se acumulam confusamente na cabeceira.
queria estar ali naquele vão entre o atrito e o estalar dos seus dedos, ou no ângulo que a sua boca faz enquanto abre pra xingar, no espaço entre os seus dedos quando de noite você se toca embaixo do edredon.
naquele fechar de porta, naquele restinho que ficou no prato, na sua predileção por miojo e ovo mexido na pressa da falta de organização cotidiana, naquele corre-corre que espalha as suas roupas pelo chão da casa enquanto você procura desesperadamente por aqueles malditos papéis que você nem sabe onde estão.
ali, bem ali, no seu susto quando abre a fatura do cartão de crédito, no pânico quando vê a barata subindo pelo azulejo da cozinha, no seu cansaço quando recebe ligação da mãe cobrando um marido um emprego um filho e contando que aquela tia velha morreu e que você é insensível por não querer ir no velório.
queria ser aquele instante em que você tem uma puta boa ideia, mas ela passa tão rápido que você se embola e nem consegue anotar. queria ser aquele seu brainstorm quando você se larga sozinha no sofá num domingo lento e monótono chapada, queria ser até aquela sua larica louca que mistura tudo que tem na dispensa e na geladeira.
queria ser o seu relógio enchendo seu saco te chamando pra encarar aquele chefe de merda na segunda-feira às 5:30 da manhã, o café que você não consegue tomar direito porque se atrasou no papo do "mais 5 minutinhos, porra...", o ônibus que você perdeu, o outro que você pega e está lotado e parando em todos os pontos, queria até mesmo ser o seu mau-humor de chegar cansada e ainda levar esporro no trabalho em mais uma segunda-feira escrota.
queria ser a sua rotina. o seu feijão-com-arroz. a sua surpresa, o seu tédio e até a sua tristeza.
porque não tem nada pior do que simplesmente não ser e não estar pra quem se quer.

domingo, 11 de agosto de 2013

Coisando

Não existe nada de novo mais. O novo é um negócio que já passou, tá velho, esquecido e empoeirado, mas que a gente descobre remexendo num armário ou num baú velho e sacode pra usar. Ás vezes a gente bota um glitter, um sorriso, um salpicado de granulado e aí parece novíssimo e arrojado, mas é só um negócio de antes com uma carinha diferente daquela.
Fico me perguntando a origem das coisas, aí fico assim.
Fico achando que nunca as coisas foram novas, mas sim as ideias, as vontades, as necessidades. Tudo foi crescendo e se adaptando desde o fogo e a roda até o bluetooth.
Fico imaginando que de eureka em eureka a gente foi criando tanta coisa, e tanta maravilha, e tanta porcaria, e aí veio a utilidade, o acúmulo, a indústria, o capitalismo, o dinheiro, o poder, o ter, o querer, o consumo, os males psicológicos, e a deturpação da utilidade das coisas também.
Fico imaginando uma vida sem coisas, mas aí não ia ser vida. Somos uma coisa.
Tava aqui lendo os classificados, pensando no emprego que eu tenho que arrumar, nas cobranças que me fazem e nas que eu me faço, pensando que largo cursos pela metade, nunca paro de fumar, tenho contas penduradas em bar, um amigo desaparecido, e aí me dei conta que tudo isso são coisas. A gente se acostuma a ser coisa também e a coisificar o que não se coisifica.
No fim das contas, o que não é coisa, acaba se tornando coisa. Mesmo sem querer.
Ah, é cada coisa que eu penso...

terça-feira, 30 de julho de 2013

Não era engano

O telefone tocou. Eu atendi.
E aquela era a última voz que eu esperava ouvir.
Na hora eu não percebi, não me liguei em quem era. Mas quando desliguei o telefone, me assustei, percebi, reconheci a voz, e fiquei em choque.
Ela queria falar com a minha mãe, eu disse que ela não estava, a voz despediu-se e desligou. E eu nem percebi. Na hora.
Porra, se eu tivesse ficado mais um segundo com aquela voz entrando pelos meus ouvidos...
Caralho, que sensação escrota...
Que vontade de ligar de volta, de falar um monte, ou de ouvir aquela voz de novo. Só ouvir. Calada. Porque não tem nada mais pra ser dito.
Queria gritar, numa sensação esquisita de alegria mas com um toque de arrependimento. Eu cheguei a sentir saudades. Me sinto tentada a ligar de novo. E agora estou aqui olhando esse maldito telefone, esperando ouvir uma voz que não vem.
Merda!
Liguei pra minha mãe, avisei quem era. Ela perguntou se eu tinha certeza, eu disse que sim. Ela ponderou se deveria ligar de volta. Falei que talvez fosse importante, então que pelo menos mandasse uma mensagem. Minha mãe perguntou se eu tinha certeza de novo, porque parece sem sentido e em certa parte inacreditável que ela tenha ligado aqui pra casa assim, tão do nada. Eu respondi que tinha ouvido aquela voz por muito tempo pra me confundir, e sim, eu tenho certeza, era ELA, não podia ser outra, eu reconheci a respiração o tom da voz, a rapidez com que articula as palavras e ao mesmo tempo a serenidade e a sutileza com que pontua as frases. Cheguei a enxergar um sorriso no seu rosto.
Desliguei o telefone com a minha mãe. Ainda chocada.
Acho que o sorriso deve ter se apagado depois de ter me ouvido. Agimos como se fossemos duas estranhas, como se ela nunca tivesse passado na minha vida, como se nunca tivesse havido nenhum centímetro de intimidade pra além do telefone.
Ou isso sou eu, supervalorizando o sentimento que alguém que me trata como "filha da dona da casa" possa ter (ainda) por mim.
Só sei que fiquei sem ar, fiz um retrospecto de tudo que aconteceu, tive vontade de me desculpar, de perguntar como a vida dela está agora... Ela parecia feliz pelo tom de voz. Parecia que a vida estava boa, leve, tranquila.
Depois de muito surtar percebi que estava tarde e quem eu estava esperando não veio. E aí eu voltei pra minha realidade e fui terminar de fazer o que eu estava fazendo no computador.
Mas ainda com esse pensamento incômodo na cabeça, tentando achar um motivo, ou talvez achar alguma coisa que me fizesse desacreditar que era ela mesmo.
E assim acabei dormindo.
Preferia que fosse engano. Meu, dela, de todo mundo.

sábado, 29 de junho de 2013

Deixo saber a todos!

Essa vida é de mágoas... Escrevo a todos que queiram saber.
Essa vida é de mágoas. Desgraçados que passam pelo mundo, despedaçados, com sentimentos empoeirados há muito, engessados por dentro, consumidos pelo silêncio apático dos córregos salgados de uma doce tristeza que enuncia a desilusão... Estas linhas mal feitas são fruto de um acidente, de um transborde de mágoa, dessa vida amalgamada dentro do coração, é um aperto a mais naquele nó na garganta, é um marejar a mais de olhos pregados no horizonte de ressacas. Estas linhas são para vocês, são para nós.
Cuidem de cada palavra com o mesmo acalento que debruçam sobre suas tristezas.
Somente nós compreendemos o estertor lancinante de uma dor... da angústia carregada de ressentimentos, daqueles pensamentos insanos, daquele fim sem começo.
Somente a vós, privilegiados, foi concedido o dom de delicadamente sorver cada palavra como um gole de rum misturado em angostura. É de se entorpecer, mas também é de se amargar. O amargor é um gosto nosso, para combinar com o fel que nos despejam aos lábios a vida, desde o tenro romper do primeiro abrir de olhos.
Somente aos bêbados, desgraçados, putrefatos em bares, envelhecidos em bordéis, apodrecidos em vida é possível a degustação destas linhas embebidas em desventuras e mal caminhos.
Que estas linhas de conformidade aplaquem um pouco a dor que sentimos, nobres colegas.
Pensemos que tudo que aqui vive, é destinado a um caminho apenas, ao qual não se foge nem se impede. O que nos atormenta é o que fazer até a chegada ao ponto final do texto, até o último respiro, a última colheita, até o último passo, último qualquer coisa.
A nós ficou reservado o peso de um amor mal escolhido, ressentido, engruvinhado, um amor que antes de romper a casca já estava choco.
A nós ficou a orfandade de laços sanguíneos, de seio amparador e consolador das dores, sem berço esplêndido, sem maiores amores.
A nós restou a vagabundagem, a mal sucedência da profissão, da carreira, da pobreza de saberes, de alma.
Ficou o amargor, o azedo da vida... Até os poucos bons momentos que a tão vil vida trouxe, deles só restou saudade vã, cobertas de névoas, quase encaixotadas em um porão de esquecimento.
Irmãos de dor, de copo e de tão amarguradas mágoas, choremos todas estas mágoas, lendo essas linhas, ridículas linhas, tão somente de mágoas cheias, até o momento do repouso sob a sombra refrescante de um cipreste em campo.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Tava aqui vagando pela agenda do celular...


Tentando escolher o alvo da noite, a sortuda que eu pegaria e levaria ao êxtase de orgasmos. Mais certo do que qualquer lei da física.
Eu tava bebendo meu café, procurando por letra, mas isso é meio óbvio, e pouco eficiente. Procurei pelas que moravam perto, por pura preguiça, mas achei que queria mesmo era passear. Procurei pelas mais novinhas, mas aí lembrei que essas grudam e vem logo com um papo brabo de começar a te chamar de "minha" que me dá arrepios. Não é bom perder o controle desse tipo de coisa. Queria ouvir música, abri minha pasta de downloads no computador, coloquei minha playlist no aleatório e voltei a procurar na agenda. Procurei por estilo musical, e acabei cantarolando uma música, uma que me lembrava coisas boas e começava até com um assovio. E aí tropecei com um resto de você que devia estar passeando despretensiosamente pela minha cabeça.
Olha isso, olha pra mim. Estou saindo com mil garotas, chamando a mãe delas de sogra, mandando frases feitas e beijando sem um pingo de amor. Isso não é legal. Mas me mandaram parar de drama. Falaram que você não me ama, só me quer como amiga… E bem, chorar já não estava resolvendo. Resolvi levar a vida assim: Bebendo e beijando cada uma. Até te esquecer ou me apaixonar por alguém. Alguém que não vai ser você. Idiotice. Esse tempo frio, chuvoso, me faz ficar assim, sabe? Com uma saudades de te arrastar pro shopping e procurar alguma coisa pra fazer. Agora eu não faço isso com as meninas; Eu as levo pra qualquer lugar deserto e de noite, bem, eu fico pensando como eu me tornei isso. Sei lá. É esse tempo chuvoso, esse frio me faz lembrar que eu te amo. Mas amar demais, sofrer demais, mata.
Daí a música acabou, eu pisquei e voltei aos nomes no celular.

domingo, 12 de maio de 2013

Um sonho qualquer


Eu estava numa cabana, só que sem um estilo rústico, na verdade era quase um mini apartamento, uma espécie de apart hotel, com mais duas amigas, uma delas escritora, a outra não exercia a profissão e tinha acabado de se divorciar. Na verdade, isso não importava muito.
O quarto onde estávamos era ligado à sede do hotel/apart por um caminho de pedrinhas, e esse caminho era coberto por uma cobertura de trepadeiras. Pelo cheiro das flores, pareciam pés de maracujá.
Era um desses municípios interioranos do estado. Muito aconchegante, charmoso, um tanto isolado, mas com uma série de confortos que me faziam sentir como em um centro urbano, sem maiores considerações.
Ouvimos falar de uma espécie de lenda urbana, um cara conhecido como lenhador, que teoricamente era uma espécie de serial killer. Lógico que não demos a mínima pra informação.
Mas logo na segunda noite que estivemos por lá, ouvimos uns barulhos, un gritos, vindos da sede. Eu não queria ir pra lá, já vi alguns filmes de terror e sei que esse tipo de coisa não dá certo. Coloquei minhas coisas na mala de qualquer maneira, e queria fugir, ir embora. Mas as outras duas curiosas queriam ir até a sede e ver o que tinha acontecido. Eu relutei em ir, queria era ir embora, pagando ou não, não me interessava, queria voltar pro Rio.
Inexplicavelmente, me convenceram a ir dar uma olhada na sede.
Chegamos lá, tinha cheiro de morte no lugar. Sangue (muito sangue), mulheres, crianças, animais... tudo morto. Os homens estavam amarrados e imobilizados em uma posição que dava a entender que tinham sido estuprados e depois mortos.
Tinha um corredor, menos iluminado ainda, onde as duas imbecis se enfiaram, e eu, nesse momento, resolvi deixá-las ali e ir embora. Afinal, elas queriam morrer, problema delas, eu só queria voltar pra casa. E não queria dar uma de super heroína não, não ia denunciar, criar alarde, nem nada. Só estava querendo me salvar. O resto que se foda.
No momento em que me preparo pra sair da sede, com a mão na maçaneta, sinto uma presença atrás de mim. Imaginando que não era nenhuma das duas imbecis, disse ainda de costas "vai me matar?" ao que ouvi uma voz feminina respondendo e se aproximando de mim enquanto respondia "não. não vou te matar. quero conversar com você." e a última palavra foi sussurrada bem perto do meu ouvido.
Perguntei se podia me virar, ela disse que sim. E aí me deparei com uma mulher bonita. Não era uma daquelas mulheres super gostosas, passista de escola de samba, nem assistente de palco dos programas da globo, era uma mulher mais ou menos da minha altura, estatura média, morena, com cabelo liso, parecia meio índia. Estava vestida de preto, mas dava pra sentir um cheiro de sangue vindo das roupas dela, que logicamente estavam ensopadas de sangue. Ela usava luvas, e tirou-as pra falar comigo. Me pegou pela mão, e me conduziu a uma parte daquela sala muito mal iluminada.
Sentamos num sofá que tinha ali na recepção - agora macabra. Ela me olhava de uma forma estranha, e eu não senti medo, não sei por que. Ela começou falando que ela era o que as pessoas conheciam como lenhador, explicou que fazia aquilo por um misto de prazer e vingança, e ela percebeu que eu não estava com medo, e quis saber o motivo. Eu fui sincera e disse que não sabia explicar, mas não sentia medo dela, mesmo vendo aquilo tudo que ela tinha feito. Perguntei por que ela estuprava os homens e decepava as mulheres e crianças. Ela disse que esse era o padrão dela, e que achava aquilo justo, já que o esperado é que se estupre mulheres e crianças. Era uma espécie de diferencial, uma forma dela deixar sua marca. Ela foi além e disse que matar as crianças não era o que ela gostaria, mas tinha que matar as mães e viver sem mãe era muito ruim e doloroso, então matava as crianças como uma forma de redução de danos.
Conversamos por meia hora mais ou menos. Até que as minhas amigas idiotas voltaram do corredor escuro, completamente chocadas, uma chorando compulsivamente e tremendo e a outra vomitando. Naquele momento não senti pena, não fui compreensiva, senti raiva por terem atrapalhado minha conversa, por serem idiotas, fracas, burras, por estarem ali, por serem minhas amigas, por existirem... Desejei que morressem.
Acho que meus pensamentos foram ouvidos pela índia assassina que estava ali, conversando comigo ali. Ela se aproximou delas e rapidamente, como se fosse o the flash ou coisa assim, sacou uma espada curta e cortou-lhes os pescoços. Eu não vi de onde ela tinha sacado a arma, mas depois percebi uma bainha de couro presa à perna direita.
Ela me pediu desculpas pelo sangue excessivo, pela brutalidade e perguntou se eram minhas amigas. Eu disse que eram mas que não sentia nada mesmo tendo assistido a morte delas na minha frente. Disse ainda que, de certa forma, tinha que acontecer.
Parecia que ela tinha entendido minha linha de raciocínio e meus sentimentos em relação àquelas duas. E então ela sorriu e sentou-se no sofá mais próxima a mim. Me olhou nos olhos durante um tempo, ajeitou meu cabelo e eu senti um carinho gostoso, um arrepio, um frio na barriga... Ela parecia ter percebido, e então me beijou. Eu correspondi ao beijo, um beijo delicioso, carinhoso, sutil... perfeito.
Há tempos que eu não era beijada daquela forma, estava excitada, queria mais do que o beijo, e assim como tudo que tinha acontecido antes, a índia percebera, tirou minha roupa de uma forma meiga, sempre me beijando, e olhando nos olhos, com muita calma, e eu fui correspondendo a cada movimento, como se fosse combinado, como um balé. Estávamos nuas, e eu totalmente entregue, querendo aquele sexo mais do que todos os outros que eu tinha feito anteriormente na vida.
Foi uma delícia, eu gemia de prazer a cada toque dela, a cada roçar de lábio na minha pele, a cada lambida... Eu podia sentir ela igualmente excitada porque a medida que me possuía, com calma, carinho e respeito, sua respiração ficava mais sôfrega e podia ouvir alguns leves gemidos que soltava.
Gozamos no sofá, e continuamos ali, queríamos gozar várias vezes, eu queria aquele corpo lindo, com tons de canela, respingado de vermelho, e sentia que ela me queria também.
Eu não sentia horror aquele ambiente, não sentia medo, não queria outra coisa que não fosse aquela mulher. Cheguei a pensar que estava apaixonada, mas enquanto transava com ela não conseguia pensar muita coisa. Lembro vagamente de ter pensado que aquele estava sendo o melhor sexo da minha vida... Aliás, antes de tê-la não acreditava no termo "fazer amor", achava que sexo bom era aquele sexo louco de tirar o ar. E descobri que tinha me enganado.
Ela me conduzia como se fosse em uma dança. Fizemos várias posições, transamos pelos corredores, no chão, nas paredes, eu pude explorar o corpo dela de forma completa e ela pode examinar cada centímetro da minha pele. Ficamos horas ali, nos consumindo no nosso prazer.
Antes do dia amanhecer, levantamos, ainda sem dizer nada, pegamos nossas roupas e fomos pro meu quarto. Nuas, andando pelo caminho que ligava a sede aos quartos, aquele frio matinal me deixando arrepiada me fez apressar o passo e dar uma corridinha até o destino. Tomamos banho juntas. Estávamos imundas de sangue, mas isso não diminuiu o tesão que estávamos sentindo uma pela outra. Transamos novamente no box. E novamente foi uma delícia.
Ao sair do banho, colocamos as roupas sujas num saco pra jogar fora depois, pelo caminho, emprestei umas roupas minhas pra ela e dali seguimos no meu carro pro Rio.
Chegando na minha casa, transamos novamente. Por horas. Até que esgotássemos as nossas forças.
Dormimos abraçadas, de conchinha. Até que senti uma leve dor, uma picada de agulha, na coxa e acordei. Perguntei o que ela tinha me injetado e ela disse que seria rápido, e que eu não sentiria dor nenhuma. Ela disse que eu tinha sido a mulher mais incrível que ela já conhecera, mas a chacina que ela promoveu no hotel seria a última da vida dela e muito provavelmente ela seria pega por isso. Disse que queria que fosse diferente, que acabou sentindo por mim uma coisa que nunca tinha sentido antes por ninguém, que provavelmente estava apaixonada, e que viver uma relação comigo não era opção. Como acabaria presa mais cedo ou mais tarde, e teria que passar a vida fugindo e se escondendo pra evitar que isso acontecesse, e logicamente teria que me levar junto e fazer de mim cúmplice, optou por nos matar. Ela disse que não saberia lidar com a ideia de me perder, nem me ver com outra pessoa. As palavras foram ficando meio confusas a partir daí. Pedi que ela ficasse em cima de mim e me beijasse. Com um pouco de dificuldade foi o que ela fez. E ficamos assim, nos beijando e nos olhando, esperando a morte chegar. Balbuciei um "eu te amo" e depois disso vi ela amolecendo e senti pesar em cima de mim.
E daí, acordei.

terça-feira, 12 de março de 2013

Wallflower


Lembrei de um momento, de um instante que durou cerca de 1h e 40min, e que ficou reverberando ainda na minha cabeça.
Tinha se aquietado e sumido, aparentemente, mas por ocasião de ver uma coisa qualquer, acabei me lembrando do filme, do dia, com quem estava, onde estava e ficou tudo ainda mais especial. No final eu chorei. Lembro o que eu senti quando chorei, lembro que eu achava que podia ficar comparando fatos e histórias minhas com Charlie, as vezes me confundia com Sam e no final das contas me achava parecida com Patrick.
Me senti naquele momento que ainda estamos adolescendo mas precisando crescer, e aí vem as decisões, os medos, as pressões, as fugas, os traumas... Tudo parece se embolar e vira um turbilhão.
Tudo é muito. O que é ruim é muito. O que é bom é muito. O que é triste é muito. O que é alegre é muito. Os amigos são muitos. Os pra sempre são muitos. Os nunca mais são muitos. E o tempo passa, a gente descobre que o muito é nada. Ou quase nada.
A gente vai se limitando, se ensacando, se separando, se selecionando e colocando em caixas cada vez menores, de porções cada vez mais individuais, onde todo aquele muito não consegue caber, mesmo dividido.
A gente vai sonhando menos, sentindo menos, se importando menos... E chamamos isso de amadurecer.
Não é que não se deva, até porque tudo que é muito uma hora cansa, extrapola, exagera, e perde o sentido. Perde a graça. Perde o brilho, junto com a tal da juventude.
Mas é tão bom aquela sensação de inabalabilidade total, peito de aço, ideias incríveis, tempo de sobra pra experimentar tudo o possível, pouco dinheiro, programas de índio, e amores arrebatadores, com direito a frio na barriga.
Primeiro beijo, primeira transa, primeiro porre, primeira curiosidade de matar a curiosidade, primeira vontade de andar na direção contrária, só pra ver como é que fica.
Tudo isso me veio de uma só vez. E lembrei de cada vacilo, cada mancada, cada cagada, e depois acabei rindo. Lembrei dos momentos de expectativa e tensão com o que era novo, com o que era proibido... E acabei lembrando que acabou.
Lembrei de roupas, de músicas, de lugares, de hábitos, de livros, de garrafas, de sapatos (ou melhor, de tênis), de maços, de dúzias, de litros, de metros, de quilômetros, de centímetros, de quilos... até de passos.
No fim das contas eu não só lembrei, mas vi, talvez tenha ouvido, senti e quase quase transcendi e me atrevo a dizer que "posso jurar que naquele momento nós éramos infinitos".
Porque éramos. Éramos o muito, o supostamente ilimitado, o pra sempre. E no fim, o nunca mais também.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Curiosidade e interesse.

Eu adoraria falar um pouco de psicanálise e filosofia, apesar de ser graduanda de ciências sociais...
Os temas me interessam e eu venho tendo uma certa curiosidade crescente sobre os dois assuntos.
Pode ser que eu esteja falando besteira nesse texto, mas pretendo me arriscar da mesma maneira.
Não falo sobre psicanálise sob a ótica filosófica, nem falo sobre filosofia sob a ótica de um psicanalista. Falo sobre filosofia e psicanálise a partir do que eu, dentro do meu conhecimento (e aí abro precedente pra seja julgada e criticada, e, por favor, também corrigida em caso de deslize) de cientista social em formação.
Eu estava lendo sobre o início da psicanálise pela internet, nada específico, não eram os compêndios de Freud, mas estava lendo sobre a invenção e a conceituação da psicanálise. Por conhecer bastante gente de psicologia, e por já estar familiarizada com os termos e verbetes, consegui entender mais coisas do que eu achei que entenderia. Mas fiquei com uma questão rondando pela minha cabeça: o conceito de razão, até então concebido de maneira cartesiana (desde Decartes, o conhecimento humano seria definido por meio da evidência para a consciência, ou seja, o que é evidente pra mim, na ordem das razões, deve ser verdadeiro na ordem das coisas), está sendo rompido por Freud, que abandona a segurança do consciente racional pra abraçar a ideia aterrorizantemente desconfortável do inconsciente (pros Jungianos, "inconsciente individual", no caso).
Por que eu me refiro a esse novo paradigma como algo desconfortável? Oras, porque até então a razão comportamental era baseada na racionalidade.
Em algum momento das nossas vidas já ouvimos: "Ah, isso é psicológico, não é nada", em casa, no trabalho, no barzinho, e inclusive dentro do consultório médico. A partir do momento em que essa frase é proferida, o discurso médico coloca no sintoma o sentido de que ele não existe, é mentira, é falso.
Freud levanta seus questionamentos a partir dessas afirmações, essas tentativas de invalidar o psicológico porque ele não tem propriedades racionais concretas, ou seja, não apresenta aparente validade sob o ponto de vista do raciocínio cartesiano. Com o advento da psicanálise, a atenção começa a ser voltada para esses sintomas "inexplicáveis", como a histeria, a neurose, o obsessivo, o paranoico, etc. O cerne de partida da psicanálise seria justamente que qualquer sintoma significa um alerta verdadeiro de um aparente desequilíbrio, mesmo não apresentando comprovações orgânicas reconhecidas, ou seja, mesmo que aparenteente aquele comportamento seja completamente injustificável após exames e análises médico-científicas, ainda assim não significa que o paciente não estivesse de fato sofrendo sob efeito de algum mal.
Enfim, Freud pega o valor "nada" atribuído ao que se chama de sintoma psicológico e dota ele de verdade, ou seja, ele torna real o que antes era apenas uma "bobagem" da cabeça do paciente.
Freud, então, começa a analisar esses sintomas como comportamentos, sob a luz de uma teoria que fundamenta a prática da escuta e a partir daí um tratamento para esse sofrimento de ordem psíquica. E deste processo fundamenta-se uma teoria do sujeito baseada em:
  1. a estrutura inconsciente da atividade mental, e;
  2. o caráter pulsional da sexualidade humana.

A partir da fundamentação dessas novas premissas se dá um confronto/questionamento de dois pilares da filosofia:
  1. a equivalência entre subjetividade e consciência, e;
  2. o postulado da autonomia da vontade.

Vou tentar explicar.
Como eu disse logo no começo, quando o sujeito deixa de ser caracterizado pelos atos conscientes apenas (que era o princípio da razão, desde Descartes) Freud propõe uma nova teoria da subjetividade, abandonado a certeza de que tudo possui uma resposta consciente. E, quanto a questão do caráter pulsional da sexualidade humana, Freud questiona o paradigma Kantiano, o qual nos obriga a responsabilidade direta de quaisquer atos, pois agimos unicamente baseados na autonomia da vontade.
Em oposição a Kant, Freud afirma que as pulsões não são decisionais, ou seja, de ordem inconsciente - por isso talvez ele utilize a palavra "trieb" e não "instinkt", pois a última denotaria algo que obedece a um padrão instintivo, ou seja, aprendido e apreendido ao longo de gerações, enquanto "trieb" daria a exata noção de um comportamento natural, sem pré-formação nem objeto específico.
As pulsões, então, dentro de nossas escolhas sexuais (e também escolhas relativas ao nosso próprio ser), não correspondem ao que chamaríamos de "vontade livre", muito pelo contrário, na verdade estaríamos submetidos - ao menos em parte - a fatores contingentes ligados à nossa singularidade enquanto sujeitos.
Depois do início da desconstrução da razão tal qual a conhecíamos por Freud, Lacan lança o sintagma "a razão desde Freud", de forma provocativa, para demonstrar que seria impossível ser indiferente a essa (até então) nova teoria e como dispositivo de uma práxis (a invenção e aplicação da psicanálise) sob a  racionalidade humana.
Segundo Lacan, a psicanálise literalmente abala as relações entre saber e verdade. Relação esta que anteriormente já teria sido questionada por Hegel. Segundo o mesmo, verdade e saber constituem dois conceitos separados, com afinidades entre si, coincidentes no campo do saber absoluto, mas ainda assim pertencentes a duas ordens distintas.
Bom, a razão, enquanto estrutura, não se referencia exatamente com o exposto aqui, mas perpassa sobre essa discussão.
Por exemplo, quando Freud trata do inconsciente, ele não afirma que nós não conhecemos nossas ideias, o que nós mesmos pensamos ou somos ou escolhemos, como se tivéssemos um segundo eu obscuro e sem controle dentro de nós mesmos, como se no fundo não fossemos racionais. Trata-se, na verdade, da afirmação de que o inconsciente se estrutura de forma sistemática, onde o pensamento, antes de  tornar-se algo "concreto", ou seja, consciente, é inconsciente (o que justifica/exemplifica o ato falho, quando uma expressão, seja ela na fala, na memória ou física, acontece aparentemente "sem querer").
E daí conclui-se que Freud não só inventou a psicanálise, como também derrubou o paradigma da razão cartesiana e a lógica kantiana sobre as ações humanas (ambas baseadas unicamente em uma racionalidade consciente), ou seja, ele inaugura um novo postulado, onde se questiona o que viria então a ser a razão humana, se fossem levados em consideração também o princípio da pulsão e o inconsciente.
E aí vem o meu questionamento: é possível estabelecer um comparativo/uma relação entre psicanálise e filosofia, mas como utilizar esses conceitos psicanalíticos pra analisar e repensar a sociedade (leia-se, as teorias sociológicas), os conceitos de coletividade, a questão da solidariedade (mecânica e orgânica),  o "fato social" Durkheimiano, a estética e a criação de padrões, etc?
Vou experimentar essa mistura e ver o que acontece (tomara que seja algo para além de Goffman).

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Nostalgia Novelesca


Tem o mito, que é Odete Roitman, que LOGICAMENTE, não é do meu tempo, mas eu lembro de ter assistido quando era pequena num desses vale a pena ver de novo. Fez maldade a vida INTEIRINHA, e até quando morreu deu dor de cabeça (quem nunca ouviu aquela máxima "quem matou Odete Roitman"?).
Tem a Laurinha, de Rainha da Sucata (outra que vi pelo vale a pena ver de novo e ouvi muito falar no Video Show, desde a época de Miguel Falabela). Laurinha era uma mãe super preocupada com seu filho, vivido pelo Tony Ramos, de levar o golpe do baú pela ex-sucateira, que era a Regina Duarte (antes de ser esquizofrênica), nova rica... aí se jogou do alto de um prédio qq lá em sampa, com um brinco da sucateira na mão. A mulé parou na cadeia, deu mó merda, enfim... mto má.
Tem a Norma (Carolina Ferraz), de Beleza Pura, que era uma engenheira sufrida, recalcada pq o hômi dela tinha preferido a outra novinha lá. Ela fez umas merdas, mas NADA é melhor do que o bordão "EU SOU RICA, RIIIICAAAA!". Foi uma incrível contribuição pra humanidade, principalmente pros LGBTT.
Tem a Maria Regina (Letícia Spiller), de Suave Veneno, que me dava medo pq eu só lembrava dela como duas coisas: ex-paquita e Babalu. Aí do nada ela aparece de cabelo curto, todo preto, só usando roupa preta e não dá uma risadinha (a não ser as gargalhadas macabras) a novela toda! Ela não era exatamente uma vilã muito má não, era mais mal amada mesmo. Foi traída pelo marido, aí ficou de caso com o motorista, e enlouqueceu depois disso. Mas pra mim dava medo.
Ah, eu lembrei tb da Adma, vivida pela Cássia Kiss, em Porto dos Milagres, que fez de tudo pra fuder com a vida do Guma, matou gente, os caralhos... ela era bem louca, tinha até um anel com veneno dentro.
Tem uma que eu ADORO, que é a Raquel, de Mulheres de Areia, vivida pela Glória Pires, que só queria o mal da Ruth, sua irmã, e que tinha deixado o Toinho da Lua retardado porque tinha tentado envenenar a irmã e acabou que o imbecil do Toinho que pagou o pato, tentou roubar o marido da irmã, enfim, tudo inveja.
Falando em tudo pra fuder a vida da irmã, lembrei dela, a preciosíssima Flora (Patrícia Pilar), de A Favorita. Cês viram a novela, sabem que a mulher ACABOU com a vida da Donatela (Claudia Raia), que já tinha um nome horrível e tinha uma mancha no passado que foi fazer dupla sertaneja com a Flora (sem saber do ódio fudido que a irmã adotiva sentia por ela).
E o que é Fernanda Montenegro fazendo a Bia Falcão, e Belíssima?? UM MUST! Tentou impedir os netos de casar com "gente pobre", já que era riquíssima, mas no passado teve um rolo com o Murat (Lima Duarte), que dispensou todo o dinheiro dela pra viver com a mulé dele lá q eu não lembro o nome, mas sei que era a Irene Ravache.
Tem também a Laura (Cláudia Abreu), de Celebridade, que fazia um par quase romântico com o Renato, editor chefe de uma revista de fofoca famosérrima, que era o cheirador do Fábio Assunção. Ela tb era uma vilã ótima.
Tem a Bárbara (Giovanna Antonelli), louquíssima, que tá passando agora na reprise, em Da Cor do Pecado, que faz tudo pra agarrar um macho rico, e encontrou um cara esquisitíssimo pra ajudar ela (Tony), tem os pais mais falidos, confusos e flopados de toda a novela e acaba louca num vestido de noiva num lixão, ou sei lá aonde, no fim das contas. Vilã sem sal, flopada, mas divertida pelo grau inexplicável de loucura ft, falta de nexo.
LUUUUUZ NA PASSARELA QUE LÁ VEM ELA: A NOSSA LOIRA FATAL - NAZARÉ TEDESCO!
Porra, na moral, Nazaré sequestrou, deu o golpe da barriga, matou umas 4 pessoas, inclusive o próprio marido, na escada e numa banheira de motel largando um ventilador ligado dentro dela, torturou a enteada psicologicamente por anos, invadiu a casa da Maria do Carmo, caiu na porrada com ela, inclusive, E AINDA SE ARRUMAVA TODA DE VERMELHO (vestido + esmalte + batom + sapato), PARAVA EM FRENTE AO ESPELHO E SE CHAMAVA DE GOSTOSA. Palmas, por favor.
E falando em loiras fatais, não posso deixar a nova diva passar em branco: CARMINHA! Essa eu nem vou comentar pq todo mundo sabe o que ela fez, pq todos aqui viram a novela (e quem não viu acompanhou tudo pela timeline do facebook).

Acho que lembrei de todas as vilãs TOP (e outras nem tanto assim, mas que ficaram na minha memória).
Alguém tem mais alguma a acrescentar?