terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Tem que demorar

Tudo que é importante demora.
Como um banho, você demora porque quer se limpar, quer se perfumar, quer curtir a sensação da água pelo seu corpo, quer se sentir linda e perfumada, lava e ajeita os cabelos com cuidado, mas não faça isso por outra pessoa.
Um vestido lindo, novo, por exemplo, não deve ser vestido para que outra pessoa admire, basta que você mesmo se deleite, se sinta bem.
Os homens realmente não reparam muito nisso, lógico que o aspecto visual conta sim, mas conta menos do que a gente imagina.
Já conheci mulheres lindíssimas que não sabiam a diferença entre destinatário e remetente, por exemplo.
Burrice é desestimulante. Saber conversar e ter bom humor é essencial. Porque um sorriso dado com a boca é lindo, mas um dado com os olhos é perfeito, dá pra sentir a alma se abrindo, toda florida.
E aí aquela demora toda no banho se compensa.
Não basta conhecer alguém e levar pra cama, ou dizer que ama no dia seguinte. Coisas que vem rápido, realmente vão rápido.
Quando se constrói um sentimento ao longo do tempo, com a mudança de humor, de fase, de pensamento, com as chatices, as teimosias, as manias, aí sim se torna sólido. E além de sólido, se torna real.algo que não se pode quantificar com palavras.torna-se mais honesto, palpável, por saber exatamente o que se está sentindo, como e por quem.não importa saber o quanto ou até quando ou por que.
Ás vezes nos fazemos as perguntas erradas sem perceber.
É necessário muita coragem pra admitir uma coisa dessas pra si própria.
Sempre que vemos um filme, um relacionamento lindo, perfeito, lembramos sempre de algum que não deu certo, ou comparamos com o atual.
Se estivermos felizes, sorrimos, pra fora.se estivermos em crise, nos afastamos ainda mais do que sentimos pelo outro.e se estivermos sozinhos, é provável que nos sintamos culpados.
Por que essa culpa toda?
É tão vital assim nos sentirmos perdoados?
Novamente estamos perguntando a nós mesmos quanto, até quando e por que.
perdoar é um exercício de caridade. É preciso nobreza de espírito pra perdoar, de verdade, de dentro pra fora.
Quando se perdoa, se esquece.
E quando imploramos (ou esperamos) o perdão...desejamos realmente nos sentir bem com a outra pessoa ou só desejamos ficar em paz com nossa própria consciência, nos sentir bem, afagados no ego, um jeito de acalentar nossa vitimização.
Por isso nos embaraçamos em uma culpa que não existe; sempre esperamos uma reação do outro. A maioria vive de fora pra dentro, reparando no que o outro faz, como faz, o que fala, como escolhe as palavras, como lida com sua família, como se relaciona amorosamente, etc.
Sempre desejamos nos adequar ao outro. Isso, por mais paradoxal que seja, é egoísmo.
Egoísmo porque queremos fazer com que alguém nos veja como referência, como reflexo, como tudo aquilo de bom que essa pessoa espera.e quando erramos, parece que esse espelho se arranhou, ou rachou, ou quebrou...depende do erro.
Esperar que alguém te perdoe é perda de tempo, é como esperar uma libertação pra uma culpa, um erro, que só existe dentro da sua cabeça, te oprimindo.
Perdoe-se e liberte-se por si só. Vale muito mais a pena, porque isso sim é verdadeiramente uma liberdade.
Há quem tenha complexo de culpa, que sonhe em ser perfeito o tempo todo, da manhã até a hora de dormir.
O que eu posso dizer é que com o tempo nada disso vai parecer fazer sentido.
Eu mesma era assim.
Descobri que eu era tão medrosa, que não conseguia mais viver, no sentido de aproveitar a vida.
Em casa era como queriam que eu fosse, fazia o que mandavam, e ignorava tudo que achava grosseiro, que me chateava, que me fazia sentir humilhada. E sempre me iludia pensando que as coisas iam melhorar por si só, como passar do tempo.
Não existe nada que mude sozinho, sempre há a necessidade de um estímulo, um ponto de partida, aquele pontapé inicial que nem sempre vem de nós mesmos, mas sempre vem, e quando vem, é quase uma revolução.
Eu estudava como esperavam que eu estudasse, tirava ótimas notas. Queria estudar porque eu gostava, e fazer uma faculdade com a qual me identificasse, que amase realmente.
Me relacionava como os outros viam. Até então, todos os meus relacionamentos foram pautados no que eu ouvia de pai, mãe, amigo, colega, etc.
Cheguei a conclusão de que não estava sendo eu mesma há muito tempo, e comecei a ter dúvidas se eu saberia responder essa pergunta, tão simples: quem sou eu, afinal? Do que eu preciso? O que eu efetivamente quero? E o que eu não quero?
Até hoje não tenho uma resposta fechada pra isso, porque sempre que me descubro um pouco mais, adiciono um ou dois adjetivos a mim mesma, sejam eles positivos ou negativos. E quando penso no que eu quero...quero tanto! Quase posso abraçar o mundo com as pernas! E quando penso no que eu não quero a lista é tão longa! Mas isso não importa.
Ter definição pra vida também é tolice, porque é uma forma de limitá-la. Qualquer definição implica em limitação. É como se pegassemos uma palavra, qualquer uma, riquíssima nos seus sons, significados, e colocassemos nela uma forminha, aí sempre que essa palavra aparecer pra gente, no nosso subconsciente vai aparecer a forminha, pronta, com aquela palavra encaixotada.
Se com uma palavra é asfixiante assim, imagine com um vida inteira!
Uma vez eu ouvi de um amigo-professor (ou professor-amigo, sei lá) que a felicidade não é um ponto de chegada, é a busca por ela, é o processo, é o "cair e levantar".
É por isso que responder definitivamente as perguntas supracitadas não é necesário. O melhor de tudo é buscar a resposta, é testar esse auto-conhecimento, sempre tentando expandir, ao mesmo tempo em que é necessário sempre se focar em algo, indo mais a fundo, tentando descobrir as raízes de algo.
Dessa forma parei de me amarrar ao que os outros queriam, e pensavam, e faziam, etc...
Parei de ter medo.
Exceto quando se ama.
O amor é contraditório. É cruel, é lindo e é extremamente indefinível.
É como um veneno que a gente gostasse de tomar em doses homeopáticas, que a gente não sabe como vai nos matar e se vai nos matar.
Mas o amor é bom, faz parte da vida, e por mais que seja sofrido, é gostoso, te engrandece, te ensina, te inspira.
O mais impressionante do amor é que ele nos tira dos eixos. Ficamos sensíveis, pensamos muito, sentimos demais, a cabeça fica um pouco fora da realidade.
Buscamos tanto o equilíbrio que passamos a vida tentando acertar, por isso tantas vezes nos abandonamos em virtude do que o outro pensa, do que o outro vê. Tem quem se jogue de cabeça sem pensar nas consequências, assim como tem quem se controle e até se prive de conjugar o tão complexo e simples verbo amar.
Ás vezes perder o equilibrio da vida por amor, ou pelo amor, faz parte de viver a vida em equilibrio.
O amor demora a acontecer. Ainda bem.
Mas quando acontece é irrevogável, como a palavra depois de dita. Palavra... Por si só repleta de significações. A linguagem confunde e trai, tanto quanto é bela, como o amor. Por isso demoram tanto pra ser contruídos. A gramática da vida é a que mais tem regras, e mais excessões do que regras, por vezes.
Manter-se em equilíbrio exige demais de si mesmo, viver e saber aproveitar cada momento, saboreando cada vão momento, em toda sua coimpletude, saber que tudo de acaba e fazer fixar-se na memória como eterno, tudo isso é difícil. E nem todos conseguem, nem de pronto, nem com anos de meditações, reflexões e terapias. Amor... Dentre substantivo, adjetivo e verbo, este último é sempre o mais difícil de saber como lidar, mas quando o tomamos com coragem, ele muda.
A vida floresce. Não é fácil de se adaptar aos percausos e todas as grandes mudanças que com o tempo vem. Só floresce quando nos damos conta de vivê-la para vivê-la, e não por vivê-la.
O segredo está na coragem. Pra mudar, pra crescer, pra errar, pra amar, pra tudo.
Viver exige coragem. E paciência. Porque demora...

Um comentário:

Gehh Santos disse...

Não li tudo o texto (AINDA), talvez a metade, ou menos, mas o que li amei *-* Bem realista e profundo...

Um beijo