sábado, 29 de novembro de 2008

Homenagem à Carioquice!

Samba do Alívio – Tati Soares


Se o samba não sambasse com meu coração,
Não saberia como tocar meu pandeiro
E afastar dos meus ombros a minha triste solidão.
O cavaquinho dá o compasso
E desafia o banjo a ser tão atrevido quanto ele.
A cuíca geme a minha dor
Que no peito trago, tão mal guardada.
O choro mal começa e já emociona
O meu tão transtornado tan tan
Que bate, bate, mas não cala
O bumbo grave que insiste
Em me lembrar das batidas
Mal marcadas do meu peito.
O surdo de minha dor se compadece
Pára e escuta com atenção
Cada lágrima que cai de pesar
Pela falta que me faz sobrar
E que já não se cabe dentro de mim.
O vazio que se estende
Pelo infinito dos meus amores passarinheiros
Que crescem, criam asas e voam pra outros ninhos.

O tamborim me chama pra roda de samba
E o repique me repreende a cada lamento.
Mas não é samba de roda que quero cantar...
Não é samba pras moças se apressarem a dançar
É samba pra uma moça só.
Aquela que não quis sentir o abandono
Nos seus passos.
Aquela que não quis tocar o meu amor com as mãos
Mas com os pés.
Uma mulher que não teve olhos
Pra encarar os meus, vermelhos e cansados
De todo esse choro,
De todas essas notas,
De toda essa desilusão...
E o que me resta desta tão dolorosa separação
É sentar no bar,
Procurar no fundo do copo
O motivo do meu soluçar
E a rainha do meu desamor.
A musa do meu carnaval,
A harmonia da minha canção,
A veludez da minha voz,
Foi embora e calou meu violão.

Mas um dia o poeta vai de novo amar
E toda a bateria vai cadenciar na nova batida
Do meu mais novo samba de alívio
Que vai ecoar em toda Madureira e Lapa
A beleza e amplitude do verbo amar.
E o sol vai raiar, com toda certeza
Quando os companheiros estiverem na mesa
Toda a alegria regada em boa cerveja
E a melodia que pulsar em nossas veias
For uma declaração de amor
À nossa jóia rara:
A boemia na noite carioca.
E todos os sorrisos vão ressoar
Um uníssono de felicidade
E a dor vai entrar em desalinho
Com a voracidade veloz da paixão
Desse meu coração vagabundo
Desesperado por carinho
Que só se alimenta disso:

Boemia, malandragem, tristeza e canção.

sábado, 1 de novembro de 2008

Boemia...

Bamba

Ah, essa vida vadia que levo...
Levo aparências que não posso perder
Mil máscaras que quis usar
Fantasias pra sobreviver
E aprender que viver
É muito menos do que aquilo que se reclama
E que as pessoas que nos rodeiam
São muito mais do que aquilo que vemos...
Ou esperamos.

Meu coração vagabundo
Que tenta amores impossíveis
Desbrava e inventa contos de fada
Compõe e descompõe musas intocáveis
Que se extasia em ver desabrochar flores e amores
Que se arrasta aos cacos e prantos
Até o próximo amor
Com trilhas sonoras que jamais serão usadas
E faz cada novo amor parecer o último
E talvez, com sorte, o único.
Até chegar outro...
Esperando não chegar.

Uma vida de sonhos, paixões...
Sorrisos e decepções
Que só se descobrem
Quando se espera aquilo que não deveria
De algumas estruturas com falsos alicerces.

E assim se esvai a vida
A cada dia menos expectativa
E a cada sonho um novo mundo
Pronto pra ser desvendado
E revelado
Pra se descobrir que os sonhos que se tem
Não são um mundo que construído
E que se quer atingir
E sim aquilo que está tão perto
Que tropeçamos sem querer enxergar
Na correria pra alcançar
Algo que já se tem.

O tempo é sábio
Como dizem por aí
Mas só se entende essa frase
Quando se tem tempo demais na vida
Ou dor demais
Pra se repetir isso aos quatro ventos.
Mas ninguém acredita.

Meu coração
Mal vivido, mal trapilho, maltratado,
Mal visto e malandro
Com amores acorda
Com amores dorme
E mais amores cria em sonho
Me faz vagar entre caminhos cegos
E saltar de ilusões em ilusões
Só pra sentir o gosto
De mais outra desilusão.

Meu vagabundo coração
Que é criança
Por querer brincar comigo,
Com a vida que passa
E muitas vezes repassa
Em seu redor.

Meu vagabundo coração
Que bêbado caminha
Trôpego e soluçante
Passo a passo
E perde o passo
Mas nunca o compasso
Da boa e velha
Cadência de um samba.