domingo, 26 de junho de 2011

Complicado.

É, hoje também foi mais um dia difícil.

Acordei do lado de uma mulher que me ama, e vagamente me percebi pensando em outra. Como eu queria que isso acabasse logo!

Namorei uma que, em crise, praticamente me ignorou e resistiu se entregar a mim por um bom tempo. Acho que meu jeito louco de ser ajudou um pouco pra que isso acontecesse. Bem, o fato é que eu tinha certezas, eu sofria, eu amava loucamente, eu fazia planos, pensei em casar! Mas aí tive muitos problemas que se embolaram, cresceram e só tranformaram a minha vida em um céu cinza, um sentimento de vazio e perplexidade como o fim de um genocídio, uma depressão que, por mais irônico que possa parecer, era causada pelas pessoas onde eu deveria ter encontrado forças pra me apoiar. Fiquei sozinha um tempo, preferi me lamentar da vida, curtir uma boa inércia, uma fossa. Tinha descoberto que pra quem não se adapta, existe a noite, a marginalização, vícios dos mais variados posíveis, labirintos e ciladas. Entrei em todos. Me enfiei em um novelo.

Aquele amor, que parecia tão forte, tão certo, agora estava completamente jogado às traças, envelhecido, empoeirado, na verdade desfeito. Esqueci que ainda amava aquela mulher incrível que me despertava tantas coisas, me fazia admirar e me provocava uma incerteza e uma angústia que não podem ser descritas.

E um belo dia... Eu tive uma miragem. Que era real, infelizmente.

Era a menina da sala de prova, de um ano e meio atrás, que sentou perto da janela, que deixava que o sol fizesse os cabelos dela (na época longos) saírem do castanho claro pro loiro, a dona do sorriso (mais) lindo. Ela me reconheceu. E eu achei que tinha ganhado na megasena acumulada. Começamos a conversar e fui me envolvendo, pela voz, pelos olhares, pelos gestos, pelo joguinho de sedução... E eu não aguentava mais ficar naquilo. Pedi pra que ela me acompanhasse ao banheiro. Não, não era banheiro, era o espaço entre dois carros em uma rua escura, porque o bar não nos permitia entrar a menos que pagássemos um couvert de 10 reais, ou seja, impossível pra realidade de universitários fudidos que saem pra beber com apenas 5 reais no bolso, ou nem isso. Fomos, primeiro eu, depois ela, e aí eu pensei “por que não? É óbvio que ela é lésbica!” e a partir desse raciocínio sugeri de ficarmos conversando perto dali, naquele escuro, o que foi acatado por ela, sem mais. No meio da conversa eu me arrisquei. Fui ousada pela primeira vez na vida em relação a uma mulher, na verdade, a uma ficada. Não sei chegar em mulher, nunca fiz isso, nunca foi preciso, e eu nunca quis tanto... Disse que estava morrendo de vontade de beijá-la, e deixei tudo desconsertante. Ela deu uma resposta meio blazè, como quem não queria responder, meio com vergonha, meio dizendo que sim... Então eu sorri e segurei seu rosto em minhas mãos e disse “já entendi”, beijando aquela boca tão desejada em seguida. O beijo foi incrível, senti fogos de artifício dentro de mim. Fazia tempo que um beijo não encaixava tão perfeitamente como aquele. E eu só conseguia pensar “uau!” e logo depois “quero mais”. Ficamos ali nos beijando por algum tempo. Deu pra reparar que somos da mesma altura, que os movimentos que a língua dela fazia na minha boca eram deliciosos e inevitavelmente eu pensei como experimentar aquela boca no resto do meu corpo deveria ser algo simplesmente maravilhoso. Reparei também no cheiro dela, no formato dos dentes, em como sugava meus lábios, e qual caminho que as mãos dela faziam pelo meu rosto, pela minha cintura, costas, pescoço, como segurou a minha nuca, enfim... estava em êxtase.

Naquele momento eu reconheci uma armadilha. Porque, como se um botão tivesse sido acionado, alguma coisa começou em mim, e isso não é conversa de gente romântica e sonhadora não. Depois disso dormimos juntas, passamos algum tempo juntas, ouvimos música juntas, cozinhamos juntas, andamos de bicicleta juntas, almoçamos com um casal de amigas dela, que hoje considero minhas também (e é uma das coisas mais incríveis que aconteceram desde que eu a conheci, ela realmente une amigos ao meu redor). Era uma paixão, uma coisa completamente louca, insana, e sem controle que estava se apoderando de mim. E eu não tinha sequer começado a conhecê-la.

Depois disso tivemos muitas conversas sérias, sempre eu ouvindo um sermão básico, e sempre me sentindo um lixo, aquela angústia que a gente sente quando percebe que a pessoa que a gente gosta tá insatisfeita que vem com um pensamento de “putz, fiz merda...” e eu nunca falando nada. Na verdade depois das conversas eu mudava, sempre atendia os pedidos dela. Ela quer ser livre, e não ter nenhum tipo de compromisso e/ou responsabilidade, quer se jogar, curtir, mas não quer ser intensa, quer ser gradual, porque se sente atrelada à sua ex de alguma maneira ainda e é forte demais pra ela simplesmente ignorar. Ela diz que não acredita em monogamia, que não está apaixonada por mim, e que qualquer tipo de relação formal ou informal a assusta, porque rotina não dá certo pra ela, ela odeia esperar que algo aconteça, não quer nada que não seja imprevisível, como ela. Ela é inconstante, é incontrolável, completamente louca e aleatória. Ela está aqui agora e daqui a um piscar de olhos já não está mais. Ela tem muitos amigos e confia em todos, o que nem sempre é bom, mas ela permanece nessa crença, porque é a crença dela. E disso não se pode duvidar, ela sabe ser amiga. A melhor e a maior amiga que você pode ter na vida, mas não conte com ela se não estiver com ela. Porque ela é escorregadia, ela não tem celular, não para em casa, não gosta de excesso de procura, adora a casa cheia mas anda sem saco de abrir o portão pros 357 amigos íntimos que tem. Faz tudo de bicicleta, se bobear até tomar banho, e usa shampoo de criança pra lavar o pouco cabelo, agora curtinho, que ostenta. Tem uma rede extremamente confortável, malabares, almofadas e um aquário cheio de peixinhos filhotes e outro com peixinhos dourados, dentre outros. Não pode ser chamada de vegetariana, mas também carnívora não é... curte alimentação viva, faz umas pastinhas de soja que são uma delícia e suco de luz (acho que se ela se esforçar, um dia vai acabar fazendo fotossíntese). Aliás, falando nisso, ela adora um mato, viveria enfurnada dentro de uma floresta, se pudesse, encarnaria o Mogli ou o Tarzan, se possível fosse. É virginiana extremamente bagunceira, com ascendente em gêmeos e quase bipolar, com enúmeras personalidades, por isso. Poucas pessoas sabem que o seu nome do meio é Rodrigues, e ela não sabe que esse sobrenome me faz tremer por dentro até hoje porque foi o da minha primeira grande paixão, daquelas devastadoras (como essa agora) na vida e que muito me fez chorar. Ela também tem duas tatuagens, uma um pouco assustadora, e outra que tem o mesmo significado que uma das minhas, ambas nas costas. Aliás, coincidências é o que não falta entre nós. Temos diversos, vários amigos em comum, aliás, boa parte deles.

É... Pra qualquer um pode parecer um furação, um trem desgovernado – e é, de fato – mas não pra mim. É deliciosamente perfeita. Mesmo com toda essa gama de contradições e inconstâncias. Mesmo me machucando profundamente em alguns momentos, é tão carinhosa e atenciosa comigo em outros que, sinceramente, fica difícil de desapegar. Aprendi a admirar ela do jeito que ela é... e é esse o problema. Ela me faz pensar em querer ter, e não em estar, em ser. Ela me induz ao sempre, mesmo eu querendo o agora. Eis o cerne da questão.

Eu não quero admitir pra mim mesma que estou apaixonada por ela, porque sei que ela não quer isso. Ela não quer que eu dê tudo, sem esforços. Quem me conquistar, quer me provocar, quer me enlouquecer (e consegue). Ela me faz perder o juízo, confesso. E desse jeito eu não páro de pensar nela um dia sequer, e entendo e aceito essa minha condição de bom grado. Se é o que posso ter, prefiro isso a não ter nada, nem a amizade dela, nem os ouvidos, nem os abraços.

Até então... Qualquer um pensaria “qual é o problema dessa louca? Ela se apaixonou por uma mulher livre até da liberdade, mas entende e aceita isso... então, qual é a dela?”. Então... Lembra da minha ex, né? Aquela mulher que eu amei, e que não se entregava, fugia de mim, dos sentimentos, da realidade, não dizia “eu te amo” ou “senti sua falta” e só falava que gostava de mim quando eu pertubava muito, etc. ELA VOLTOU. E voltou disposta a tudo, disposta a me assumir, a mudar, a fazer planos comigo, a casar, ter filhos, dizendo que me ama e muito, e que sente horrivelmente a minha falta e que não quer mais sair do meu lado e não vai me deixar fugir nunca mais. E, sinceramente, ela está me envolvendo, mexendo deverasmente comigo. Impossível resistir a uma mulher que ainda habita meus pensamentos se jogando aos meus pés, exatamente como eu fazia com ela, como eu sempre quis que ela também fizesse comigo.

O problema é trocar alianças, estabelecer um relacionamento sério, sem falar pra ela dessa outra que eu conheci e que me revolucionou por dentro. Seria ótimo que a que eu conheci depois estivesse tão perdida de amores como a minha ex/atual. Ou se nenhuma das duas existisse mais na minha vida. Não quero ter que escolher, quero as duas, e quero muito... Quero a vida ao lado da minha ex/atual, mas quero o furor da paixão, o frio na barriga e a tensão sexual que sinto com a mais recente.

Quero parar de pensar na recente quando estou com a antiga. Quero não me sentir culpada pela antiga quando estou com a recente. Quero os beijos, as mãos e o ardor sexual da recente no corpo e na experiência da antiga. Quero o carinho e os olhares muito sinceros da recente no amor que a antiga diz sentir. Quero a leveza, a liberdade, os sorrisos, as afinidades da recente nos momentos a sós incríveis e cuidadosamente planejados da antiga.

Eu realmente não quero escolher, não quero essa exclusividade, sei que dói na minha atual, mas dói em mim também. Queria poder me dedicar e me entregar a essa relação em 100% mas não consigo, não agora. Estou esperando me desiludir da outra, tentando não encontrar com ela, mas temos muitos amigos em comum, frequentando os mesmos lugares, quase todos... Eu inevitavelmente busco os olhares dela, e ela os meus, de alguma forma, se os percebe. Eu sou uma imbecil por fazer uma mulher, uma boa garota, que mantém a conversa polida e decente, que quer habitar a minha cama todas as noites e manhãs e quer um mundo seguro ao nosso redor, SOFRER. Não quero isso... Quero tomar um rumo da minha vida, me reerguer, me recuperar da bagunça que a minha vida virou esse primeiro semestre de 2011, e tentar ficar bem com ela... Mas não dá, simplesmente, há algo que me puxa, me arrasta e me empurra pra outra. É algo irracional e completamente avassalador, e que se eu não controlar, vai me fazer sucumbir, mais cedo ou mais tarde. É bem verdade que a recente me ajudou muito a ver as coisas de uma forma mais clara, honesta, e quase decente, e me fez querer se uma boa garota também, mas não posso sê-lo do lado dela, e muito menos quero cair do erro de esperar por ela, porque é o mesmo que esperar por algo que não vem, e eu sei que não vem. Se eu ficar com ela, vou perder um porto seguro que muito me encanta, respeita e ama, que é a minha atual.

Nunca me imaginei nessa situação: amando uma e apaixonada por outra. Com a mesma fúria e a mesma precisão cirúrgica.

Não desejo isso pra ninguém... Porque eu sei que desabafar isso com alguém é inviável, e escrever é a única coisa que me faz sentir um pouco melhor. Mas eu PRECISO publicar. E publicando eu sei que vou me prejudicar, de alguma maneira, mas era a única solução. É um jeito de desabafar e confessar ao mesmo tempo, de forma segura e objetiva.

Me desculpa, namorada. Acredite, eu te amo... Se não te amasse, não daria a mínima pro que você sente e não desejaria tanto consertar logo essa situação. Quero tocar minha vida, juro, mas no momento tá difícil. Não me deixa fraquejar, por favor. Sei que qualquer um que possa vir a ler isso vai dizer que sou uma cachorra, que eu não presto. Mas você sabe que não é assim. Sou louca, sou intensa, puramente romântica e sonhadora, daí a minha dificuldade de descartar essa menina da minha cabeça, do meu imaginário.

Namorada...só me perdoa. Por favor. Em algum momento.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Acreditar? Não...

Em que você acredita?

Em um Deus, em uma religião, em uma alucinação coletiva ou em forças místicas superiores e inexplicáveis que te fazem eximir a sua culpa com boas ações ou pedidos de desculpa a sei lá quem (ou o que) e que te fazem surtar em sua própria auto-crítica e mergulhar em um sentimento de que você, de alguma forma, vai prum inferno, ou qualquer outro lugar parecido onde padecerá ou como alma ou como corpo, ou como bicho, ou como uma corrente de energia desforme.

Acreditar em natureza, em equilíbrio natural, em justiça, em alguma coisa que te faça ver que toda a injustiça e sacanagem que acontece na sua frente, de alguma forma, tem que ser punida e que todas as feridas que já abriram na sua vida, no seu peito, na sua memória, de alguma forma vão cicatrizar e através de algum mecanismo desconhecido você será vingado.

Acreditar que a gente tem a incrível escolha de ser feliz e que a gente fica triste quando quer e porque quer... O que é, obviamente desdito por você mesmo quando alguém te faz sentir como um débil mental, e você só quer chorar e ficar em posição fetal por uns tempos.

Acreditar em feng-shui, em medicina ayurvédica, em kabbalah, em yoga, e achar que porque uma poltrona de cor diferente em um lugar diferente vai mudar completamente a sua vida, ou que ingerir altas doses de mel e gengibre vai te purificar e te afastar de doenças, ou controlar sua respiração e equilibrar o peso de todo seu corpo no dedão do pé e achar que dessa forma você estará são e saudável por todo o sempre.

Acreditar que sorte existe e vc tem muita e se sentir o máximo, ou ter nenhuma e se sentir um imbecil, ou ter uma moderada e se sentir afortunado apenas o necessário e na hora certa.

Acreditar em signos, em ascendente, em lua, em planeta regente, em elemento e resolver todo o futuro de uma pessoa com um mapa astral que diz o que ela é, o que foi e o que pode vir a ser com a exatidão doentia de quem tem o poder de decidir sua vida.

Acreditar em cartomante sem nem saber o que aqueles símbolos esquisitos com características medievais querem realmente dizer. Ou em cristais e achar que uma pequena pedra de cor meio rosa, meio vermelha vai abrir seu chakra coronário e assim você ganha disposição em dobro, ou em búzios e achar que um monte conchinhas viradas ou não vai te dizer o que fazer, ou borra de café que te faz pensar nesse líquido mágico que todo brasileiro adora, que pode ser até uma poção da juventude.

Acreditar em copo d'água, compasso, poltergeist, terapia de vidas passadas, e afins, que dizem ser o espírito de Getúlio Vargas, ou Emmanuel, ou que você foi Cleópatra em outras vidas, em outros mundos... Haja imaginação!

Acreditar na ciência, em fórmulas, leis, teoremas e axiomas que fazem sua vida virar um manual de produto eletrônico, uma receita de bolo, uma tese de dooutorado e que no final, existem muitos fatos, muitas verdades, mas uma certeza, que você, na sua ignorância mais profunda de vão filósofo desconhece.

Pra que acreditar em tanta parafernalha, se quando você acredita em uma pessoa, que é algo bem mais simples que todo esse aparato sobrenatural pra massagear seu próprio ego, ainda assim não tem certeza de nada sobre ela?

Quanto mais se acredita em tudo, mais se tem medo da morte, da punição, do destino (se ele existe), do acaso (se ele existe), enfim, de viver.

Acho que só dá pra acreditar, e com ressalvas, em si próprio.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Sobre pássaros e lobos

Não queria que soubessem de nós, não mesmo.

Não queria saber de você. Não queria me sentir neutralizada pelo seu sorriso.

Não sei mais pensar em nada, só sentir.

E até quem não me conhece pode perceber.

Até quando eu leio jornal na fila do pão dá pra notar...

Que isso deve ser paixão. E que isso deve doer.

Um aroma de coração machucado, apertadinho.

Quando as coisas não andam boas, é no amor que a gente encontra refúgio, e é quando eu não me aguento em mim que mais quero correr pra você.

Mas se eu correr, nunca vou te alcançar, porque você voa. Pássaros sabem voar, Lobos não.

Caso com você quando meus olhos se sentem penetrar pelos teus. Depois descaso quando eles se vão.

E é disso que meu sentimento tem se bastado.

Mas, no fundo, não é nada disso que eu quero.

Quando eu te deixo, sinto sua falta. Seja por um ano, ou um passo de distância.

Eu não suporto mais essas separações.

Você não me pediu nada, não demorou nada, não teve esforço...

Eu te mostrei que podia te dar tudo que quisesse, porque você me mostou o mesmo.

Mas agora...é diferente.

Eu não quero ficar com você, não quero ir atrás de você, não quero te ver passar, não quero me intrometer na sua vida, com outras ou não.

Quero te esquecer, quero estar com alguém que quer estar ao meu lado, quero pensar na pessoa que me beija, que faz carinho, que acompanha meus dramas desde a adolescência. Quero a pessoa com quem não brigava nunca, que agora me ouve, e me ajuda... Não quero machucar essa pessoa.

Não quero que ela sinta em relação a mim o que eu sinto em relação a você.

Não quero estar apaixonada por você... Quero ficar livre.

E eu já não sei o que fazer, nem por onde ir, nem o que falar.

Acho que nada me traduz mais do que o silêncio. E a solidão. E o cansaço. E uma pitada de desilusão, que eu mesma construí e me apanhei, no final.

Lobos são sós. Tristes, ferozes, silenciosos, arredios, selvagens, mas ainda assim livres.

Um lobo depois de uma armadilha não é o mesmo. Não corre bem, não caça bem, não se esconde, se esgueira, se protege bem. Ele se dá ao sacrifício, dentro de sua prórpia tristeza. Sozinho. Vivendo como pode, esperando a morte chegar, como um consolo. Longe dos outros. Mais agressivo, sozinho, e distante como nunca.

Os pássaros são lindos... Cantam, voam, acham companheiros, vivem em grandes bandos, constroem seu ninho, tem uma prole e ainda assim vivem voando, com seus respectivos companheiros. São livres, mesmo acompanhados.

Lobos não se apaixonam por pássaros. Lobos são carnívoros... Pássaros, "vegetarianos". Não tem nada, em absoluto, que coincida nessas duas espécies.

A maior armadilha e a única que essa loba cai é essa. Essa espera, essa idealização, esse pulsar...

Eu que armo e eu que caio. Estupidez minha. Culpa minha. Sofrimento meu.

Uma hora isso passa.

O Lobo cicatriza e volta pra alcatéia.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Metafísica

Alguém me diga que eu estou louca, que eu pirei de vez, que eu tenho um problema psicológico qualquer...ou vários.

Alguém me convença que eu nunca amei, não estou amando e nem amarei ninguém nessa vida.

Alguém me diga que o que eu sinto é um incrível engano... Que essa pessoa não existe, que é tudo fruto da minha imaginação.

Alguém me pare, me faça parar de sentir, de pensar, de agir. Me façam parar de me apegar, de me entregar, de me apaixonar.

Alguém precisa me deter.

Alguém precisa me acordar desse sonho que vivo, e que não quero parar de viver. Me tirem desse transe, dessa avalanche de sensações, dessa loucura sutil e doce, que invadiu meu peito desde que aquele meteorito cruzou os céus com um brilho verde - que remete a esperança. Esperança... Quando eu achava que da minha vida não sairia mais nada, nada faria sentido, e ninguém conseguiria me tirar do meu amargo interior, dos meus pensamentos mais nefastos, dos meus dias mais negros, aconteceu.

Como um Big Bang, me arrebatou, me arrebentou e me estraçalhou. Aquele brilho verde da cauda do meteorito...

Alguém me faça ser sensata uma vez na vida, e não simplismente intensa.

Alguém me convença de não querer muito e tudo, de uma só vez.

Alguém me deixe perceber o tempo e dosá-lo com o passar do mesmo. Me deixa sair da minha carência, da minha solidão e racionalizar mais as coisas.

Como uma pessoa normal, que conhece outra, e vai conhecendo e se envolvendo gradativamente.

Por que o tempo não acompanha meus sentimentos? E por que meus sentimentos nunca acompanham o tempo?

Eu acabo me empolgando e assustando as pessoas, proporcionalmente. Primeiro uma felicidade estupidamente gigantesca, depois parece que colocaram fogo em uma floresta e só sobrou deserto, cinzas, fumaça e em cima disso fazem uma guerra. Alguém precisa me dizer como não fazer mais isso.

Alguém... Tem que haver alguém que me mostre como é ter paciência com o tempo, com as pessoas, e como é realmente importante que toda a construção de algo sólido seja lenta e equilibrada.

Alguém precisa me fazer parar de entrar em overdose de paixão.

Mas, caramba, como assim temos os mesmos amigos, frequentamos os mesmos lugares e nunca tínhamos nos visto antes?

Alguém tem que parar esse liquidificador no meu peito que acaba misturando as sensações com as emoções e faz a imagem dela virar vitamina pra vida. Suco de luz, talvez? Luz verde... Porque pra mim, desde a primeira vez, ela brilhava. Sentada ali, perto da janela, fazendo a prova, me desconcentrando, desconcertando e desorientando.

Alguém pare de nos mostrar coincidências e afinidades! Pare de me fazer acreditar em destino, em felicidade plena, em monogamia, em contrato social, contos de fadas, final feliz, sonhos...

Alguém tem que me fazer ver que eu não vivo um sonho, que pessoas têm defeitos, e eles não são tão lindos quanto eu penso e provavelmente em algum momento vão me magoar e/ou incomodar.

Alguém tem que frear essa necessidade de estar e de sentir, esse desejo carente de ser amada. Não é porque está tudo correndo bem que vai tudo correr bem sempre. Sempre...alguém precisa tirar isso do meu vocabulário. Preciso parar de pensar "pra sempre".

Pior é que dói, sempre dói. Porque eu me apaixono pela paixão, eu gosto de gostar e amo amar. E é isso que me sucumbe, me inspira, me corrói, me destrói e me nutre.

Espectativas... Alguém tem que me fazer parar com elas, definitivamente. Alguém precisa adormecer meu peito e anestesiar meu coração.

Alguém precisa me deter...mesmo.

Alguém, eu sei, deve existir esse alguém, em algum lugar, rindo de mim, me deixando louca, e com todos os segredos na manga, ou na cartola. Mas não quer falar, não vai me dizer, vai me deixar descobrir essas coisas sozinha.

Senão, eu vou acabar amando de novo... E não há tempo nem espaço nem sentimento suficiente pra isso. Não agora.

Odeio metafísica.