segunda-feira, 20 de junho de 2011

Acreditar? Não...

Em que você acredita?

Em um Deus, em uma religião, em uma alucinação coletiva ou em forças místicas superiores e inexplicáveis que te fazem eximir a sua culpa com boas ações ou pedidos de desculpa a sei lá quem (ou o que) e que te fazem surtar em sua própria auto-crítica e mergulhar em um sentimento de que você, de alguma forma, vai prum inferno, ou qualquer outro lugar parecido onde padecerá ou como alma ou como corpo, ou como bicho, ou como uma corrente de energia desforme.

Acreditar em natureza, em equilíbrio natural, em justiça, em alguma coisa que te faça ver que toda a injustiça e sacanagem que acontece na sua frente, de alguma forma, tem que ser punida e que todas as feridas que já abriram na sua vida, no seu peito, na sua memória, de alguma forma vão cicatrizar e através de algum mecanismo desconhecido você será vingado.

Acreditar que a gente tem a incrível escolha de ser feliz e que a gente fica triste quando quer e porque quer... O que é, obviamente desdito por você mesmo quando alguém te faz sentir como um débil mental, e você só quer chorar e ficar em posição fetal por uns tempos.

Acreditar em feng-shui, em medicina ayurvédica, em kabbalah, em yoga, e achar que porque uma poltrona de cor diferente em um lugar diferente vai mudar completamente a sua vida, ou que ingerir altas doses de mel e gengibre vai te purificar e te afastar de doenças, ou controlar sua respiração e equilibrar o peso de todo seu corpo no dedão do pé e achar que dessa forma você estará são e saudável por todo o sempre.

Acreditar que sorte existe e vc tem muita e se sentir o máximo, ou ter nenhuma e se sentir um imbecil, ou ter uma moderada e se sentir afortunado apenas o necessário e na hora certa.

Acreditar em signos, em ascendente, em lua, em planeta regente, em elemento e resolver todo o futuro de uma pessoa com um mapa astral que diz o que ela é, o que foi e o que pode vir a ser com a exatidão doentia de quem tem o poder de decidir sua vida.

Acreditar em cartomante sem nem saber o que aqueles símbolos esquisitos com características medievais querem realmente dizer. Ou em cristais e achar que uma pequena pedra de cor meio rosa, meio vermelha vai abrir seu chakra coronário e assim você ganha disposição em dobro, ou em búzios e achar que um monte conchinhas viradas ou não vai te dizer o que fazer, ou borra de café que te faz pensar nesse líquido mágico que todo brasileiro adora, que pode ser até uma poção da juventude.

Acreditar em copo d'água, compasso, poltergeist, terapia de vidas passadas, e afins, que dizem ser o espírito de Getúlio Vargas, ou Emmanuel, ou que você foi Cleópatra em outras vidas, em outros mundos... Haja imaginação!

Acreditar na ciência, em fórmulas, leis, teoremas e axiomas que fazem sua vida virar um manual de produto eletrônico, uma receita de bolo, uma tese de dooutorado e que no final, existem muitos fatos, muitas verdades, mas uma certeza, que você, na sua ignorância mais profunda de vão filósofo desconhece.

Pra que acreditar em tanta parafernalha, se quando você acredita em uma pessoa, que é algo bem mais simples que todo esse aparato sobrenatural pra massagear seu próprio ego, ainda assim não tem certeza de nada sobre ela?

Quanto mais se acredita em tudo, mais se tem medo da morte, da punição, do destino (se ele existe), do acaso (se ele existe), enfim, de viver.

Acho que só dá pra acreditar, e com ressalvas, em si próprio.

Um comentário:

julio cesar disse...

muito complicado. acreditar é bom.