terça-feira, 30 de julho de 2013

Não era engano

O telefone tocou. Eu atendi.
E aquela era a última voz que eu esperava ouvir.
Na hora eu não percebi, não me liguei em quem era. Mas quando desliguei o telefone, me assustei, percebi, reconheci a voz, e fiquei em choque.
Ela queria falar com a minha mãe, eu disse que ela não estava, a voz despediu-se e desligou. E eu nem percebi. Na hora.
Porra, se eu tivesse ficado mais um segundo com aquela voz entrando pelos meus ouvidos...
Caralho, que sensação escrota...
Que vontade de ligar de volta, de falar um monte, ou de ouvir aquela voz de novo. Só ouvir. Calada. Porque não tem nada mais pra ser dito.
Queria gritar, numa sensação esquisita de alegria mas com um toque de arrependimento. Eu cheguei a sentir saudades. Me sinto tentada a ligar de novo. E agora estou aqui olhando esse maldito telefone, esperando ouvir uma voz que não vem.
Merda!
Liguei pra minha mãe, avisei quem era. Ela perguntou se eu tinha certeza, eu disse que sim. Ela ponderou se deveria ligar de volta. Falei que talvez fosse importante, então que pelo menos mandasse uma mensagem. Minha mãe perguntou se eu tinha certeza de novo, porque parece sem sentido e em certa parte inacreditável que ela tenha ligado aqui pra casa assim, tão do nada. Eu respondi que tinha ouvido aquela voz por muito tempo pra me confundir, e sim, eu tenho certeza, era ELA, não podia ser outra, eu reconheci a respiração o tom da voz, a rapidez com que articula as palavras e ao mesmo tempo a serenidade e a sutileza com que pontua as frases. Cheguei a enxergar um sorriso no seu rosto.
Desliguei o telefone com a minha mãe. Ainda chocada.
Acho que o sorriso deve ter se apagado depois de ter me ouvido. Agimos como se fossemos duas estranhas, como se ela nunca tivesse passado na minha vida, como se nunca tivesse havido nenhum centímetro de intimidade pra além do telefone.
Ou isso sou eu, supervalorizando o sentimento que alguém que me trata como "filha da dona da casa" possa ter (ainda) por mim.
Só sei que fiquei sem ar, fiz um retrospecto de tudo que aconteceu, tive vontade de me desculpar, de perguntar como a vida dela está agora... Ela parecia feliz pelo tom de voz. Parecia que a vida estava boa, leve, tranquila.
Depois de muito surtar percebi que estava tarde e quem eu estava esperando não veio. E aí eu voltei pra minha realidade e fui terminar de fazer o que eu estava fazendo no computador.
Mas ainda com esse pensamento incômodo na cabeça, tentando achar um motivo, ou talvez achar alguma coisa que me fizesse desacreditar que era ela mesmo.
E assim acabei dormindo.
Preferia que fosse engano. Meu, dela, de todo mundo.

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