quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Brasileiro médio?

Ser brasileiro médio ou não o ser não quer significar nada mais e nada menos do que mais ou menos politizado, atento e participativo na sociedade, do ponto de vista político. Também não dá pra exigir que uma sociedade onde a globalização prevalece, a necessidade por tecnologia, velocidade de informação e praticidade é um apelo cada vez maior, e nem sei se devo chamar de apelo, pois mais me parece um grito exigente que torna a se repetir tamanha a necessidade da coisa.
A sociedade está se integrando, se apropriando de conceitos e comparando/conhecendo culturas com um vídeo, um link, um click. Dá pra cantar músicas do pop coreano sem ao menos saber o que representa aquilo pras pessoas de lá, como se fala o idioma e o que significa. Mas nada tão impossível de se descobrir também, basta dar um "google".
Então, nesse mundo tão informatizado e integrado, que te permite checar informações de toda a política externa, todas as cotações de todas as bolsas ao redor do mundo, suas expectativas, especulações, projeções, ou ainda te permite ver todas as mazelas do mundo, a fome, as guerras, os atentados, os crimes de ódio e mais tantas enumeras coisas que podemos fazer sem tirar nossas bundas de nossas cadeiras... Então, esse mundo aí, que funciona 24h virtualmente e está a disposição de muita gente, seja em casa, nas lan houses, ou seja lá como, é completamente novo, desconhecido e cresce exponencialmente. A velocidade é cada vez mais privilegiada, o conceito de ter substituído pelo ideal de ser, a quantidade é mais bem vista do que a qualidade, carreiras acadêmicas cada vez mais exigentes, onde há cada vez mais a necessidade do macro conhecimento sobre os microcosmos e micro assuntos que permeiam os corredores das nossas vãs filosofias, esse excesso de especializações é cada vez mais necessário. Passamos a viver em um mundo onde 140 caracteres definem muita coisa, ou nem isso.
Mensagens instantâneas são muito mais agradáveis do que e-mails longos, enfadonhos, por vezes incoerentes...porque, na minha opinião, até pra escrever bastante é preciso foco, e nem todo mundo tem tempo sobrando pra se perder com isso. Aliás, hoje em dia, qual o sentido de "time's money"?? Acho que chegamos no ponto "Money's time" da modernidade (ou pós-modernidade, como queiram, mas tenho uma ojeriza a essa palavra justamente porque dá pra se perder em seu significado, conceitos e sua representatividade...e cá pra nós eu não sou tão genial assim que meu conhecimento abarque com totalidade e clareza o termo).
Humildemente eu faço a seguinte reflexão: por que é, então, nessa sociedade tão modificada, que não quer pensar, só aglutinar informações; que não quer ler um livro, mas quer ler um blog; que quer saber muito de uma coisa só ao invés de algo sobre bastantes coisas; que quer ser coletivo no virtual, mas individual na realidade... eu teria que esperar um comportamento político completamente envolvido e engajado com as causas coletivas como em uma "polis" grega?
Acho que o engajamento acontece da mesma maneira, mas não é algo que una a todos. Os indivíduos, imersos em lixo cultural, em um bando de badulaques e adulações de acúmulo, propagadas pelos mesmos meios que proporcionam - ou proporcionavam - mais saber e entretenimento (rádio, depois televisão, depois internet, e depois só Deus sabe, ou melhor, só o Google sabe) não tem o menor pudor em se individualizar e saudar cada vez mais o capitalismo e dar graças a todas as maravilhas tecnológicas e inúteis que podem comprar, dão graças ao dinheiro, porque com ele se compra de um tudo, de sexo a pessoas, de um Nike a uma latinha de Coca-cola.
Essa discussão de valores não cabe a mim, que acho mesmo que cada um tem seu preço, e os que dizem que não o tem devem ser muito ilibados mesmo e viver uma vida bastante minimalista, com nada além do necessário. A discussão é: por que a sociedade tem que se comportar como os gregos em suas antigas "polis", que se reuniam frequentemente em torno de suas ágoras pra discutir seriamente a política vigente, as guerras, os senadores depostos, os eleitos? Tinha corrupção, a matança por poder era muito mais velada, mas nada declarada, mesmo em meio a república, ou a Res Publica, não existia a democracia como se vê hoje, aliás, se a gente for começar a pensar em democracia, acho que no nosso segundo reinado, lá com o Pedro II tínhamos mais políticos liberais do que com a instauração da república, desde aquela república que gostamos tando de chamar de velha, como se não prestasse mais, com marechais, espadas enferrujadas e canhões que eram lixo bélico europeu e só serviram de enfeite, passando pela era Vargas e seu fascismo velado, JK e sua megalomania com o lema de "50 anos em 5" que assustadoramente engana pessoas até hoje, a tão polêmica ditadura, e depois com a "redemocratização" até os dias atuais, com bandalheiras e achincalhes com o dinheiro público dos impostos. Aí fica aquele sentimento: poxa, mas é essa a democracia que eu quero MESMO? Com esse Judiciário frouxo e esse Executivo comprável desse jeito? Assim o Legislativo nunca vai mudar, nunca vai deixar de fazer altas farras com o dinheiro do "povo". Mas... Quem disse que todo mundo se importa com isso? As pessoas não TEM QUE se importar também, ué. Eu me importo, tu te importas, ele está cagando veementemente pro Brasil. E eu com isso?
Enfim... só acho uma falta de argumento e acúmulo a cerca do debate político - por mais irônico que isso soe - reclamar das pessoas que não se envolvem politicamente chamando-as de "brasileiros médios", como em uma tentativa de desqualificar o papel do cidadão que não se importa, como se ele fosse menos brasileiro, ou abaixo da média, um cara fora da "crème de lá crème" dessa hierarquia imaginária que uns intelectuerdas insistem em pregar e propagar pelas redes sociais afora. Isso é um ato falho, isso é pensar com uma corrente conservadora que acha, por exemplo, que índio tem que continuar no meio do mato andando nu e falando um idioma que a gente nem sabe o que é. Esse pensamento é digno dos políticos gregos, dos "cidadãos" gregos que definiam em suas discussões públicas os rumos da Polis. É pensar numa época onde não se tinha outro significada pra Política além de público. Era a época do pensamento macro, das induções...
A nossa era é moderna, não é mais antiguidade clássica. Aqui se tem individualismo, utilitarismo (meio mal aplicado), velocidade de informação, e um excesso de liberdade que pode acabar por desenfrear-se e perder-se o controle por completo - mas isso não é necessariamente uma coisa ruim, porque se até o caos tem uma ordem, uma regra, no Brasil não seria difícil não ter.
E, por incrível que pareça, a maioria dos que conheço virtualmente não vão ler isso. Mas, francamente, se você só escreve pensando em quantos vão ler, isso te faz um "brasileiro médio", né? Uma pessoa "acima da média" escreve com uma preocupação de quem vai ler, como vai ler e como será o debate.

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