domingo, 12 de maio de 2013

Um sonho qualquer


Eu estava numa cabana, só que sem um estilo rústico, na verdade era quase um mini apartamento, uma espécie de apart hotel, com mais duas amigas, uma delas escritora, a outra não exercia a profissão e tinha acabado de se divorciar. Na verdade, isso não importava muito.
O quarto onde estávamos era ligado à sede do hotel/apart por um caminho de pedrinhas, e esse caminho era coberto por uma cobertura de trepadeiras. Pelo cheiro das flores, pareciam pés de maracujá.
Era um desses municípios interioranos do estado. Muito aconchegante, charmoso, um tanto isolado, mas com uma série de confortos que me faziam sentir como em um centro urbano, sem maiores considerações.
Ouvimos falar de uma espécie de lenda urbana, um cara conhecido como lenhador, que teoricamente era uma espécie de serial killer. Lógico que não demos a mínima pra informação.
Mas logo na segunda noite que estivemos por lá, ouvimos uns barulhos, un gritos, vindos da sede. Eu não queria ir pra lá, já vi alguns filmes de terror e sei que esse tipo de coisa não dá certo. Coloquei minhas coisas na mala de qualquer maneira, e queria fugir, ir embora. Mas as outras duas curiosas queriam ir até a sede e ver o que tinha acontecido. Eu relutei em ir, queria era ir embora, pagando ou não, não me interessava, queria voltar pro Rio.
Inexplicavelmente, me convenceram a ir dar uma olhada na sede.
Chegamos lá, tinha cheiro de morte no lugar. Sangue (muito sangue), mulheres, crianças, animais... tudo morto. Os homens estavam amarrados e imobilizados em uma posição que dava a entender que tinham sido estuprados e depois mortos.
Tinha um corredor, menos iluminado ainda, onde as duas imbecis se enfiaram, e eu, nesse momento, resolvi deixá-las ali e ir embora. Afinal, elas queriam morrer, problema delas, eu só queria voltar pra casa. E não queria dar uma de super heroína não, não ia denunciar, criar alarde, nem nada. Só estava querendo me salvar. O resto que se foda.
No momento em que me preparo pra sair da sede, com a mão na maçaneta, sinto uma presença atrás de mim. Imaginando que não era nenhuma das duas imbecis, disse ainda de costas "vai me matar?" ao que ouvi uma voz feminina respondendo e se aproximando de mim enquanto respondia "não. não vou te matar. quero conversar com você." e a última palavra foi sussurrada bem perto do meu ouvido.
Perguntei se podia me virar, ela disse que sim. E aí me deparei com uma mulher bonita. Não era uma daquelas mulheres super gostosas, passista de escola de samba, nem assistente de palco dos programas da globo, era uma mulher mais ou menos da minha altura, estatura média, morena, com cabelo liso, parecia meio índia. Estava vestida de preto, mas dava pra sentir um cheiro de sangue vindo das roupas dela, que logicamente estavam ensopadas de sangue. Ela usava luvas, e tirou-as pra falar comigo. Me pegou pela mão, e me conduziu a uma parte daquela sala muito mal iluminada.
Sentamos num sofá que tinha ali na recepção - agora macabra. Ela me olhava de uma forma estranha, e eu não senti medo, não sei por que. Ela começou falando que ela era o que as pessoas conheciam como lenhador, explicou que fazia aquilo por um misto de prazer e vingança, e ela percebeu que eu não estava com medo, e quis saber o motivo. Eu fui sincera e disse que não sabia explicar, mas não sentia medo dela, mesmo vendo aquilo tudo que ela tinha feito. Perguntei por que ela estuprava os homens e decepava as mulheres e crianças. Ela disse que esse era o padrão dela, e que achava aquilo justo, já que o esperado é que se estupre mulheres e crianças. Era uma espécie de diferencial, uma forma dela deixar sua marca. Ela foi além e disse que matar as crianças não era o que ela gostaria, mas tinha que matar as mães e viver sem mãe era muito ruim e doloroso, então matava as crianças como uma forma de redução de danos.
Conversamos por meia hora mais ou menos. Até que as minhas amigas idiotas voltaram do corredor escuro, completamente chocadas, uma chorando compulsivamente e tremendo e a outra vomitando. Naquele momento não senti pena, não fui compreensiva, senti raiva por terem atrapalhado minha conversa, por serem idiotas, fracas, burras, por estarem ali, por serem minhas amigas, por existirem... Desejei que morressem.
Acho que meus pensamentos foram ouvidos pela índia assassina que estava ali, conversando comigo ali. Ela se aproximou delas e rapidamente, como se fosse o the flash ou coisa assim, sacou uma espada curta e cortou-lhes os pescoços. Eu não vi de onde ela tinha sacado a arma, mas depois percebi uma bainha de couro presa à perna direita.
Ela me pediu desculpas pelo sangue excessivo, pela brutalidade e perguntou se eram minhas amigas. Eu disse que eram mas que não sentia nada mesmo tendo assistido a morte delas na minha frente. Disse ainda que, de certa forma, tinha que acontecer.
Parecia que ela tinha entendido minha linha de raciocínio e meus sentimentos em relação àquelas duas. E então ela sorriu e sentou-se no sofá mais próxima a mim. Me olhou nos olhos durante um tempo, ajeitou meu cabelo e eu senti um carinho gostoso, um arrepio, um frio na barriga... Ela parecia ter percebido, e então me beijou. Eu correspondi ao beijo, um beijo delicioso, carinhoso, sutil... perfeito.
Há tempos que eu não era beijada daquela forma, estava excitada, queria mais do que o beijo, e assim como tudo que tinha acontecido antes, a índia percebera, tirou minha roupa de uma forma meiga, sempre me beijando, e olhando nos olhos, com muita calma, e eu fui correspondendo a cada movimento, como se fosse combinado, como um balé. Estávamos nuas, e eu totalmente entregue, querendo aquele sexo mais do que todos os outros que eu tinha feito anteriormente na vida.
Foi uma delícia, eu gemia de prazer a cada toque dela, a cada roçar de lábio na minha pele, a cada lambida... Eu podia sentir ela igualmente excitada porque a medida que me possuía, com calma, carinho e respeito, sua respiração ficava mais sôfrega e podia ouvir alguns leves gemidos que soltava.
Gozamos no sofá, e continuamos ali, queríamos gozar várias vezes, eu queria aquele corpo lindo, com tons de canela, respingado de vermelho, e sentia que ela me queria também.
Eu não sentia horror aquele ambiente, não sentia medo, não queria outra coisa que não fosse aquela mulher. Cheguei a pensar que estava apaixonada, mas enquanto transava com ela não conseguia pensar muita coisa. Lembro vagamente de ter pensado que aquele estava sendo o melhor sexo da minha vida... Aliás, antes de tê-la não acreditava no termo "fazer amor", achava que sexo bom era aquele sexo louco de tirar o ar. E descobri que tinha me enganado.
Ela me conduzia como se fosse em uma dança. Fizemos várias posições, transamos pelos corredores, no chão, nas paredes, eu pude explorar o corpo dela de forma completa e ela pode examinar cada centímetro da minha pele. Ficamos horas ali, nos consumindo no nosso prazer.
Antes do dia amanhecer, levantamos, ainda sem dizer nada, pegamos nossas roupas e fomos pro meu quarto. Nuas, andando pelo caminho que ligava a sede aos quartos, aquele frio matinal me deixando arrepiada me fez apressar o passo e dar uma corridinha até o destino. Tomamos banho juntas. Estávamos imundas de sangue, mas isso não diminuiu o tesão que estávamos sentindo uma pela outra. Transamos novamente no box. E novamente foi uma delícia.
Ao sair do banho, colocamos as roupas sujas num saco pra jogar fora depois, pelo caminho, emprestei umas roupas minhas pra ela e dali seguimos no meu carro pro Rio.
Chegando na minha casa, transamos novamente. Por horas. Até que esgotássemos as nossas forças.
Dormimos abraçadas, de conchinha. Até que senti uma leve dor, uma picada de agulha, na coxa e acordei. Perguntei o que ela tinha me injetado e ela disse que seria rápido, e que eu não sentiria dor nenhuma. Ela disse que eu tinha sido a mulher mais incrível que ela já conhecera, mas a chacina que ela promoveu no hotel seria a última da vida dela e muito provavelmente ela seria pega por isso. Disse que queria que fosse diferente, que acabou sentindo por mim uma coisa que nunca tinha sentido antes por ninguém, que provavelmente estava apaixonada, e que viver uma relação comigo não era opção. Como acabaria presa mais cedo ou mais tarde, e teria que passar a vida fugindo e se escondendo pra evitar que isso acontecesse, e logicamente teria que me levar junto e fazer de mim cúmplice, optou por nos matar. Ela disse que não saberia lidar com a ideia de me perder, nem me ver com outra pessoa. As palavras foram ficando meio confusas a partir daí. Pedi que ela ficasse em cima de mim e me beijasse. Com um pouco de dificuldade foi o que ela fez. E ficamos assim, nos beijando e nos olhando, esperando a morte chegar. Balbuciei um "eu te amo" e depois disso vi ela amolecendo e senti pesar em cima de mim.
E daí, acordei.

Nenhum comentário: