quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Pensando alto

Tem horas que me pego pensando: e se...?
A vida é uma só, bem como nossas escolhas.
Não dá pra prever nada e também ficar se lamentando é perda de tempo.
A gente tem que pensar nagente primeiro, se aceitar, e ficar bem com nós mesmos é uma dificuldade tremenda.
Mas depois que isso acontece (o que eu considero o básico da vida), já foi tomada a decisão de sermos felizes, não importa como.
Tem gente que cai na ilicitude e acha que isso resolve os seus problemas.Uma pena, porque nenhuma dessas pessoas tem uma vida tranquila, e a maioria não vive por muito tempo.
Tem gente que apenas se deu conta que não precisa ser do jeito que a sociedade espera, que a família gostaria, que os amigos preferem, mas que apenas deve ser da melhor maneira possível pra se confortar com seu ego (ou alter-ego, ou eu interior, sei lá...isso fica pra galera de psicologia).

Por que falo isso?
Porque nessa semana última minha sexualidade foi questionada (até aí, nenhuma novidade), mas de uma forma que eu nunca tinha escutado.Me perguntaram "se você pudesse mudar o que vc é, lésbica, você mudaria?"
Fiquei pensando em várias respostas, mas variavam entre sim e não.
Sim, porque a vida de homossexuais, travestis, bissexuais, trangêneros, é repleta de preconceito, rótulos, marginalização por uma sociedade essencialmente machista e homofóbica, e o pior preconceito social não é nas ruas, nas faculdades e nem no trabalho, é aquele que acontece dentro de casa, com a família.
Sim, porque seria muito mais fácil e aceitável viver assim.
Pense só: se você fosse uma coisa que te condenasse a olhares tortos pels ruas, a não compreensão dos seus pais, e em alguns casos a negação do amor deles por você, logo você que é filh@, fruto daquelas pessoas que você ama tanto.Imagine se você tivesse que abandonar todas convicções que te ensinaram desde pequenininh@, e lutar todos os dias, matar leões, remar contra a correnteza e se acostumar com uma vida nova, só porque você é um pouco diferente do que as pessoas esperavam que você fosse.

Mas...A facilidade não tem graça, não pra mim.
Nesse caso, pra essa pergunta, eu respondi que NÃO, se eu pudesse mudar a minha sexualidade, não deixaria de ser lésbica.Porque além de eu estar muito bem comigo mesma, é essa luta diária, essas batalhas que eu enfrento pra que um dia a sociedade nos aceite como um todo que me enchem de novas esperanças.
Se a "medida do amor é amar sem medida", porque o amor hetero normativo pode e o meu não?
Continua sendo amor, gente!
E eu não estou agredindo ninguém.Só que eu penso que se a sociedade nunca tiver contato com essas formas de amar, nunca vai se acostumar, entender, respeitar, aceitar.
Eu tenho a consciência de que não estou fazendo nada de errado mesmo!
E um dia todo mundo vai perceber que não existe diferença entre quem eu amo, ou quant@s eu amo, se é ao mesmo tempo ou não, assim como vão deixar de ter pena de pessoas com necessidades especiais e vão passar a admirar as suas superações, assim como um dia vão perceber que a cor da pele de uma pessoa não interfere em nada no seu caráter e/ou na sua conduta, assim como um dia todo mundo vai perceber que um Deus não é melhor ou mais poderoso que o outro e que, no fundo, no fundo, são todos um único Deus.
Um dia a sociedade vai perceber que cada um tem suas particularidades, mas que não é nenhum absurdo conviver com pessoas tão diferentes entre si.
Nesse dia a palavra "RESPEITO" vai sair do dicionário e vai pras ruas.

E é nisso que eu acredito.Que todos deveríamos acreditar, mas cada um a seu tempo, seu modo.
Então...Não faz o menor sentido eu querer mudar alguma coisa em mim que não seja a cor do meu cabelo (porque eu não sou ruiva natural, mas me considero uma "naturalizada").

É isso que me move a lutar todos os dias contra um preconceito bobo que foi fundamentalizado ao longo de milênios e que nos acusa de disvirtuantes da moral e bons costumes, como se fôssemos uma grande novidade.Novidade essa que existe desde a grécia antiga, mas sempre foi marginalizada.
O que é difícil de fazer entender é que somos gente.
E que não somos imorais ou pervertidos.
Não corrompemos pessoas.
Não somos rebeldes (muito menos sem causa).
Não somos nada diferente daquilo que os hetero normativos são, em caráter e personalidade.
Apenas amamos pessoas do mesmo sexo e se é isso que nos deixa feliz, porque é que temos que mudar e trocar a nossa felicidade pela felicidade preconceituosa de um bando de gente que nem conhecemos?
Isso é que não faz o menor sentido pra mim.

Se você é homossexual, bissexual, travesti, transgênero, e ainda tem medo por causa de ataques e agressões das pessoas lá fora do seu armário, eu faço um convite que se retire desse comodismo imadiatamente.Nunca é fácil se assumir, se aceitar, levar isso a conhecimento da família, dos colegas de trabalho, pessoal da faculdade, e as outras pessoas no seu contexto social.Mas ninguém vai morrer porque você disse uma coisa inesperada.
Quanto mais gente lutando, lado a lado, maior será a nossa força.Todos saem ganhando.

Quem imaginou uma discussão tão grande a cerca do PL122 - Lei contra a Homofobia?
Quem imaginou casais homossexuais adotando crianças?
Isso só aconteceu depois de muita luta.Infelizmente algumas vidas foram perdidas e pessoas ficaram impunes por esses crimes, mas não é o fim.
"Podem até matar uma ou duas flores, mas não podem impedir a primavera" - Che Guevara.

E...Se você é heterossexual, normativo ou não, pense bem antes de rotular, agredir, difamar pessoas que você pode até não conhecer, mas não tem direito de julgar e/ou condenar por causa das suas diferenças.Somos seres humanos, de igual valor, e temos emoções, somos feitos de carne e osso e vivemos na mesma sociedade.
Não pedimos sua aprovação nem o seu silêncio.Queremos respeito.Também somos gente.

Apenas isso.

2 comentários:

Taíiis disse...

BRAVO! \õ/

O preconceito em geral é irracional. Não tem fundamento. Mas, se há pessoas que não conseguem aceitar de fato, que pelo menos respeitem.

Anônimo disse...

Concordo com Vc, como sempre digo:
Na próxima encarnação quero nascer mulher, lésbica, e tudo de novo!
Um bom dia...