sábado, 6 de novembro de 2010

Clarissa e Roberta

Clarissa abriu os olhos.O tic-tac do relógio chamou-os atenção, 6:30h. "Ainda! Ah, não! Vou voltar a dormir...".
Não consegiu, apesar de querer.Sonhou com Roberta, mais uma vez.E acordou na hora errada.E não conseguia dormir porque lembrava dela, só lembrava, e só queria encontrar aquela fantasia no mundo real, tê-la novamente em seus braços, presenteando seus mais profundos desejos.
De lembrá-la sentia seu corpo pegando fogo da cintura pra baixo.E aquelas borboletas no estômago, aquele arrepio...Era excitante de lembrar, imagine se pudesse fazer de novo, e de novo e mais uma vez...

Até que não queria mais se torturar com aquilo.Levantou-se, foi direto tomar um banho gelado.Demorou 10 minutos, se enrolou numa toalha e olhou seu conjugado.Se pudesse definí-lo em uma palavra seria caos.Nas últimas semanas não tinha tempo pra mais nada, por causa do trabalho por meio período, depois Faculdade, e mais uma tentativa de pesquisa pra construção de um artigo, que depois de 6 meses viraria monografia.
Era sábado, tinha todo tempo do mundo.Foi ver um programa qualquer na TV e tentar arrumar aquela zona.E, dessa forma, em 4 horas conseguiu colocar sua casa em ordem, sem perder nenhum papel da pesquisa.
Foi pra cozinha, fez um sanduíche com o que sobrou da limpa que fez na geladeira, tomou a última cerveja, sentou e foi se sentindo cansada...olhos a TV ligada, falando sozinha...Roberta de novo.Se resvalasse um segundo os olhos em qualquer morena, iria imaginar Roberta, invariavelmente.
- Inferno! Preciso sair.

Comeu rápido, tomou um novo banho, colocou um short jeans, um all star qualquer, uma camisetinha com seu cordão habitual, seu óculos de grau meio retrô, ajeitou os cabelos agora tingidos de ruivo, pela metade, com a raiz mais o mais preta que conseguiu fazer com a tinta que tinha comprado.Foi pegar as chaves.
- Peraí...o chaveiro...cadê?
Procurou muito...mas depois da arrumação, descobriu q se achava mais na sua própria bagunça.Depois de uns 10 minutos de procura, finalmente achou. Foi embora antes que esquecesse onde ficava a porta.

Já fora do prédio, foi andando pra livraria mais próxima.Queria se entupir de alguma coisa que preenchesse sua mente sem ser pesado.Um filme novo, ou um livro de leitura fácil pra imaginação correr frouxa.Entrou despretenciosamente, foi pra seção de Antropologia, quase que por instinto.Correu os olhos, parava em autores clássicos, outros mais modernos, mas então se deu conta que não queria ler pra estudar, queria um livro que a aliviasse, e não um que a deixasse mais inquieta ainda.Deu a volta, foi pra outra seção de literatura mais "água com açúcar", quase foi parar na auto-ajuda, mas recobrou o seu objetivo na mente. Pegou um título qualquer "Desculpa se te chamo de amor", foi ler a contra-capa, mas tomou um susto.
- Psiu! Clarissa!
Olhou pra trás.Era tudo que ela queria ver, mas que não precisava.
- Roberta... - e só conseguiu formar o nome da sua musa em fonética depois de alguns segundos de estupefação.
- Então...Fazendo o que de bom? - Roberta parecia feliz, estava linda, mas Clarissa era muito suspeita pra considerar isso.
- Eu...tava...Tentando sair um pouco das minhas pesquisas, queria me distrair com uma leitura qualquer. - tentava disfarçar, mas tinha um medo absurdo que Roberta percebesse sua angústia em não saber o que fazer.
- Mas tão cedo assim? Nem é meio-dia! - Roberta ria naturalmente, mas na verdade ficou excitada por descobrir Clarissa ali, do jeitinho como ela adorava, totalmente atrapalhada, desatenta, com um ar de sempre perdida.
- Pois é... - riu timidamente uma Clarissa com mãos suadas - Eu preciso deixar essa mania de leitura.
- E como está indo o artigo, falando nisso? - Roberta estava louca pra sair dali com Clarissa, mas tinha que se conter.
- Ah, eu tô quase acabando! Nem acredito...Passei quase 2 anos pra montar uma coisa que poderia ter demorado tão menos tempo! Mas o trabalho me toma muito tempo, e sabe como é... - Clarissa não queria mais falar sobre nada, queria se perder naqueles olhos, perder o ar naquele beijo, mas tinha que se controlar.
- Poxa, que bom! Pelo menos você tá no final, né? Por que a gente não almoça juntas e você me conta as novidades?
- Por mim, tudo bem...
Roberta foi dirigindo-se pra porta e Clarissa seguia atrás, sem livro, e com um sorriso de canto de boca, que deixava-a mais nervosa, e as mãos suadas ficavam geladas.
- Eu tô de carro, tá ali na outra calçada.
Roberta atravessou a rua na frente, foi entrando no carro e Clarissa com seu passo um pouco mais lento e mil olhadelas nos carros que não vinham na pista, até atravessar e também entrar com ela onde tinham se beijado pela primeira vez, a algum tempo atrás.
Roberta ligou o carro, foi colocar o cinto, e a mão dela deu com a de Clarisse, ao memso tempo, no mesmo gesto.Foi um segundo pecioso.Os olhos sabiam já o caminho pra se encontrar, e as duas sabiam que isso era forte demais pra controlar.
Foi instintivo.Roberta pegou as mãos de Clarissa, sabia que estariam suadas, e talvez geladas, e que por isso mesmo Clarissa se sentiria envergonhada, mas pegou com firmez, como fez da primeira vez.Já não lembrava mais do motivo de ter desistido de Clarissa, não sabia por que tinha inventado aquelas coisas de viagem, outra pessoa, arrependimento.
Em meio a tanto esquecimento, puxou Clarissa pra si um pouco mais, ela também não estava mais segurando aquele desejo latente em seus sonhos, sua imaginação, seus lábios...Se sentia quente, sentia medo de sobrar, de perder de novo.Mas precisava deslizar naquela tentação e se entregar, por fim, a algo que lhe consumia por tanto tempo.
- Eu moro aqui perto...A gente pode comer depois? - disse Clarissa antes que algo pudesse acontecer ali, e antes que pudesse se arrepender.
- Agora. - respondeu decididamente Roberta, já saindo do carro.

(continua)

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