terça-feira, 23 de agosto de 2011

Uma mente cheia de...

TUDO!
É impressionante querer escrever e não fazer ideia de que, só me deixa mais e mais agoniada.
Quero falar da homofobia, das pessoas novas que conheci, da fé na vida e em mim que redescobri (mas sem parecer piegas nem discurso de livro de auto-ajuda), de amigos que cultivo e vez ou outra me surpreendem, de como eu queria entrar numas aulas de dança de salão pra dançar ritmos latinos, de como eu tô com saudade do jongo Folha de Amendoeira, de como eu queria viver na década de 40/50 do século passado em Mississipi, ou Georgia, ou Chicago, ou qualquer outro lugar cheio de clubes de blues e jazz, escondidos em qualquer porão, com jogatinas e mafiosos apostando, com suas donzelas...Como queria ser eu a cantora da noite, sentada em um piano, flertando com todos, fumando em piteira e bebendo um conhaque oferecido por um dos rapazes da platéia.
Como eu queria poder descrever uma luta de boxe de Mohamed Ali, ter medo da Cosa Nostra, ver Alcapone e seus capangas aterrorizando toda a cidade, sem nunca serem pegos.
Acho que só estou meio Blue. Amor é Blues... Calor é Blues... Frio é Blues... Falta de dinheiro é Blues... Alegria é Jazz.
Fiquei um tempo bom pensando nisso... Na exposição do Miles Davis que fui ver no CCBB, nas músicas, na doideira da época, nas drogas dos artistas, dos artistas das drogas. Viajei no tempo, e quando vi tava lá pensando em Janis Joplin e Jimi Hendrix.
Sempre tive essa veia musical exagerada. Na hora de fazer poema, de fazer música, de cantar, de subir num palco ou ficar numa quina de parede num boteco me mostrando e distraindo os ouvidos de todos. Sempre muito prazer em beber da noite, em me satisfazer com essa boêmia. Acho que é porque parece ser a única forma de extravasar essas inspirações que me acometem desde a adolescência. Me sinto meio Billie Holliday. Mas antes a influência era o rock, era um respingo da geração revoltada dos desmandos e falcatruas do governo. Uma geração que ainda gritava muito e que mobilizada multidões, sem facebook, tumblr, twitter, orkut, blog, etc... Era gostoso acordar pro colégio ouvindo a Rádio Cidade ou a Fluminense tocando um Whitesnake, um Ozzy, um Iron... Mas essas rádios acabaram, e eu fui apresentada ao Blues, ao Jazz, ao Samba, à Bossa Nova, aos Novos Baianos, e um monte de gente que me fez despertar pra um outro mundo. E foi aí que eu descobri o que era expandir seus horizontes. Entendi "the doors of perception" e o nome da banda também. Me juntei a um seleto grupo de jovens que eram tão NERDs quanto eu e que estavam descobrindo um mundo. Estávamos lendo Noite na Taverna, Dom Casmurro, O Cortiço, 1984, Revolução dos Bichos, Don Quixote... Estávamos discutindo essas coisas, e parecíamos querer disputar quem queria saber mais. Éramos uns dementes, que boicotavam o colégio, desparafusando cadeiras, cortando fios de telefone e provocando curtos-circuitos pra queimar bebedouros, enceradeiras, computadores, etc... porque não nos deixavam ter um grêmio, ou algo parecido. Porque as mensalidades eram altas e, apesar de sermos bolsistas, não concordávamos MESMO com os valores. No fundo, a gente só queria reclamar.
Nessa época aprendemos a beber, a fumar, descobrimos o que era maconha... E achávamos tudo muito colorido, diferente e aquilo nos fazia criaturas más, respeitadas. Colocar fogo em um quiosque de palha no colégio foi o ápice. Éramos NERDs e éramos maus. Acabamos com o bullying.
Queria escrever mais sobre essas coisas, mas toda vez que tento expor uma parte dessas memórias, minha mente embola, e começo a pensar em como eu queria ser feliz de outra forma, nas minhas crises de consciência, na minha "culpa católica" que faço questão de carregar e não consigo mesmo abandonar.
Esse negócio de pensar muito pra escrever nunca foi minha praia. Os textos têm que ser furacões, tem que ter vida, força, magia...E não tem que ficar corrigindo muito, nem ajeitando toda hora, substituindo frases, palavras, verbos, adjetivos. Afinal, você tá querendo escrever mesmo ou tá querendo esculpir uma ideia? Nunca gostei dos Parnasianos. Adoro os Românticos, Simbolistas, Modernistas...Mas pára por aí, porque de pós-modernidade minha cabeça já anda cheia. Falar pós-moderno parece xingar a mãe. É quando você ouve ateus respondendo "Deus me livre".
Essas coisas que me preenchem e que me inquietam são tão fortes, tão viscerais, que eu nunca sei sobre o que eu quero MESMO falar ou escrever. Gosto de tantas coisas, e tantas ao mesmo tempo, e são tão gostosas, que nunca me decido. Acabo parecendo não ter a menor coerência... E sei lá, mas acho que a minha loucura não deve ser entendida não, embora eu quisesse muito mesmo, pra tentar achar uns loucos que nem eu e poder discutir umas ideias doidas, umas músicas de uma mente cheia de...

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